Em contrapartida aos assuntos sobre o meio ambiente físico, Paulo Saldiva foca agora no meio ambiente psíquico e econômico das famílias para abordar o tema da violência contra a criança. Esse tipo de caso possui significantes subnotificações, tanto pela ausência de diagnósticos nas escolas, pronto-socorros e hospitais quanto pelo receio dos familiares em testemunhar e notificar a violência, não obter uma estrutura de amparo e voltar ao mesmo ambiente vulnerável.
“Eu passo em frente ao Hospital Pediátrico todos os dias e escuto gritos e ameaças frontais para que as crianças se comportem, com ameaças importantes caso aquele comportamento não se modifique”, relata o colunista. Segundo ele, mesmo existindo lesões suspeitas em crianças nos pronto-socorros, “é difícil para um médico ou uma enfermeira decidir o que irá acontecer”, pois, se o diagnóstico estiver errado, a família da criança é prejudicada, e, se estiver certo, há o receio de represália em consequência da denúncia.
No que se refere às alternativas do impasse, Saldiva informa sobre o treinamento de profissionais da saúde, uma iniciativa na USP e o sistema de identificação da violência em parceria com o Ministério Público e com as delegacias especiais para assegurar que as denúncias não se transformem em vinganças. Ele ainda alerta: “Se as crianças aprenderem a linguagem da violência para educar e para serem educadas, se elas aprenderem que é assim que funciona, a probabilidade de que isso se perpetue na fase adulta dessas mesmas crianças submetidas à violência é muito grande”. “É o momento da gente fazer o diagnóstico mas também tentar o tratamento terapêutico”, finaliza.
Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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