A Finlândia geralmente é apontada como o país mais feliz do mundo, enquanto a Suíça carrega o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); os Estados Unidos têm a maior economia, mas Luxemburgo tem o maior PIB per capita. Já o Índice de Progresso Social (IPS), criado por pesquisadores de Harvard e que pretende sanar lacunas dos outros índices, aponta a Suécia como líder mundial. São diversas tentativas de medir a qualidade de vida de uma população. O professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-RP) de Ribeirão Preto, explica a complexidade da questão e os pontos fortes e fracos dos índices.
A partir do entendimento de que os índices IDH e PIB, os mais difundidos, eram insuficientes para medir a qualidade de vida de uma população, o Índice de Progresso Social foi criado. Diferentemente dos outros, o IPS não se baseia em renda, medindo apenas questões como saúde, liberdade, segurança, moradia, entre muitos outros. Ele se baseia em três grandes guarda-chuvas: necessidades humanas básicas, alicerces do bem-estar e oportunidades.
O economista comenta: “É um esforço que vem ocorrendo para tentar capturar de forma mais correta o nível de bem-estar social das pessoas”. Ele diz que uma das críticas desses indicadores, como PIB per capita e IDH, que usam a economia nacional como parâmetro, é a questão da desigualdade. “Se está mal distribuído, uma boa parte da população acaba ficando excluída desses indicadores que são relevantes para afetar o bem-estar da população”, explica ele.
Por causa disso, alguns índices acabam sub ou supervalorizando alguns países. Luciano Nakabashi dá um exemplo concreto: “No caso de Cuba, você tem um país que é pobre, mas que as pessoas têm acesso à escolaridade, mais igualdade de renda, e isso é relevante”. Costa Rica é outro caso de uma economia tímida, mas que atua bastante em oferecer qualidade de vida para a população. Segundo o ranking do IPS, ela fica apenas ligeiramente atrás dos EUA, a grande economia mundial.
PIB x IDH
O Produto Interno Bruto (PIB) é um dos índices mais utilizados no mundo para diferentes funções. Ao medir as movimentações econômicas de um país, ele serve para indicar diferentes implicações, inclusive a qualidade de vida. A questão é polêmica: há, de acordo com o especialista, uma relação indireta, mas não necessária. Se um país é rico, geralmente a riqueza se traduz ao menos em parte em educação, saúde e bem-estar.
“Os países que têm um PIB mais elevado têm esses indicadores melhores no geral, mas não é uma medida direta”, afirma Nakabashi. Por exemplo, a Rússia tem quase o dobro de PIB per capita (PIB dividido pela população) do que o Brasil, mas está atrás do país no IPS. O fato de ser um regime autoritário, com liberdade restringida e medidas opressoras, por exemplo, é um fator que afeta o bem-estar da população, mas que nada tem a ver com economia.
Já o IDH veio para suprir essa demanda. O PIB per capita é um dos seus componentes, mas não se limita a ele. Além dele, o índice leva em consideração a expectativa de vida e educação média. “O IDH foi bastante difundido também pela questão da sua simplicidade de pegar elementos que são importantes, como escolaridade e saúde, além da renda”, diz o professor. Assim, apesar de modesto, ele condensa os principais aspectos de uma população satisfeita em dados facilmente auditáveis.
Metodologia importa
De acordo com Nakabashi, construir um índice é uma questão de escolhas de ganhos e perdas. Se, por um lado, o IPS ganha em complexidade e profundidade, por outro isso acaba por comprometer sua confiabilidade. “Você quer um indicador que capte bem a questão do bem-estar, mas que seja também relativamente simples”, resume ele. “Então, o IPS tem esse problema de ser mais complexo, de muitas vezes não ter variáveis que são confiáveis quando você vai pegando países de renda mais baixa, e aí você limita a comparação entre os países.”
Assim, o IDH e o PIB ganham em serem mais diretos ao ponto. Perdem em não serem tão amplos e não oferecerem uma relação direta com a qualidade de vida de uma população, mas servem bem para indicar tendências. Em geral, países com alta renda costumam performar positivamente em bem-estar social. Mesmo no ranking do IPS, que não leva renda em consideração, os países no topo são alguns como Finlândia, Noruega, Suíça e Dinamarca.
No fim, é uma questão de escolher entre abrangência ou confiabilidade. O IPS, para o especialista, “é uma proposta interessante por estar trazendo mais variáveis que são relacionadas ao nível de bem-estar”. Mas o IDH, sendo mais conciso, é uma âncora mais firme. Mesmo com certas distorções, a expectativa de vida é um indicador razoável da saúde de uma região, assim como a média de escolaridade representa bem o acesso à oportunidades. De forma geral, cada índice tem seus prós e contras e todos conseguem apenas capturar fragmentos da realidade.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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