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“Os sistemas de Inteligência Artificial estão tomando conta de várias áreas do nosso cotidiano “, observa a artista e professora, Giselle Beiguelman, em sua coluna Ouvir Imagens, da Rádio USP (clique e ouça o player acima). Esses sistemas, conhecidos por IA, que revolucionam o mundo contemporâneo estão, segundo ela, integrando também os métodos de gestão dos acervos dos museus. “E isso impacta não somente o trabalho das equipes institucionais, mas também o de pesquisadores que vêm pensando novas formas de interrogar e acessar arquivos e acervos.”

A professora cita, como exemplo, o trabalho da pesquisadora e artista egípcia Nora Al-Badri, que atua em Berlim. “Voltada às abordagens decoloniais, ela cruza especulações no campo da aprendizagem de máquina com arqueologia para mapear coleções de cinco museus etnográficos europeus, que são detentores de coleções de artefatos mesopotâmicos, neo-sumérios e assírios”, explica. Dessas coleções, a pesquisadora extraiu cerca de 10 mil imagens, que foram utilizadas para gerar objetos que são dinâmicos e mutantes.

Com essa integração com a Inteligência Artificial, Nora Al-Badri acredita que as suas novas peças evoluem como uma memória viva das imagens e que, apesar de perder sua materialidade no meio digital, são condicionadas pela materialidade dos objetos com suas texturas, ranhuras, cores e a pátina. Para a artista, o trabalho resulta em um tecnopatrimônio.

Como bem observa Giselle Beiguelman, é importante salientar que essas coletas foram feitas sem a autorização dos museus, a partir de buscas com IA. Ou seja, não deixam de ser um movimento de contra-apropriação do material dos grandes museus etnográficos europeus. “Esse tecnopatrimônio é, em si, um exercício crítico sobre a colonialidade embarcada não só nos museus, mas também nos sistemas de IA.”

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