Colunista repercute aprovação da revisão do Plano Diretor de São Paulo

Guilherme Wisnik diz que o plano, da forma como foi aprovado, permite uma verticalização desenfreada da cidade, assim como elimina a dimensão da regra

 29/06/2023 - Publicado há 1 ano

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Uma tragédia para São Paulo. Assim o professor Guilherme Wisnik define a aprovação, pela Câmara Municipal, da revisão do Plano Diretor Estratégico de São Paulo. “Uma tragédia para quem defende, não apenas urbanistas, mas todas as pessoas que têm uma visão do direito público da cidade como o direito de todos, isso é, como a cidade como lugar onde a democracia deveria funcionar, organizando os fluxos, a renda da terra, o modo de se circular e de se morar e de se gozar os direitos da cidade.” Ao lembrar que o Plano Diretor é o grande instrumento legislativo que existe para essa regulação, observa que deve regrar também o mercado imobiliário, “porque a gente sabe – não é uma questão de demonizar o mercado imobiliário – que o mercado imobiliário é movido por interesses que estão estritamente ligados ao lucro, à especulação e à exploração […] o poder público não deveria deixar que isso acontecesse, isso é, que a cidade virasse um grande negócio apenas e que a lei do liberou geral dominasse o crescimento da cidade.”
Wisnik diz haver razões para pensar que a verticalização e o adensamento de uma cidade como São Paulo são importantes, tanto que o Plano Diretor de 2014 atuou nessa direção por algumas razões. “São Paulo é um lugar onde o preço da terra é alto, porque a economia gira, você tem terrenos muito valorizados. Foi criado ao longo de décadas um processo no qual as populações pobres foram sendo jogadas para as bordas, para as periferias, muitas em áreas de preservação ambiental e mananciais, gerando um espraiamento que não é nada bom para o funcionamento de uma cidade […] então, a defesa do adensamento da cidade, com base na verticalização, é legítima. E o Plano Diretor de 2014 tentou enfrentar com lógica esse problema, criando eixos de verticalização ao longo dos corredores de ônibus e das linhas de Metrô, portanto, elegendo a base do transporte público como base da verticalização da cidade.”
Ele explica que o atual substitutivo faz uma espécie de “liberou geral”, aumentando em muito a área de impacto ao redor dos corredores de ônibus e das estações de Metrô, permitindo uma verticalização desenfreada, tirando a dimensão da regra, “porque o Plano Diretor é regramento […] uma coisa é adensar a população ao longo dos eixos de transporte público, porque vão de Metrô ou de ônibus se deslocar, outra é você botar classes média e alta se beneficiando dessas benesses criadas pelo poder público e entupindo de carros essas mesmas regiões e piorando muito o trânsito e não adensando tanto”. Wisnik conclama a sociedade a continuar pressionando, “para que a cidade, como o direito coletivo, possa vir a ser afirmar contra as negociatas políticas”.

Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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