Teatro da USP apresenta peça que revê o ano de 1989

Espetáculo do Coletivo Cê fica em cartaz até 24 de setembro, às sextas-feiras, sábados e domingos, no Teatro da USP

 31/08/2023 - Publicado há 11 meses
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Cena da peça 1989 – Foto: Fetesp/Conservatório de Tatuí/João Maria Silva Júnior via Reprodução/Tusp

 

Até 24 de setembro, o Coletivo Cê convida todos a imaginarem que estão em uma máquina do tempo, viajando 34 anos para o passado. Com direção de Júlio Cesar Mello, a peça 1989 apresenta o cotidiano de uma típica família interiorana no ano em que ocorreu a primeira eleição direta para presidente do Brasil após a ditadura militar (1964-1985). O pai (Hércules Soares), a mãe (Bruna Moscatelli), a filha (Eliane Ribeiro) e o avô (Julio Cesar Mello) presenciam os principais acontecimentos históricos daquele ano através de outro importante personagem – a televisão. O público pode conferir o espetáculo às sextas-feiras e aos sábados, às 20 horas, e aos domingos, às 19 horas, no Teatro da USP (Tusp), no Centro Maria Antonia da USP.

Para Mello, o mote do espetáculo é olhar para o passado e perceber que, hoje, repetimos muitas situações e acontecimentos por falta de conhecimento e reflexão. “Nós temos memória curta. O desejo de falar sobre 1989 é justamente para colocar uma lupa nesse ano, para que a gente repense as nossas escolhas e a forma com que a gente se deixa ser influenciado pelas mídias”, comenta o diretor. “O intuito do trabalho é provocar esse olhar e fazer a gente perceber que os ciclos se encerram e recomeçam, e eles nem são tão longos assim – 1989 está logo aí, faz pouco tempo, e ainda assim a gente já repetiu muitas coisas que aconteceram naquele ano.”

O diretor Júlio Cesar Mello – Foto: arquivo pessoal

A peça nasceu a partir da ideia de retratar o bairro da Chave, uma vila operária de Votorantim, localizada no interior do Estado de São Paulo. O local, que foi sede do Coletivo Cê entre 2010 e 2015, inspira os integrantes do grupo. “A vila tem um aspecto bem característico. As casas são todas padronizadas, geminadas, grudadas umas nas outras, com as portas viradas diretamente para a rua”, relata Mello. “Nós tínhamos muito esse desejo de retratar esse formato de casa e como isso refletia nas relações das pessoas que moravam lá dentro.”

Ao longo da pesquisa que o Coletivo Cê passou a realizar, os integrantes observaram, ainda mais atentamente, as semelhanças espaciais entre as casas. “Percebemos que todas elas tinham as salas de estar como porta de entrada e as televisões eram voltadas para a rua”, detalha o diretor. Foi a partir desse olhar que a equipe percebeu como o aparelho eletrônico ainda exercia um papel de extrema importância e influência sobre os moradores.

O Coletivo Cê passou a pesquisar, então, como a televisão foi capaz de influenciar acontecimentos marcantes na história brasileira. Foi só aí que o ano de 1989 chamou a atenção dos integrantes. “Eu fiz um ‘mergulho’ em 1989, pesquisando tudo o que aconteceu naquele ano e assistindo a toda programação que havia disponível”, conta Mello. O resultado é expresso através da família de personagens que, durante 60 minutos, absorve uma gama de informações através da tela.

Na trama, as falas vêm unicamente da programação da televisão. A ideia foi inspirada no filme Um Dia na Vida (2010), do diretor Eduardo Coutinho, no qual o documentarista compila, ao longo de um dia inteiro, o que é exibido na televisão aberta brasileira. Os personagens, caracterizados e coreografados como bonecos de marionete, não têm fala.

A ideia de personagens marionetizados foi inspirada pela atriz Eliane Ribeiro, segundo Mello. “Ela tem muita experiência com manipulação de bonecos e já trazia isso no seu corpo. Uma das propostas de cena dela a partir dessa ideia de relação com a televisão foi justamente essa, e isso me chamou muito a atenção, porque se relacionava diretamente com o que eu queria dizer em relação a essas figuras que estão, de certa forma, sendo comandadas pela televisão”, relata o diretor. O dramaturgo ressalta, ainda, que 1989 se diferencia dos seus outros trabalhos como diretor no Coletivo Cê. Para ele, a peça é a “descoberta de uma identidade de pesquisa estética”.

Cartaz de divulgação da peça 1989 – Foto: Reprodução/Tusp

 

A peça 1989 fica em cartaz até 24 de setembro, às sextas-feiras e sábados, às 20 horas, e aos domingos, às 19 horas, no Teatro da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Os ingressos custam R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada) e podem ser adquiridos virtualmente e na bilheteria do Tusp uma hora antes da sessão. Mais informações estão disponíveis no site do Teatro da USP e pelo telefone (11) 3123-5222.


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