
O rápido crescimento da nanotecnologia, com avanço nas mais diferentes áreas, chama a atenção da comunidade científica. É que a alta demanda comercial pelas nanopartículas de prata, por exemplo, pode vir acompanhada de riscos ambientais e para a saúde humana, principalmente quanto ao descarte desses compostos.
Para entender um pouco mais sobre o tema, nesta edição do Pílula Farmacêutica, a acadêmica Kimberly Fuzel, orientanda da professora Regina Andrade, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, conta os motivos da preocupação dos especialistas.
As nanopartículas, explica Kimberly, são “partículas que possuem tamanho entre 1 e 100 nanômetros, ou seja, são partículas bem pequenas. O nanômetro corresponde à bilionésima parte do metro ou à milionésima parte do milímetro, e a palavra nanotecnologia vem do grego, onde o prefixo nano significa “anão”. As nanopartículas de prata têm entre 1 a 100 nanômetros e carregam cerca de 15 a 20 mil átomos de prata.
Apesar da dimensão tão pequena, argumenta a acadêmica, a grande quantidade de átomos de prata faz com que essa nanopartícula tenha “uma grande área superficial que eleva a velocidade de formação de íons de prata”. Por apresentar características antimicrobianas e fungicida, as nanopartículas de prata “têm sido usadas em um vasto campo de aplicações na medicina, na biotecnologia, em cosméticos, na indústria têxtil, em produtos eletrônicos e também na área alimentícia”.
É nesse ponto que as preocupações surgem, garante Kimberly, já que o aumento da utilização das nanopartículas de prata vem acompanhado por igual “aumento de nanopartículas sintetizadas, processadas e descartadas, em proporções que aumentam cada vez mais, e isso pode levar a um aumento nos níveis tóxicos de prata no meio ambiente”.
A acadêmica admite que são inegáveis os benefícios dessa tecnologia para “o sistema de entrega de fármacos”, por exemplo, quando a substância ativa do medicamento é levada para locais específicos e inacessíveis do organismo. Mas existe a preocupação quanto aos efeitos nocivos ao meio ambiente e para a saúde quanto à exposição a essas nanopartículas, já que alguns estudos observaram “o potencial de bioacumulação que as nanopartículas de prata têm em vários organismos, como biofilmes e Mytilus edulis, que é um mexilhão marinho” e outros seres aquáticos.
Experimentos mostraram ainda toxicidade em células de ratos (fígado e cérebro) e células epiteliais de pulmão humano, além de “existirem fortes evidências de que micro-organismos e plantas são capazes de concentrar materiais nanoparticulados, o que aumenta o potencial de acumulação de nanopartículas de prata na cadeia alimentar”, diz Kimberly.
Existem também pesquisas que apontam falta de crescimento, multiplicação e até a morte celular, dependendo das concentrações das nanopartículas, o que sugere “possíveis implicações na reprodução, na saúde humana e ambiental”. Segundo a acadêmica, esses resultados mostram que “ainda são necessários mais estudos para ter um conhecimento maior sobre a toxicidade, disponibilidade e degradação dessas nanopartículas para poder afirmar sua segurança e serem utilizadas de forma que não causem nenhum dano ao ser humano e ao ecossistema”.
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