Novas tecnologias são cada vez mais adaptadas ao ser humano

O ChatGPT, um “chatbot” que funciona com algoritmos inspirados no cérebro humano e é capaz de simular conversação entre pessoas, é um dos exemplos dessa tecnologia

 01/02/2023 - Publicado há 1 ano
É uma tecnologia que irá melhorar cada vez mais e de forma ainda mais rápida Foto: Gerd Altmann via Pixabay
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As pesquisas iniciais que deram origem ao que chamamos hoje de inteligência artificial tiveram início nos anos 50. Porém, naquela época, a tecnologia não era tão viável para alcançar os principais objetivos dessa inovação: gerar uma rápida transformação dos algoritmos para a adaptabilidade do sistema, a qual é a principal característica dessa ferramenta.

“O surgimento do deep learning foi o pontapé inicial, serve de base para o que estamos vendo acontecer”, diz Álvaro Machado Dias, neurocientista pós-graduado pela Faculdade de Medicina da USP, pesquisador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Neurociências Aplicadas da FMUSP (NAPNA) e membro do painel global de inovação tecnológica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

O ChatGPT é um assunto muito falado e Dias acrescenta que sua origem, além de acompanhar a linha do tempo de inteligência artificial, é baseada num paper, publicado pelo Google em 2017, chamado Attention is All you Need: “Esse artigo traz propostas de mudanças sobre como treinar o algoritmo, como criar as condições para que ele se adapte a nossas informações de maneira mais eficiente. Além disso, também trouxe algumas mudanças sobre a própria lógica de produção textual, que é o grande lance desses chatbots, que são algoritmos de processamento de linguagem natural”.

ChatGPT

Ele é um chatbot, ou seja, um software feito para simular a conversação entre pessoas. Ele pode responder perguntas, ter opiniões e até escrever rimas, poemas e textos. Entretanto, esse em específico, segundo Dias, possui um diferencial: “A diferença é que ele funciona melhor e o que faz ele funcionar melhor é o mecanismo de atenção, que é a base do paper. Nesse caso, o token, que é usado no processamento de muitas frases posteriores, consegue produzir períodos muito mais coesos e muito mais consistentes. Isso, naturalmente, vai dando a sensação de que tem uma consciência por trás”. 

Álvaro Machado Dias – Foto: Arquivo Pessoal

O ChatGPT funciona com algoritmos. Algoritmos são instruções e, no caso dos chatbots, são inspirados no cérebro humano e em organismos que aprendem. Porém, essa não é uma via de mão única: os usuários também se adaptam ao algoritmo, isto é, há uma algoritmização. Dias exemplifica esse processo com um estudo feito com taxistas em Londres: “Em 2000, foi feito um estudo com ressonância magnética funcional com taxistas londrinos e foi mostrado que o hipocampo, que é uma área alinhada à memória de longo prazo, era aumentado nesses profissionais por conta do esforço de se localizar no labirinto das ruas de Londres. Em 2017, foi feito um estudo de replicação e o que foi visto é que essa mudança tinha desaparecido e, na verdade, outras tinham surgido ali. O que separa os dois estudos? O surgimento do Waze e de outros sistemas que têm essa capacidade de geolocalização, de mostrar o caminho e recomendar direções, ou seja, tem um algoritmo decisório ali. É um sistema que transfere a tomada de decisão para a máquina”.

O ChatGPT está na sua terceira versão, mas uma quarta deve ser lançada em 2024, com melhorias na linguagem, para se adaptar ainda mais ao fluxo de uma conversa. Dias coloca que essa tecnologia irá melhorar cada vez mais e de forma ainda mais rápida: “O grande lance é pensar, não exatamente no impacto da versão atual, mas sobre o que vai acontecer nos próximos anos”.

Convivência

A inteligência artificial e seus algoritmos estão no cotidiano e tendem a estar em maior peso nos próximos anos. Dias é otimista quanto à convivência entre os usuários e os softwares e pontua que utilizar o cérebro de maneira produtiva e pensar ativamente é uma característica humana que não estaria em risco: “Essa amplificação do potencial de produção de informação e de processamento é encontrada, sobretudo, desde o surgimento da escrita na humanidade”.

Porém, ele alerta para a área da educação, que precisará se adaptar bastante. Quanto à parcela mais nova de alunos, será necessário pensar em maneiras de não deixar com que o estudante use esses sistemas para fazer lição de casa e, assim, não aprenda. Sobre o ensino superior, Dias comenta: “No nível da educação superior, como professores, a gente também vai ter que encontrar uma janela de oportunidade para pensar o fato de que essas ferramentas são absolutamente disseminadas e até encontrar usos positivos. Pelo menos eu sou muito favorável a essa ideia de que a gente deve buscar os aspectos positivos da tecnologia e não simplesmente tentar reprimir da maneira mais severa e rígida”.


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