Desde esta segunda-feira, dia 26, até 14 de outubro, o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) apresenta a mostra Taiwan: Raízes e Horizontes, realizada em parceria com o Escritório Econômico e Cultural de Taipei. O evento teve duas edições anteriores à pandemia, em 2018 e 2019, e agora, após dois anos, retorna com uma nova seleção de filmes taiwaneses contemporâneos.
Quinze longas-metragens e dois curtas em realidade virtual compõem a programação, que celebra a coexistência de costumes centenários e tecnologias recentes na ilha do Leste Asiático. “O tema deste ano, Raízes e Horizontes, inspirou-se na diversidade que define Taiwan, contemplando a redescoberta e valorização de suas tradições aborígenes, bem como os avanços de uma sociedade marcada pela inovação”, escrevem as curadoras da mostra, Kelly Hsieh e Cecília Mello, em texto divulgado pelo Cinusp.
A abertura da mostra foi marcada para as 18h30 desta segunda-feira, excepcionalmente no Auditório István Jancsó do Espaço Brasiliana, na Cidade Universitária, em São Paulo, com a apresentação do filme Nina Wu (2019).Trata-se da mais recente obra do premiado diretor Zhao Te-yin, conhecido pelo nome artístico Midi Z. O longa apresenta Nina, personagem-título que busca consolidar sua carreira como atriz após anos trabalhando em pequenos papéis, mas encontra obstáculos nas práticas machistas e abusivas que são recorrentes na indústria. Roteirizado por Wu Ke-Xi, intérprete da protagonista, o filme foi lançado logo após a repercussão do movimento #MeToo (“Eu Também”), uma campanha contra o assédio sexual liderada por um grupo de atrizes de Hollywood, que teve início em 2017.
O restante dos filmes em exibição se divide em três eixos temáticos: “Clássico e Moderno”, “Gênero e Sexualidade” e “Aborígenes de Taiwan”. O primeiro busca revisitar tramas tradicionais do cinema taiwanês através de obras contemporâneas. Chegam à tela do Cinusp filmes de artes marciais como A Assassina (2015), dramas como O Sol (2019), A Bela, a Corajosa e a Corrompida (2017) e Meu Amor Desaparecido (2020) e até mesmo uma animação, Na Estrada da Felicidade (2017), longa de estreia da diretora Sung Hsin-Yin, que foi desenhado inteiramente à mão. O filme narra detalhes da vida cotidiana em Taiwan pelo ponto de vista de Chi, personagem fictícia nascida em 5 de abril de 1975 — mesma data em que morreu o ditador Chiang Kai-Shek, figura histórica real. Trazendo como pano de fundo o processo de redemocratização do país, a obra foi premiada na edição de 2018 do Festival de Cinema de Taiwan.
Em “Gênero e Sexualidade”, o Cinusp apresenta uma coletânea de filmes taiwaneses com temáticas LGBTQ+. Considerado progressista na defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, Taiwan foi a primeira nação asiática a permitir o casamento homoafetivo, em 24 de maio de 2019. No melancólico longa Moneyboys (2021), escrito e dirigido por C. B. Yi, um jovem recorre à prostituição para sustentar sua família, que, embora aceite o dinheiro do filho, não aprova sua homossexualidade. O filme teve sua estreia no Festival de Cannes, na França, em sua edição de 2021.
Já Flores à Deriva (2008), da diretora Zero Chou, é uma antologia de contos sobre a descoberta da sexualidade de três mulheres em diferentes momentos da vida. O filme traz temas até então pouco explorados no cinema lésbico, como o HIV, o Alzheimer, os relacionamentos de fachada entre gays e lésbicas e a não expressão da feminilidade. Os filmes Escola de Garotas (1982) e Querido Inquilino (2020) completam o eixo temático.
A comunidade aborígene, os povos originários de Taiwan, corresponde a cerca de 2% da atual população da ilha. Com a colonização chinesa no território, uma parte considerável da cultura tradicional aborígene foi perdida, e hoje grupos buscam recuperá-la através da arte. Serão exibidos cinco filmes sobre o tema: Seediq Bale: Guerreiros do Arco-Íris (2011), que aborda a Rebelião Wushe, guerra na qual 300 guerreiros taiwaneses enfrentaram um exército colonial japonês com mais de 3 mil soldados; o documentário Pusu Qhuni (2014), sobre o mesmo episódio histórico, no qual descendentes de sobreviventes da guerra narram o acontecimento; e os inéditos Quanto Tempo (2018), Pakeriran (2017) e Ouça Antes de Cantar (2021), que chegam pela primeira vez ao público brasileiro.
Realidades virtuais
Dois curtas-metragens serão exibidos em realidade virtual, técnica que busca proporcionar ao espectador uma experiência imersiva. “Os filmes em realidade virtual são gerados por meio de um computador, que reproduz cenas e objetos que parecem reais, fazendo com que os usuários se sintam imersos nessa realidade. Esse ambiente será percebido através de óculos, disponibilizados no início das sessões”, explica nota divulgada pelo Cinusp.
Em O Making Of (2018), filme metalinguístico que deriva do longa Nina Wu, o público poderá acompanhar a personagem na gravação de uma cena e presenciar, através de uma gravação em 360° e áudio espacial, a desigualdade de gênero enfrentada pela jovem atriz. Já no tenso Mr. Buddha (2018), o espectador se vê confinado em um carro de fuga com outros quatro ladrões.
Mr. Buddha, curta em realidade virtual – Foto: Divulgação/Cinusp
O Making Of, curta em realidade virtual – Foto: Divulgação/Cinusp
Embora a entrada para as sessões de realidade virtual seja gratuita, é necessário realizar agendamento prévio, através da plataforma Even3. As exibições acontecem nos dias 27, 28, 29 e 30 de setembro (de terça a sexta-feira), com horários para agendamento entre 12h e 20h.
A mostra Taiwan: Raízes e Horizontes, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), fica em cartaz de 26 de setembro a 14 de outubro, com duas sessões diárias, às 16 e às 19 horas, de segunda a sexta-feira, na nova sala do Cinusp (Rua do Anfiteatro, 109, na Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Para as sessões em realidade virtual, é necessário agendamento prévio, que deve ser feito pela plataforma Even3. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.