Momento Tecnologia #85: Fungos com capacidade fotoprotetora da Antártida

Neste episódio, Ana Carolina Jordão comenta pesquisa com benefícios de fotoproteção e imunomodulação

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 20/06/2023 - Publicado há 1 ano
Momento Tecnologia - USP
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Momento Tecnologia #85: Fungos com capacidade fotoprotetora da Antártida
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Durante uma prospecção por fungos com potencial biológico na Antártida, em 2015, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP coletaram a alga Phaeurus antarticus, de onde cresce o fungo Arthrinium sp. Ao analisarem o fungo, descobriram metabólitos secundários, ou seja, compostos naturais, que provam sua capacidade fotoprotetora, além das suas propriedades antioxidantes e menor impacto ao meio ambiente.

“Estamos em processo de finalização da parte de segurança do produto, ou seja, se ele poderia ser utilizado de forma correta em formulações de protetores solares”, conta Ana Carolina Jordão, pesquisadora da FCFRP. Segundo ela, as principais vantagens em utilizar metabólitos fúngicos em medicamentos e cosméticos são a facilidade de fermentação em larga escala e ser uma alternativa de origem natural.

Ana complementa anunciando que o Laboratório de Química Orgânica do Ambiente Marinho do Núcleo de Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos (NPPNS) está aberto para acordos comerciais pelo uso dos metabólitos em algum produto e pelo incentivo aos testes clínicos.

O primeiro passo no processo de isolamento dos metabólitos secundários do fungo é coletar pedaços da alga e cultivá-los em uma placa de Petri, instrumento laboratorial designado para observação. Após o cultivo em escala maior, chamado de fermentação, é feita a extração, como explica Ana: “No fungo, jogamos solvente orgânico, como etanol, metanol, acetato de etila. É a partir desse extrato que encontramos os metabólitos secundários”. Os metabólitos secundários são produtos naturais dos fungos, que embora não sejam essenciais para a sua sobrevivência, facilitam-na. Os metabólitos antifúngicos, por exemplo, ajudam na competitividade por alimentos e outras relações desarmônicas ecológicas.

Em seguida, são feitos testes no extrato produzido, como absorção de raios ultravioleta na pele, segurança dérmica de contato e degradação na recepção de luz. A pesquisadora informa que o produto também é testado em células específicas da pele, a exemplo dos queratinócitos, de modo a verificar se promove riscos nas variadas composições da pele.

A expedição prospectora, realizada na Antártida, teve motivo específico, de acordo com a pesquisadora. Com o desaparecimento da camada de ozônio na região, proteção fundamental na radiação ultravioleta, a exposição à luz solar contribui no aumento de distúrbios relacionados à pele humana.

A Antártida, mais vulnerável à penetração de raios solares, possui espécies que necessitam de fotoproteção natural para a sobrevivência. Entre elas, está a alga Phaeurus antarticus, que origina o fungo Arthrinium sp. “Esses fungos precisam de alguma coisa para se proteger dessa radiação ultravioleta. Então, pensamos: ‘Se ele produz para ele, também pode produzir para gente'”, revela a pesquisadora.

Outro diferencial do fungo antártico é a produção de substâncias antioxidantes. Os raios solares, além de danificarem a pele diretamente, ainda geram composições oxidantes. Tais compostos, em contato com a pele, produzem irritação e queimaduras. “Assim, poderemos ter substâncias que nos protegem da radiação solar, ao mesmo tempo que acaba com as moléculas oxidantes”, afirma ela.

Os testes também revelaram o potencial imunomodulador do fungo, isto é, a capacidade de modular o sistema imunológico humano. Um dos metabólitos derivados pelo fungo colabora no equilíbrio do metabolismo oxidativo dos neutrófilos, células que compõem a primeira linha de defesa do organismo e desempenham papel importante nas respostas inflamatórias agudas.

Diante do elevado índice de radiação solar, a falta de prevenção pode incluir as seguintes consequências: lesão nas estruturas do sistema tegumentar, fotoenvelhecimento prematuro da pele, flacidez, rugas e danos estruturais ao DNA – com a possibilidade de levar ao câncer de pele. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, a exposição solar excessiva é o principal fator de risco para o tumor.

Os raios ultravioleta penetram na atmosfera terrestre com comprimentos de onda variados. Enquanto apenas 5% dos raios UVB (comprimento médio) atingem a superfície terrestre, mais de 90% dos raios UVA (comprimento longo) permeiam a pele humana, sendo responsáveis por causar queimaduras solares, fotoenvelhecimento e alcançar a derme, a camada intermediária da pele.


Momento Tecnologia
Produção: Felipe Bueno J. Perossi
Edição de som: Felipe Bueno
Produção geral:  Cinderela Caldeira
E-mail: ouvinte@usp.br
Horário: Quinzenalmente, terças-feiras, às 8h35

O Momento Tecnologia vai ao ar na Rádio USP, quinzenalmente, terças-feiras, às 8h35 – São Paulo 93,7 MHz e Ribeirão Preto 107,9 MHz e também nos principais agregadores de podcast  Veja todos os episódios do Momento Tecnologia

 

 


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