
É muito comum ouvir falar em uso de anabolizantes, principalmente no meio esportivo. Mas o que são essas substâncias? São lícitas e seguras? Como são utilizadas? Ao responder a essas questões, a acadêmica Giovanna Bingre, orientada por Regina Andrade, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, conta, nesta edição do Pílula Farmacêutica, que a base dessas substâncias é o hormônio testosterona.
Giovanna diz que os hormônios são moléculas produzidas pelo organismo, com funções específicas e importantes para o funcionamento do corpo humano. E que, entre esses hormônios, a testosterona, que é produzida nos testículos e glândulas suprarrenais, se destaca por regular o comportamento sexual, promover o crescimento de ossos e músculos, aumentar a produção de pelos e a quebra de gorduras.
O aumento da quantidade de massa muscular ou de suplementar os níveis da testosterona nos homens na andropausa (quando os níveis do hormônio estão diminuídos) estão entre os efeitos responsáveis pela procura pelos esteroides anabolizantes, drogas sintetizadas com derivados da testosterona. Se receitado pelo médico, seguindo protocolos de saúde, o tratamento é legal; o mesmo não pode ser dito de outras formas de consumo para uso estético.
Ciclo para ganho de massa muscular
Segundo Giovanna, o aumento da massa muscular é obtido através de ciclos de uso da testosterona anabólica, os quais podem durar entre um e quatro meses, com um período de abstinência entre eles. Está disponível em comprimidos ou injetáveis, sendo comum sua comercialização em academias e farmácias no Brasil.
Com resultados notados relativamente cedo (ganho de massa muscular e diminuição da gordura corporal), as pessoas “chegam a pensar que o uso de anabolizantes compensa”, diz a acadêmica, alertando para as consequências graves que a “bomba” pode trazer.
Doenças causadas pelos esteroides
Giovanna conta que, logo depois de um mês de uso, “pode ocorrer a hipertrofia do coração”, ou o aumento do tamanho do músculo cardíaco. Mesmo voltando ao normal, depois de mais ou menos um ano, o coração “perde força e isso é irreversível”, alerta, além de poder causar aumento da pressão arterial e alterações do colesterol e triglicérides.
O coração aumenta de tamanho, mas os testículos podem diminuir e não conseguir produzir espermatozoides devidamente. A libido também pode ser comprometida. O resultado pode ser impotência, infertilidade e problemas cardíacos.
A acadêmica lembra ainda que o fígado pode ser afetado, por metabolizar um hormônio não produzido pelo organismo, e, dependendo das dosagens utilizadas, pode também aumentar as chances do desenvolvimento de câncer de fígado. Outro mal citado por Giovanna é o aparecimento de ginecomastia em homens usuários de anabolizantes ou o aumento das glândulas mamárias.
Nas mulheres, o uso do hormônio masculino pode trazer calvície, acne, mudança no timbre de voz e infertilidade. Também pode apresentar efeitos psiquiátricos, também observados nos homens, com aumento da agressividade, impulsividade, perda de memória e diminuição da capacidade cognitiva.
Como efeito da abstinência do anabolizante, a acadêmica lembra que os ex-usuários passam a sofrer com hipogonadismo ou mal funcionamento das glândulas que produzem naturalmente esses hormônios. E os sintomas são: cansaço, fraqueza e, consequentemente, dependência do hormônio sintético.
Riscos do consumo de produtos sem controle de qualidade
“A maioria dos anabolizantes é contrabandeada ou feita em laboratórios clandestinos e, por causa disso, eles não têm garantia da Anvisa”, alerta Giovanna. Para garantir resultados positivos, estéticos e de saúde, a acadêmica recomenda ficar longe das “bombas” e procurar por acompanhamento profissional – médicos, nutricionistas especializados em esportes e educadores físicos.
Atingidos da forma certa, “com esportes e boa alimentação”, os resultados garantem, segundo a acadêmica, “benefícios para o corpo e para o psicológico, aumentam a performance em esportes, melhoram o sono, previnem doenças e ajudam a melhorar transtornos como a ansiedade e a depressão”.