De cadeirada em cadeirada faz-se a nova política das imagens

Giselle Beiguelman identifica nas manifestações de junho de 2013 o momento em que se dá a passagem da política que instrumentaliza as imagens para aquela que é feita a partir e de dentro da imagem

 Publicado: 23/09/2024 às 7:52

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“A cadeirada do duelo que entrou para a história das redes como “Dapena versus Boçal” consolidou o vale tudo das políticas da imagem, que nos desgovernam desde as manifestações de junho de 2013. Esse momento é chave para compreender a passagem da política que instrumentaliza imagens para aquela que é feita a partir e de dentro da imagem.” Com essa afirmação a professora Giselle Beiguelman dá início à sua coluna, que trata do poder da imagem no atual contexto da política. De acordo com ela, a possibilidade de ocupar as imagens é uma das principais dádivas da internet, dando direito à tela a todos que, “por séculos, foram excluídos do campo da representação, exceto quando apareciam como subjugados. Da pintura ao cinema, passando pela fotografia e a televisão, tornar-se imagem era, até os primeiros fotologs e a criação do YouTube, no começo dos anos 2000, algo para poucos e menos ainda para poucas”.

Ainda segundo a colunista, essa ocupação instaura um bem-vindo processo de canibalização das telas e cria todo um repertório de transgressão de cânones e protocolos estéticos, que ela analisou em seu livro Políticas da Imagem. “Mas o que nós estamos vivendo hoje é um efeito bumerangue, que foi mapeado pela professora Esther Hamburger nas manifestações de 2013, quando a ação política, que se dá nas ruas, passa a ser organizada como uma performance para se tornar imagem sincrônica nas redes e nos meios de comunicação tradicional. O aparato do candidato Pablo Marçal leva essas pontuações ao limite.” Daí a conclusão: “Difícil conjecturar que a cadeirada do candidato Datena foi planejada pelo Marçal. Mas é preciso ser muito ingênuo para não entender que o roteiro já estava pronto. Ele irritaria, como já havia feito com o candidato Boulos em outro debate, e provocaria a imagem, mais do que provocar o antagonista, e a sua equipe transformaria essas novas imagens em um novo viral das redes. E foi o que aconteceu.
Desse ponto em diante, vieram as imagens profissionais da TV Cultura, mas isso já era uma espécie de residual do jornalismo, correndo atrás do prejuízo e tentando formular uma nova periodização a.C/d.C, ou antes e depois da cadeirada, sem se deter no nervo da ação: o protagonismo dos candidatos ditos antipolítica tradicional. O principal já havia corrido as redes, numa espécie de 18 de Brumário revisitado, no qual a história se repete, agora primeiro como farsa e depois como meme!”.


Ouvir Imagens 
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio  USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e  TV USP.

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