
Desde o início da pandemia, há necessidade de se descobrir onde o coronavírus está circulando para que recursos de combate à propagação possam ser destinados a áreas específicas. Em São Paulo, a cidade brasileira com o maior número de infecções pela covid-19 – os números oficiais ultrapassam os 300 mil diagnósticos -, esse tipo de informação se torna ainda mais valioso. Pensando nisso, o SoroEpi MSP, projeto que conta com pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, visa a estimar o porcentual de pessoas infectadas pelo novo coronavírus em diferentes regiões do município, periodicamente.
A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo acompanha o projeto de perto. Isso possibilita que a pesquisa cumpra seu principal objetivo: prover condições para que políticas públicas sejam formuladas de maneira mais assertiva. Beatriz Helena Carvalho Tess, professora da Faculdade de Medicina da USP e parte do time de pesquisadores do SoroEpi MSP, comenta o processo: “O objetivo principal do projeto sempre foi gerar dados robustos sobre a porcentagem da população adulta, moradora do município de São Paulo, que foi infectada e produziu anticorpos para o vírus. E essa porcentagem é o que a gente chama de soroprevalência, prevalência de anticorpos nas pessoas que se infectaram e já tiveram tempo para produzir os anticorpos, que é um marcador de proteção”.
Ao todo serão realizadas seis pesquisas consecutivas, espaçadas por intervalos de cinco semanas. Dessa forma, será possível amparar as autoridades com dados atualizados. Os resultados da fase 4, relativos às testagens realizadas entre 1° e 10 de outubro, apontam que 26,2% das pessoas submetidas à pesquisa possuem anticorpos contra a covid-19. Ou seja, mais de 3 milhões de paulistanos já contraíram a doença.
No entanto, essa soroprevalência não está distribuída de maneira homogênea na capital paulista. De acordo com os dados, enquanto os bairros mais ricos da cidade têm 21,6% de sua população atingida, os mais pobres têm 30,4%. Os números jogam luz sobre um problema enraizado no sistema de saúde paulista, e no brasileiro como um todo, a desigualdade. A professora Marília Cristina Prado Louvison, da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica: “A desigualdade em saúde, tanto no Brasil como em São Paulo, é imensa. Então, a pandemia simplesmente revelou as desigualdades e não as inventou. Há muito tempo que se estuda e que se olha para a constituição do nosso país, de como as diferenças sociais e culturais determinam diferentes modos de adoecer e de morrer. O que a desigualdade nos diz é que as pessoas precisam de coisas diferentes das políticas públicas; e que as políticas públicas têm que responder de formas diferentes há essas necessidades”.
Momento Tecnologia
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