USP integra rede de universidades relacionadas à Economia Circular

A USP agora faz parte do grupo Universidades Pioneiras da Fundação Ellen MacArthur que tem o objetivo de incentivar pesquisas, desenvolver ações e divulgar os conceitos sobre economia circular.

 19/09/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 04/05/2018 às 15:36
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A USP agora faz parte do grupo Universidades Pioneiras da Fundação Ellen MacArthur, que tem o objetivo de incentivar pesquisas, desenvolver ações e divulgar os conceitos sobre economia circular

Um novo modelo econômico, com novas oportunidades de negócios, produtos multifuncionais, serviços colaborativos, maior valor agregado ao bem e contribuições significativas para a sustentabilidade social, econômica e ambiental.

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Da esquerda para a direita: Aldo Ometto, Luísa Santiago, Ken Webster, Paulo Sérgio Varoto, Jo Miller, Fábio Guerrini e Antonio Mauro Saraiva

Por trás dessa atrativa proposta está o conceito de econômica circular, que a partir de agora ganha projeção nas atividades de ensino, pesquisa e extensão da USP. No dia 16 de setembro, foi celebrado um contrato entre a USP e a Fundação Ellen MacArthur (EMF, na sigla em inglês), com o objetivo de difundir e acelerar a transição para esse modelo sistêmico, baseado em abordagens pioneiras e inovadoras que envolvem empresas, governo e sociedade.

A USP passa a integrar o seleto grupo Universidades Pioneiras, ao lado de outras seis relevantes instituições de ensino superior da Europa e dos Estados Unidos. “Nossa Fundação é uma rede de apoio, e a USP entra para colaborar como um ativo, liderando debates, fazendo pesquisas e capacitando pessoas, através desse modelo de pensamento. Vimos na USP a universidade com maior potencial para ser um agente catalisador dessa mudança, no Brasil e na América Latina”, afirmou Jo Miller, gerente do Programa de Educação Superior da EMF.

A universidade, única do hemisfério sul a ser integrada na rede, terá quatro grandes objetivos nos próximos três anos:

  • criar uma comunidade de pesquisa e desenvolvimento de conhecimento para uma economia circular multidisciplinar, nas seguintes áreas de conhecimento: Engenharia; Economia; Gestão; Negócios e Administração; Direito; Agricultura e Ciências Florestais; Ciências Sociais; Biologia; Física; Matemática e Ciências da Computação; Arquitetura; Planejamento Urbano e Regional;
  • integrar conteúdos de economia circular em cursos de graduação e pós-graduação;
  • desenvolver programas de educação, nessa temática, para a sociedade; e
  • apoiar técnica e cientificamente a investigação, inovação e transferência de conhecimento para a sociedade.

Planejar as ações

Entre os dias 5 e 6 de setembro, representantes da EMF e mais de 60 docentes da USP participaram, na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), de um workshop de planejamento. Antes, o diretor de Inovação da EMF, Ken Webster, apresentou uma visão geral sobre o tema, em um seminário aberto a toda comunidade. “A economia circular é uma estrutura de pensamento, que envolve as ciências contemporâneas e o trabalho colaborativo. O papel da USP será o de influenciar o debate nas mais diferentes áreas, acerca de um modelo de produção e de consumo que seja mais coerente com o Século 21. Não é uma corrida; é preciso refletir, internalizar o conceito e só depois partir para a ação”, afirmou.

Para o professor da EESC e coordenador das atividades na USP, Aldo Roberto Ometto, o seminário de abertura superou as expectativas, com presença de representantes de universidades, empresas, governo, promotoria do meio ambiente e ONGs. Já no workshop, foram discutidos conceitos, bases filosóficas e as possibilidades de abordagem e aplicação do tema na Universidade, dentro de um processo de construção coletiva.

Segundo ele, a partir da formatação das oportunidades refletidas nesses dois dias, será estabelecido um cronograma de ações e atividades. “Na graduação, objetivamos incluir essa temática de acordo com a especificidade de cada curso, de cada unidade. Na pesquisa, foram discutidas formas de colaboração e temas estratégicos de estudo e, na área de extensão, estratégias para levar essa nova visão à sociedade e às empresas, tendo o governo e outras organizações como ponte”. Ele destacou, ainda, que a iniciativa tem total apoio da Reitoria, das Pró-Reitorias e dos órgãos centrais da Universidade.

Há dois anos, o grupo de Engenharia e Gestão do Ciclo de Vida do Produto, do Departamento de Engenharia de Produção, liderado por Ometto, teve seu primeiro contato com a EMF, durante um projeto com a Universidade Técnica de Berlin. De acordo com Ometto, nesse período, a Fundação pôde perceber que já estavam sendo desenvolvidas aqui diversas atividades de ensino, pesquisa e extensão que vinham ao encontro da proposta da EMF. Ele acredita que isso também tenha contribuído para a efetividade do convênio. “Nos diversos eixos, mostramos que a EESC já estava engajada e, ao ampliar isso para a USP, teríamos um aumento exponencial do potencial, sobretudo, com diversidade e profundidade. Agora estamos com uma grande responsabilidade, numa área de fronteira do conhecimento e com importantes questões econômicas, sociais e ambientais a serem trabalhadas a partir das características e necessidades do Brasil”, afirmou.

O conceito

Extrair, transformar, descartar. Assim funciona o atual modelo linear de produção e consumo de bens, no qual se tem, de um lado, uma excessiva exploração dos recursos naturais para obtenção e processamento da matéria-prima e, de outro, subutilização e subaproveitamento de produtos que já nascem com sua obsolescência planejada.

A economia circular, por sua vez, prevê um ciclo contínuo de desenvolvimento positivo, que é restaurativo e regenerativo por princípio, eliminando a noção de resíduos e mantendo produtos, componentes e materiais no seu mais alto nível de valor e utilidade o tempo todo. “Não estamos desencorajando o consumo; estamos apresentando formas mais positivas de produção e consumo, não só para as empresas, que reduzem custos e criam novas fontes de receita, ou para o meio ambiente, mas para o sistema como um todo, para que possa funcionar no longo prazo”, defende Webster.

Nesse sentido, há também novos modelos de negócio que estabelecem uma nova dinâmica na relação do consumidor com o bem físico. A partir dela, em vez de se comprar produtos, adquire-se acesso ao benefício proporcionado pelo produto, ou seja, em vez de adquirir um aparelho de ar condicionado, o consumidor compra um número de horas de climatização. O equipamento é da empresa, assim como toda a manutenção regular necessária para oferecer o serviço de qualidade e o melhor reaproveitamento de suas peças e componentes. “É um modelo muito mais flexível e faz com que a empresa reveja a concepção do seu produto, afinal, ele permanecerá como ativo de seu patrimônio”, complementa Ometto.

Ele cita exemplos como as máquinas fotocopiadoras – hoje se compra quantidade de cópias reprográficas e não mais equipamentos e suprimentos; a Rolls-Royce, que não vende mais turbina para aviões, vende horas de voo; e a Airbnb, uma organização que oferece o maior número de aposentos e acomodações temporárias no mundo sem ter construído um único prédio, usando apenas quartos de pessoas que decidem compartilhar seus espaços. “É uma nova forma de negócio, que passa por mudanças culturais e agrega valor sistêmico, reduz as externalidades negativas e promove a máxima eficiência dos recursos e eficácia do sistema”, completou.

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Programa CE100 Brasil

A Fundação Ellen MacArthur criou o Programa Circular Economy 100 (CE100) para apoiar empresas, governos e cidades no aproveitamento das oportunidades relativas ao tema.

No Brasil, o programa foi lançado em outubro do ano passado, como estratégia de expansão geográfica, sendo o primeiro escritório fora da Europa. A líder da rede CE100 Brasil, Luísa Santiago, explica que, desde que a Fundação foi criada, em 2010, o conhecimento de economia circular avançou bastante no continente europeu, com as características de uma economia escassa em recurso naturais, muito abundante em consumo e serviço e com baixos níveis de desigualdade de desenvolvimento.

Por se tratar de uma transição global, faltava então uma realidade diferente, que fosse agregar novos elementos ao conceito. E o Brasil tinha exatamente esse sistema em contraponto: uma economia abundante em recursos naturais, baseada em manufatura e muito focada em setores lineares, com indústria de base e extrativa. Outra característica muito interessante para a evolução do conceito foi o fato de haver manufatura e consumo em um mesmo ambiente.

A USP também passa a integrar essa rede multistakeholders, na qual as empresas funcionam como laboratório vivo de práticas, de modelos de negócios e de captura de geração de valor, e a academia participa como um grande ativo de conhecimento técnico e cientifico que vai alimentar esse fluxo. “É uma parceria ganha, ganha, ganha, ganha. Ganha a universidade, ganha a Fundação, ganha a rede e seus players e ganha a sociedade, que tem esse ator de relevância do conhecimento aplicado”, afirma Luísa.

Hoje, a CE100 Brasil tem 18 membros efetivos, sendo 15 empresas, duas instituições afiliadas (CEBDS e Sistema B) e a USP. O objetivo é chegar a 100 organizações.

O diretor de Inovação da EMF acredita que os princípios da economia circular trarão significativos benefícios para a realidade brasileira, possibilitando o aproveitamento de oportunidades, a adoção de fontes de energia renovável, possibilitada pelas características do país, e a promoção da diversidade, ou seja, encorajamento para o empreendedorismo, inovação e modelos mais resilientes.

Atualmente, são parceiros globais da Fundação: Cisco, Google, H&M, Intesa Sanpaolo, NIKE Inc., Philips, Renault e Unilever. Outras informações podem ser consultadas no site da Ellen MacArthur Foundation Brasil.

(Assessoria de Comunicação do Campus de São Carlos / Foto: Keite Marques)


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