Momento Tecnologia #64: Palinologia forense

Parceria entre a USP e a Polícia Federal permite aplicação do estudo do pólen em investigações criminais

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 15/03/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 18/08/2022 as 12:18
Momento Tecnologia - USP
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Momento Tecnologia #64: Palinologia forense
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Um acordo recente entre a Polícia Federal brasileira e o Instituto de Geociências (IGc) da USP visa expandir o uso da palinologia — área da ciência botânica que estuda os grãos de pólen — como recurso em investigações criminais. Outro objetivo da parceria, que foi estabelecida em dezembro de 2021, é capacitar profissionais da segurança pública para atuação forense. 

O pólen, estrutura reprodutiva das plantas com flores e também dos pinheiros, adere com facilidade a superfícies e pode ser conservado de forma descomplicada. Através da análise do material palinológico presente em evidências criminais, pesquisadores são capazes de cruzar as informações do pólen com dados de biomas típicos para determinar a trajetória de pessoas ou objetos suspeitos. 

Segundo o professor do Instituto de Geociências, Paulo de Oliveira, a grande variedade de biomas no território brasileiro facilita esse processo: “Somente no estado de São Paulo, existe a vegetação de praia, a restinga e a mata mais alta, apesar de que tudo isso pertence ao domínio da Mata Atlântica. Além disso, há os manguezais, uma vegetação muito específica com características ambientais muito claras”.

Um dos propósitos do acordo de cooperação com a Polícia Federal é rastrear rotas do tráfico de drogas na América do Sul, com base em apreensões de material ilícito em portos brasileiros. Em 2021, apenas no estado de São Paulo, foram confiscadas 164 toneladas de drogas, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública paulista. “A ideia inicial partiu do doutor Fábio Salvador, perito criminal federal no Paraná. Como nós trabalhamos com produtos de origem ilícita, tudo precisa ser documentado, e não entra droga na Universidade”, conta Cynthia Ramos, doutoranda no IGc e uma das responsáveis pelo projeto. “Nós analisamos, também, as embalagens da droga, que podem trazer informações sobre o seu transporte: como ela chegou ali no porto? Ela veio de barco, de caminhão? Por onde ela passou até chegar ao Brasil?”, completa a pesquisadora.

Segundo Cynthia, o processo de análise começou antes mesmo de os pesquisadores da USP terem acesso ao material traficado, uma vez que o método de pesquisa exigiu diversos testes. “As amostras vêm com muita fita adesiva, então eu precisei desenvolver antecipadamente uma metodologia para extrair o grão de pólen da cola. Isso envolve todo um tratamento químico”.

Em entrevista ao Momento Tecnologia, o perito criminal Fábio Salvador — citado por Cynthia como idealizador do acordo — detalhou a importância da aproximação entre a segurança pública e núcleos de pesquisa, como as universidades. “Essa forma de entender o pólen como um vestígio muito poderoso para rastrear ocorrências é relativamente recente no Brasil, então eu e meus colegas [da Polícia Federal] precisamos nos especializar nisso. O conhecimento que o professor Paulo e a Cynthia adquiriram durante anos de pesquisa pode ser repassado para nós, para entendermos como coletar amostras, como preservá-las, como transportá-las da melhor maneira possível para que especialistas as analisem”.

“Nós nunca devemos sair da universidade. Ninguém. E no ramo das ciências forenses isso é muito claro. Nós precisamos continuar aprendendo a cada minuto as novidades tecnológicas, as novidades científicas, as possibilidades que existem da aplicação da ciência no combate ao crime”, finaliza Salvador. 


Momento Tecnologia
Produção: Felipe Bueno J. Perossi
Edição de som: Felipe Bueno
Produção geral:  Cinderela Caldeira
E-mail: ouvinte@usp.br
Horário: Quinzenalmente, terças-feiras, às 8h35

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