A crise da democracia se reflete também na falta de interesse dos jovens pela política

José Álvaro Moisés atribui esse cenário a fatores como a falta de novas lideranças políticas, além de falhas do sistema educacional brasileiro e da incapacidade dos partidos de se comunicarem com o público jovem

 18/09/2024 - Publicado há 3 meses

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Os debates políticos das campanhas eleitorais, sobretudo em São Paulo, têm se revelado um show de horrores. O professor e cientista político José Álvaro Moisés atribui à falta de novas lideranças políticas a responsabilidade por boa parte dessa situação, o que, por sua vez, tem contribuído também para afastar os jovens da vida política da nação. “Por um lado”, argumenta o colunista, “o sistema educacional que nós temos não prepara os jovens para entender a significação do governo, a relação que o governo tem com os direitos deles, e é uma coisa contraditória, porque a Constituição brasileira de 88 e os políticos brasileiros deram o voto dos jovens a partir dos 16 anos, mas sem que isso tenha sido seguido de um tipo de estrutura que, de alguma maneira, informasse esses jovens o que é a democracia, qual o papel do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, de que maneira se articulam em relação aos direitos deles como jovens que estão entrando na vida adulta e que vão ter o papel de cidadãos”. Diante disso, boa parte dos jovens se vê sem nenhuma informação a respeito do que acontece no meio político e, portanto, sem capacidade de se interessar.

Um outro lado desse mesmo problema, aponta o colunista, está ligado às forças políticas, que deveriam ser capazes de mobilizar não só os jovens como a cidadania em geral. E essa incapacidade de se comunicar ele atribui aos partidos, que se fecham em si mesmos e são “dirigidos por oligarquias que se perpetuam – algumas vezes oligarquias de famílias, como nós sabemos” – e que acabam dominando a estrutura dos partidos durante anos. As pessoas precisam entender como funciona a democracia e sua complexidade, enfatiza o colunista, e daí a importância, nesse contexto, da educação. “Além da questão da cognição, você tem essa outra, que é da mobilização; mobilização, como nós sabemos, é feita pelos atores políticos, não cabe à universidade, à escola, nem mesmo às igrejas fazer mobilização, quem faz mobilização são as forças políticas e nós não estamos vendo isso acontecer no Brasil”, conclui.


Qualidade da Democracia
A coluna A Qualidade da Democracia, com o professor José Álvaro Moisés, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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