A 3ª edição do USP Pensa Brasil 2024, cuja temática é COP 30: Desafios Para o Brasil, terá seu quinto e último dia de evento nesta sexta-feira (16). O tema de debate que encerra o evento é Existe um Desenvolvimento Verde? e contará com a participação de figuras como Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, Bia Saiz, presidente da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, Joênia Wapichana, representante de povos indígenas, Jéssica Maes, repórter de Meio-Ambiente da Folha de S.Paulo, e Ricardo Abramovay, da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública da USP e do Instituto de Energia e Ambiente.
Este também comenta o tema de antemão, aquecendo o debate que será realizado às 19h na Biblioteca Brasiliana da USP. Abramovay diz que vivemos uma “tríplice crise planetária”, referindo-se a um problema sério e multifacetado que afeta o clima, a biodiversidade e a poluição. Sobre como lidamos com a nossa existência neste mundo, ele diz que “nós vamos ter que repensar tudo”.
Distopia em vista
Em consonância com o que vem sendo debatido nos seminários do USP Pensa Brasil, Abramovay acha que a situação que o mundo se encontra é de calamidade e de consequências potencialmente catastróficas. As previsões científicas mais pessimistas têm se comprovado, com o mundo já batendo a marca de 1,5° e com uma perda de biodiversidade irrecuperável. Para acrescentar à discussão, o professor pretende trazer para a conversa desta sexta-feira um relatório do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas.
O relatório estuda como a humanidade usa os materiais dos quais depende a vida social (a biomassa, os minerais metálicos e não-metálicos, combustíveis fósseis, areia, argila, etc.). Ele aponta que a humanidade extraía da natureza 30 bilhões de toneladas desses materiais ao ano em 1970; hoje, se extrai 106 bilhões. “Isso significa que, em 1970, a humanidade usava, per capita, cerca de oito toneladas. Hoje, isso passou para algo em torno de 13 toneladas.” Ou seja, as pessoas de 2024 retiram da Terra 62% mais materiais do que as de 50 anos atrás.
Mudar para salvar
Mas seria um engano pensar que responsabilidade é dividida igualmente – afinal, os recursos não o são. Nos países de renda muito baixa, na Índia, na África Sub-Saariana, por exemplo, a média per capita é de quatro toneladas do uso desses materiais. Nos países de renda média, Brasil, China é de 19 toneladas. E nos países mais ricos do mundo é de 25 toneladas per capita. “Então, tem não só um problema ambiental, mas a ele está vinculado o problema básico das desigualdades, que é quanto dos recursos ecossistêmicos está indo para cada categoria social da humanidade”, afirma o professor.
Segundo ele, esses dados apontam para dois vetores alarmantes ao mesmo tempo: o exagero óbvio de extração e exploração terrestre e como os benefícios são injustamente divididos, mas os prejuízos compartilhados. “Nós vemos uma desigualdade gritante, cujo resultado é que as Nações Unidas preconizam não só desacoplar o crescimento econômico do uso de materiais, mas usar cada vez menos materiais.” Atualmente, os países concorrem para o crescimento econômico, o que, no modelo atual, necessariamente implica destruição da natureza. O que o professor sugere é que a humanidade chegou a tal ponto que não basta querer desacelerar a extração, mas parar como um todo.
As Nações Unidas já usam o conceito de “suficiência”, que vem para substituir a “eficiência” (8:34) no uso de materiais. Ou seja, não basta retirar os recursos de uma maneira melhor, mas sim encontrar uma forma de lidar com o que é suficiente. “Para quê esses materiais estão sendo usados? É para satisfazer necessidades básicas das pessoas, para que tenhamos uma vida social melhor em alimentação, em mobilidade, em energia, ou é para satisfazer aquilo que o Mahatma Gandhi chamava quase de luxúria, ou seja, um consumo tão alto de bens e serviços que não aumentam o bem-estar da humanidade, que nos exigem repensar a própria finalidade da oferta de bens e serviços no mundo contemporâneo”, questiona Abramovay.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.