Há mais de uma década se sabe que a poluição atmosférica é capaz de produzir um pôr do sol bonito, mas isso, segundo o professor Eduardo Rocha, pode ser explicado cientificamente. É que a poluição é responsável por modificar as cores do céu, permitindo a observação direta dos contornos do Sol mesmo no meio do dia, além de permitir observação de cores inusitadas no céu, como combinações de cinza e vermelho no lugar do azul e suas nuances de violeta ao laranja. “Aerossóis ou material particulado, que são partículas suspensas no ar, originadas, por exemplo, nessas ocasiões de queimadas, que contêm carbono, nitrogênio, e, além de ardência e lacrimejamento, têm também efeitos físicos na atmosfera, bloqueiam e dispersam a passagem da luz, principalmente de alguns comprimentos de onda mais longos, tornando essa atmosfera mais escura, embaçada e bloqueando com mais intensidade algumas cores, criando esses novos padrões tanto no céu como no horizonte. Daí acaba vindo essa percepção de que, apesar de sufocante, seco e associado a um certo ardor ocular, principalmente no pôr do sol o céu acaba ficando com um aspecto diferente, quase que até bonito”, explica o colunista.
Além desses efeitos também está claro que a poluição aumenta o risco de doenças oculares, com potencial de reduzir a visão a longo prazo. “Estudos populacionais realizados tanto na Europa como na Ásia e publicados em 2024 mostram que o risco de degeneração macular relacionada à idade ocorre com mais frequência em pessoas expostas cronicamente à poluição. Os mecanismos ainda precisam ser melhor estudados, porque não parece haver uma ação direta desses poluentes sobre os tecidos mais internos dos olhos. Mas essa poluição, que envolve tanto material particulado como óxido nítrico e ozônio, pode induzir inflamação ocular, aumento da exposição cumulativa à radiação ultravioleta. Numa conversa recente e informal com colegas especialistas em retina, parece não estar havendo um aumento de casos de maculopatia solar, que ocorreria quando as pessoas olham exageradamente para o Sol.” De todo modo, Rocha alerta para o detalhe de que qualquer observação prolongada do Sol deve ser acompanhada de lentes para a proteção da retina. “Agora, cronicamente, a poluição e o excesso de ozônio produzido por ela estão associados à baixa de visão por degeneração na mácula. Devemos cuidar da natureza para evitar esse problema para nós, para os nossos semelhantes e também para as futuras gerações.”
Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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