Afinal, o que é cultura? Uma pergunta que não pode deixar de ser feita numa coluna que se dedica ao tema. Para respondê-la, Martin Grossmann apela para o intelectual canadense Marshall McLuhan, mas adverte, por sua vez, para que não se espere uma resposta direta e objetiva, “pois nossa intenção nesta coluna é a de problematizar justamente o entendimento do que denominamos de cultura, como já indica sua nomeação: Na Cultura, o Centro está em Toda Parte. McLuhan elabora o pensamento sobre cultura ao suscitar uma metáfora que chama a atenção a algo que é essencial, fundamental para a nossa sobrevivência: de certa maneira é o próprio meio ambiente no qual estamos, inexoravelmente, imersos. Para tanto, ele utiliza a metáfora do peixe, que surge com certa recorrência em seus escritos. Cito: ‘Os peixes não descobriram a água, pois, de fato, estão completamente imersos nela. Eles vivem sem saber de sua existência. Da mesma forma, como quando uma conduta é normalizada por um ambiente cultural dominante, ela se torna invisível’. E reforça: ‘Uma coisa sobre a qual os peixes não sabem exatamente nada é a água, já que eles não têm um antiambiente que lhes permita perceber o elemento em que vivem’. Nesse sentido, aqueles que pretendem entender, explorar, estudar, analisar a cultura, ou o nosso meio ambiente, utilizam-se de estratégias capazes de emular um ‘antiambiente’, instância essa que permite o exercício da pesquisa, da crítica e da poética a respeito da cultura”.
Mais adiante, com a intenção de politizar e socializar o entendimento de cultura, Grossmann se vale de uma pequena ajuda do sociólogo britânico, teórico cultural e ativista político Stuart Hall, “que indica que a cultura é constituída por (…) práticas vividas que capacitam uma sociedade, grupo ou classe a experimentar, definir, interpretar e dar sentido às suas condições de existência. Gostaria de frisar que a cultura não é sinônimo de arte, pois, muitas vezes, o entendimento de cultura passa pela ideia de que esta designa exclusivamente o processo de cultivo da mente ou até do espírito humano, se resumindo assim às práticas culturais genericamente consideradas como artísticas e seus instrumentos, meios ou mídias. Essa associação restringe e compromete o entendimento abrangente que brevemente expomos aqui. Para encerrar, reforço que nossa intenção, desde o início da coluna, em 2016, vem sendo o de explorar criticamente a complexidade da cultura”.
Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.
.