Minuto Saúde Mental #88: Dá para confundir doença de Alzheimer com depressão?

Segundo especialista, a resposta é sim, já que a diferença pode estar nos detalhes ou o paciente apresentar os dois transtornos ao mesmo tempo

 20/06/2024 - Publicado há 1 mês     Atualizado: 03/07/2024 as 12:10
Minuto Saúde Mental - USP
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Minuto Saúde Mental #88: Dá para confundir doença de Alzheimer com depressão?
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Para o podcast Minuto Saúde Mental desta semana, o professor João Paulo Machado de Sousa entrevistou o psiquiatra Marcos Hortes Chagas, especialista em psicogeriatria (área da medicina que lida com problemas psiquiátricos em pacientes idosos) para responder à pergunta de um ouvinte: “Dá para confundir doença de Alzheimer e depressão?”.

Sousa conta que o psiquiatra Chagas começa explicando cada um desses transtornos. “A depressão é conhecida como um transtorno de humor em que a principal alteração está no modo como a pessoa se sente. Suas características mais importantes são humor deprimido e tristeza, falta de prazer em atividades que geralmente a pessoa gostava, perda de interesse (apatia), pensamentos negativos, diminuição de energia, alteração de sono (insônia, principalmente acordar mais cedo que o habitual), diminuição ou aumento de apetite, dificuldades de concentração e até pensamentos de morte – que podem levar ao suicídio.”

Já a doença de Alzheimer, continua, “é um transtorno neurocognitivo, o que significa que a principal alteração é na cognição, ou seja, naqueles processos que permitem que a gente perceba e compreenda o mundo à nossa volta”.

O declínio da memória é o mais importante fator do Alzheimer, com perda progressiva por causa da degeneração do cérebro. “As perdas acontecem principalmente nas memórias recentes; por exemplo, a pessoa passa a não lembrar mais o que fez no dia anterior, passa a repetir as mesmas histórias e outras coisas do tipo. Além disso, na doença de Alzheimer um outro domínio cognitivo é afetado, chamado de funcionamento executivo. O funcionamento executivo é o que nos permite planejar e usar bem a linguagem e a atenção, entre outros”, conta.

E confundir Alzheimer e depressão é possível, afirma o psiquiatra. “Na depressão que aparece de forma tardia, pode haver um comprometimento cognitivo importante, o que muitas vezes dificulta o diagnóstico diferencial entre estes dois transtornos”, ensina Chagas, destacando que é muito comum indivíduos com Alzheimer apresentar depressão ou sintomas depressivos importantes, o que pode acontecer em até 50% dos casos.

Um dos sintomas de depressão é a alteração de concentração que, dependendo da gravidade, pode ser confundida com um problema de memória ou até levar mesmo a um problema transitório de memória. Segundo o psiquiatra, durante a avaliação clínica, podem ser feitos diagnósticos diferenciais, usando a história clínica do paciente (início do quadro, episódios prévios, histórico familiar); fazendo uma avaliação cognitiva (testes cognitivos muitas vezes dão pistas do domínio mais alterado e a influência do humor nestas alterações) e, ainda, exames de imagem (apesar de não ser um critério de diagnóstico, algumas alterações na ressonância, como diminuição de uma estrutura chamado hipocampo, podem fortalecer a hipótese de doença de Alzheimer).

Concluindo, nem sempre é possível diferenciar Alzheimer de depressão. A diferença pode estar nos detalhes ou os dois transtornos podem estar presentes ao mesmo tempo. Uma avaliação cuidadosa e detalhada ajuda muito no diagnóstico diferencial. Além disso, o acompanhamento ao longo do tempo é o mais importante para separar e entender a relação entre esses transtornos. 


Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp

 

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