
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que as vendas do comércio varejista se mantiveram estáveis em março de 2024, sem apresentar aumento ou queda significativa. Em fevereiro, o comércio chegou a uma alta histórica e o nível se manteve por mais um mês. A variação acumulada no ano, em relação ao mesmo período do ano anterior, chegou a 5,9%, e a receita do comércio varejista subiu 8,2% no mesmo período. O professor Claudio Felisoni, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo, explica melhor o motivo dessa crescente, o platô e o que podem indicar.

O professor expõe que alta nas vendas possui ligação com o controle da inflação pelo Banco Central, que indiretamente aumenta o poder de compra das famílias: “O que aconteceu nos últimos 12 meses foi a redução da inflação, graças à política do Banco Central visando à contenção da alta de preços que foi a majoração da taxa de juros. A partir de 2022, começou-se a reduzir essa taxa de juros, mas já com inflação bem-comportada e uma inflação menor tende a aumentar o poder de compra das famílias,” conta Felisoni. Além disso, a massa real de pagamentos também aumentou nos últimos 12 meses, o que contribui para uma crescente no poder aquisitivo da população, o que, por sua vez, impulsiona o comércio varejista a subir também. Já as vendas estáveis de março podem ter sido influenciadas também pela sazonalidade e as mudanças de tempo, para as quais o comércio varejista é muito sensível.
Os dois tipos de varejo
Na conta do IBGE, o comércio varejista é dividido em duas categorias: ampliado e restrito. Enquanto o ampliado engloba todas as vendas, o varejo restrito exclui as vendas do setor automobilístico (carros, partes e autopeças) e materiais de construção. “Se faz isso porque os tickets médios (média do preço das vendas) do segmento de veículos, partes e peças e de material de construção de modo geral são muito superiores aos tickets médios dos demais segmentos e, portanto, podem trazer uma falsa impressão da evolução. Compare, por exemplo, a venda de um veículo com a venda de uma geladeira, o veículo custa muitas vezes mais,” argumenta Claudio Felisoni.
Aumento com desconfiança

Segundo Nuno Fouto, também professor da Faculdade de Administração, Contabilidade e Atuária da USP, a alta e depois a estabilidade no varejo são vistas com cuidado pelo mercado, pois há uma série de aspectos que podem impulsionar a inflação novamente, o que pode derrubar o varejo. “Existe uma questão dos custos: os insumos estão aumentando e o varejo também pode usar mais ou menos do transporte, então entra gasolina também. Não só os insumos do produto em si, mas da matéria-prima e do que possibilita a distribuição”, expõe o professor.
Mas a grande desconfiança, segundo Fouto, está no controle dos gastos públicos. “Colocar mais dinheiro na economia, sem que o lado da oferta e da produtividade cresça muito, gera esse aumento de preço que não necessariamente é um aumento real, mas é um aumento de inflação mesmo. Eu acho que a gente está vivendo um ciclo de pouco cuidado monetário.” Uma política de investimento sustentável, com aumento de produtividade, é a chave para o controle da inflação e do crescimento econômico de longo prazo.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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