
A genialidade de Chico Buarque reside na maestria com que ele entrelaça crítica social e poesia. A morte do trabalhador, banalizada pelo ritmo acelerado da cidade, serve como metáfora para a desumanização e a invisibilidade dos mais marginalizados na sociedade.

Universal Music (a partir de 1999). Foto: Divulgação
O álbum do cantor e compositor Chico Buarque estreou junto com a música em 1971. Construção se tornou um marco da música popular brasileira, eternizando-se como a segunda melhor canção nacional, segundo enquete realizada em 2001 do jornal Folha de S. Paulo, atrás apenas de Águas de Março de Tom Jobim. A revista Rolling Stone a consagrou como a “maior canção brasileira de todos os tempos”.
“… Morreu na contramão atrapalhando o sábado / o tráfego / e o público”
A letra foi composta em versos dodecassílabos, alternando sempre e terminando numa rima proparoxítona. A complexa estrutura poética se contrapõe à simplicidade dos acordes com extasiantes arranjos do maestro Rogério Duprat no uso destacado de uma orquestra sinfônica sublinhando a melodia com crescente intensidade, seguindo uma lógica de repetição à medida que se sucedem as imagens da história acentuando a impotência e a dor diante da tragédia.
A narrativa, circular, retrata o cotidiano de um trabalhador da construção civil morto – de maneira trivial – no exercício de sua profissão criando um efeito hipnótico que intensifica a carga dramática da canção.
O Brasil estava em plena era da ditadura militar (1964-1985) sob o comando do General Emílio Garrastazu Médici. Embora Chico Buarque tenha negado a intenção de fazer uma música de protesto, Construção se tornou um hino de resistência contra a opressão e a indiferença. A canção transcende o tempo e o espaço, ecoando como um lamento pela vida ceifada e um chamado à reflexão sobre a fragilidade da existência humana.
O grupo MPB-4 participa do coro musical. Após o último verso do terceiro bloco, surge uma reprise com três estrofes de Deus lhe pague, canção que abre o disco Construção. Gravado no Estúdio Phonogram, teve direção de produção e de estúdio de Roberto Menescal. Os técnicos de gravação foram Toninho e Mazola, e a direção musical de Magro.
Enquanto ouvia Construção, Amaral, estudante de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP, participou da enquete do programa Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem, da Rádio USP. Amaral nos disse que Construção é a cara de São Paulo, a cidade do trabalho.
Ouça o podcast no link acima.
Os estudantes da USP podem participar de Mosaicos Culturais. Basta gravar um áudio respondendo à pergunta “O que você está ouvindo?” e enviá-lo para a Rádio USP (WhatsApp [11] 97281-5789).
Este podcast reproduz o programa Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem, transmitido nos dias 1 e 2 de maio de 2024. O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 11h e às 16h, pela Rádio USP (93,7 MHz, em São Paulo, e 107,9 MHz, em Ribeirão Preto), inclusive via internet, através do site da emissora. O programa também é publicado em formato de podcast no site do Jornal da USP.
As edições anteriores de Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem estão disponíveis neste link.