Desafios e soluções para o uso de bicicletas em São Paulo

Alex Antonio Florindo explica a necessidade de mais Planos Diretores nas cidades, buscando uma maior infraestrutura cicloviária

 17/12/2024 - Publicado há 3 meses
Por
A imagem mostra uma cena urbana com uma ciclovia vermelha à esquerda e uma faixa de pedestres à direita. Um ciclista usando capacete e mochila está pedalando na ciclovia. Ao lado, há duas pessoas paradas na calçada, uma mulher de cabelo castanho e um homem de terno. Na rua, há dois carros parados próximos à faixa de pedestres. Ao fundo, é possível ver prédios e árvores, além de algumas placas de sinalização.
Em áreas com escassez de espaços públicos, as ciclovias também são utilizadas para caminhadas e corridas durante o lazer – Foto: Marcos Santos/USP IMagens
Logo da Rádio USP

As bikes estão se tornando, cada vez mais, uma alternativa ao intenso trânsito da cidade de São Paulo, e não só uma forma de lazer e de prática de exercício físico. Alex Antonio Florindo, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, explica que ele e outros pesquisadores são responsáveis por um estudo longitudinal, projeto temático da Fapesp, acompanhando por volta de 1.500 adultos residentes de São Paulo, em diferentes regiões, entre 2014 e 2015. “Nós usamos dados públicos disponíveis para avaliar o entorno ambiental, por exemplo, praças, parques, ciclovias, o índice de caminhabilidade, violência. É um projeto que envolve uma equipe grande de pesquisadores da área de epidemiologia, geografia, nutrição e atividade física”, complementa.

Parte dos estudos mostra que o gênero e outros fatores influenciam diretamente o uso da bicicleta como meio de transporte — quem teve mais chance de usar bicicleta foram homens, que tinham a posse de bicicleta e que eram fisicamente ativos no tempo de lazer, evidenciando diversas variáveis determinantes para o uso da bicicleta como transporte. Por outro lado, o custo elevado de uma bicicleta e a insegurança urbana surgem como barreiras significativas.

Insegurança e infraestrutura

Alex Antonio Florindo – Foto: EACH-USP

A questão da segurança é um dos maiores obstáculos. “A insegurança não é só para o ciclista, também é para o pedestre. A insegurança afeta totalmente o uso da bicicleta e isso é um problema muito sério, porque temos indicadores muito altos de mortalidade no trânsito, e isso afeta diretamente quem quer iniciar o uso da bicicleta ou quer caminhar também como forma de deslocamento”, afirma. Segundo Florindo, o desrespeito por parte dos motoristas e a falta de educação no trânsito brasileiro — e principalmente paulista — o tornam um dos mais violentos do mundo e dificultam o crescimento desses meios de transporte ativos.

Outro ponto importante é a relação entre a infraestrutura cicloviária e o uso da bicicleta. Florindo ressalta que não basta construir ciclovias: elas precisam estar interligadas a grandes estações de transporte, como trens, Metrô e terminais de ônibus. “Em geral as pessoas não pedalam grandes distâncias, então têm mais chance de pedalar se tiver uma grande estação de transporte próximo da residência. Tem que ter uma estrutura planejada”, explica. O especialista ainda cita a importância de estruturas como programas de compartilhamento e estacionamentos de bicicletas.

Políticas públicas

Além disso, o uso das ciclovias não se restringe ao transporte. De acordo com a análise de dados do GeoSampa — uma biblioteca de dados ambientais, coordenada pela Secretaria de Urbanismo da Prefeitura do Município de São Paulo — no período de 2015 até 2020 foram observados que vários atributos relacionados às pessoas terem mais chance de praticar atividade física aumentaram na cidade paulistana. “Isso até foi resultado das políticas que foram implementadas, por exemplo, o Plano Diretor em 2014, que incentivava o aumento de ciclovias, parques, praças, isso deu certo. Porém, o que acontece? A gente ainda vê que a maior quantidade de ciclovias ainda permanece muito centralizada. Então tem uma iniquidade ambiental na cidade de São Paulo”, alerta.

Florindo complementa que, em áreas com escassez de espaços públicos, as ciclovias também são utilizadas para caminhadas e corridas durante o lazer. Esse uso compartilhado tem sido bem-aceito e ressalta a importância das ciclovias para a promoção de atividades físicas em diferentes contextos.

Contudo, segundo o professor, a única política pública que vem sendo implementada em alguns municípios brasileiros é a construção de ciclovias, que não é suficiente — ele defende que políticas públicas mais abrangentes são essenciais para promover o uso das bikes, incluindo incentivos fiscais para a compra de bicicletas, financiamento de programas de compartilhamento e a obrigatoriedade de Planos Diretores em cidades menores. “Primeiro seria importante organizar os Planos Diretores das cidades de forma melhor para isso, obrigando a construção de uma estrutura cicloviária que faça sentido, que faça ligação entre diferentes pontos da cidade. É um conjunto de ações. Claro, é primordial garantir o espaço de segurança e, de preferência, ciclovias que separem o ciclista dos motoristas, mas tem que ter outras políticas”, conclui.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.