Mosaicos Culturais #65: Música e obra para teatro tematizam a opressão à liberdade de expressão

Ouvintes da Rádio USP podem agora ouvir a clássica canção de Chico Buarque, que sofreu repressão e censura, que ecoava nos fones de ouvido de Bruno Nogueira, estudante de Licenciatura em Música na USP

 Publicado: 19/07/2024
Mosaicos Culturais - USP
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Mosaicos Culturais #65: Música e obra para teatro tematizam a opressão à liberdade de expressão
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Música no teatro

Francisco Buarque de Hollanda, conhecido como Chico Buarque, é um ícone multifacetado: cantor, compositor, violonista, dramaturgo, escritor e ator. Considerado o maior artista vivo da música brasileira, sua discografia conta com aproximadamente oitenta obras, entre discos solo, parcerias e compactos. Filho de Sérgio Buarque de Hollanda, renomado historiador e jornalista, e primo distante de Aurélio Buarque de Hollanda, lexicógrafo e tradutor, Chico abandonou o curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) para se dedicar integralmente à carreira artística.  Seus primeiros sucessos, Sonho de um Carnaval e Pedro Pedreiro, marcaram o início de uma trajetória brilhante. Ao longo de sua carreira, ele foi agraciado com 11 troféus nas categorias de Melhor Canção em Língua Portuguesa, Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, Melhor Vídeo Musical em Formato Longo, Melhor Álbum de Cantor-Compositor e Álbum do Ano do Grammy Latino.

Roda Viva: a peça e a canção

Tanto a música quanto a peça teatral Roda Viva, ambas de Chico Buarque, abordam de forma incisiva a opressão à liberdade de expressão e a sociedade de consumo.

Cartaz da peça teatral Roda Viva, de Chico Buarque, 1968. Foto: Reprodução

Roda Viva foi a primeira peça teatral, escrita pelo músico e estreou no Rio de Janeiro em 1968, mesmo ano do lançamento da canção homônima. O enredo acompanha a ascensão e queda de Ben Silver, um ídolo que se adapta às tendências da nascente sociedade massificada. O clímax da peça ocorre quando a indústria cultural descarta o cantor em favor de sua namorada, Juliana, que adere ao movimento da Tropicália (com informações da Enciclopédia Itaú Cultural). De acordo com Virgínia Leone Bicudo, a mensagem da produção é uma crítica à autodestruição humana provocada por uma engrenagem social em roda-viva que aniquila os desejos individuais.

A obra se tornou um símbolo de resistência contra o regime militar, especialmente após o ataque no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo. Membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiram o teatro, agrediram os artistas e destruíram o cenário. No dia seguinte, Chico Buarque estava na plateia, defendendo Roda Viva e protestando contra a censura nos palcos brasileiros (com informações da Wikipédia).

Capa do álbum Chico Buarque de Hollanda Vol. 3, de Chico Buarque, 1968

A canção Roda Viva reflete o contexto pessoal de Chico Buarque durante a ditadura militar. As grandes turbulências nacionais de 1968 intensificaram a violência do regime. O assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto (1950-1968) por policiais militares gerou uma comoção nacional, e seu velório foi um dos maiores atos políticos da época. Além disso, a “Passeata dos 100 Mil”, um protesto que reuniu artistas, estudantes, religiosos e o líder do movimento civil Vladimir Palmeira, exigia o fim da ditadura. Em resposta, os militares decretaram o Ato Institucional nº 5 em dezembro, suprimindo a liberdade de expressão e os direitos políticos da população. Em 1969, um ano após o lançamento do álbum, Chico Buarque se exilou na Itália por 14 meses, devido às ameaças constantes resultantes de sua participação na “Passeata dos 100 Mil” e da peça Roda Viva, considerada subversiva (com informações da Wikipédia, Acervo Estadão, Globo e Folha de S. Paulo).

“A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá”
Trecho da canção “Roda Viva”, 1968.

Curiosidade: Em 2019, a peça recebeu nova versão de José Celso Martinez Côrrea (1937 – 2023).

Ao som de Roda Viva, Bruno Nogueira, estudante de Licenciatura em Música na Escola de Comunicações e Artes da USP, participou da enquete do programa Mosaicos Culturais, da Rádio USP. O acompanhamento de samba, o coro inicial e o arranjo vocal destacam a letra inesquecível sobre a censura em 1968, durante a ditadura militar.
Saiba e ouça mais sobre Chico Buarque aqui.

Ouça o podcast no link acima

O programa celebra a diversidade cultural, a riqueza da música brasileira e cria um senso de comunidade. O objetivo é dar voz aos estudantes da USP por meio de entrevistas sobre gostos e percepções musicais . Este podcast reproduz a experiência de escuta no programa Mosaicos Culturais – Ouça o Que Estudantes Ouvem , transmitido nos dias 17 e 18 de julho de 2024.

Se você deseja se juntar a nós nessa jornada musical, basta enviar um áudio compartilhando as melodias que embalaram seus dias e também as próprias interpretações sobre a interseção entre música e cinema. Estamos ansiosos para ouvir sua contribuição! Sua participação é essencial para enriquecer nosso dropes!
Entre em contato conosco pelo número do nosso WhatsApp: (11) 972815789.

Por Regina Lemmi
Estagiária sob supervisão de Magaly Prado


Mosaicos Culturais
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Mosaicos Culturais
vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 11h e às 16h na Rádio USP (93,7 MHz, em São Paulo, e 107,9 MHz, em Ribeirão Preto), e ainda via internet, através do site da emissora no link jornal.usp.br/radio/. É possível também sintonizar a versão podcast pela internet em jornal.usp.br/podcasts/ Todos os episódios de Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem estão disponíveis na página de seu arquivo neste link.

Apresentação e edição: Caroline Kellen
Identidade sonora e produção: Bruno Torres
Edição: Cid Araujo
Supervisão: Magaly Prado

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