
Popularmente conhecida como “lábio leporino”, a fissura labiopalatina é uma malformação mais comum do que se imagina. A prevalência no Brasil é de uma a cada 650 crianças nascidas. Apesar de ser cada vez mais frequente sua descoberta durante a gestação, a chegada de um bebê com fissura ainda provoca um choque e angústia aos pais e familiares.
Segundo a professora Cleide Felício de Carvalho Carrara, odontopediatra e assistente técnica de direção do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP em Bauru, a fissura labiopalatina é uma condição congênita em que há comprometimento da fusão dos processos faciais entre a quarta e oitava semanas de gestação. A fissura pode atingir diferentes estruturas, além de variar em forma e extensão. Pode ser uma fenda somente no lábio, atingindo ou não o nariz e a região dos dentes, acometer somente o palato (céu da boca) ou simultaneamente lábio e palato.
As causas não estão ainda totalmente esclarecidas, mas a fissura labiopalatina pode estar relacionada a fatores genéticos e ambientais, como deficiência nutricional da mãe, exposição da gestante a agentes tóxico-infecciosos, estresse e radiação ionizante durante o período de formação do bebê. Após o nascimento, o foco principal é o cuidado nutricional, visando ao ganho de peso e a um bom desenvolvimento global que favoreça condições para as primeiras cirurgias.
As principais implicações que as fissuras podem trazer ao indivíduo são dificuldade na alimentação, alterações na arcada dentária e na mordida, comprometimento do crescimento facial e do desenvolvimento da fala e da audição. Ao longo dos anos, essa condição pode inclusive trazer impactos sociais e emocionais, como o bullying. Quando não está associada a síndromes e outras anomalias, a fissura não impedirá que a criança se desenvolva intelectualmente, podendo frequentar a escola, ter atividade social e depois profissional.
O tratamento da fissura labiopalatina é um processo que se inicia desde o nascimento, seguindo durante o período de desenvolvimento e, dependendo do acometimento, até a fase adulta. As áreas de cirurgia plástica, odontologia e fonoaudiologia são consideradas o tripé do tratamento da fissura. No entanto, a equipe de apoio é indispensável para a reabilitação. Envolve áreas e especialidades como pediatria, genética, otorrinolaringologia, psicologia, fisioterapia, enfermagem, nutrição, serviço social, entre outras.
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