Economia circular será nova área de pesquisa e ensino na USP

Universidade integrará rede “multistakeholders”, na qual empresas funcionam como laboratório vivo de práticas, de modelos de negócios e de captura de geração de valor

 20/09/2016 - Publicado há 8 anos
Imagem: Royal HaskoningDHV
A economia circular prevê um ciclo contínuo de desenvolvimento positivo, que é restaurativo e regenerativo por princípio – Imagem: Royal HaskoningDHV

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Um novo modelo econômico, com novas oportunidades de negócios, produtos multifuncionais, serviços colaborativos, maior valor agregado ao bem e contribuições significativas para a sustentabilidade social, econômica e ambiental.

Por trás dessa atrativa proposta está o conceito de economia circular, que a partir de agora ganha projeção nas atividades de ensino, pesquisa e extensão da USP. No dia 1º de setembro, foi celebrado contrato entre a USP e Ellen MacArthur Foundation (EMF) com o objetivo de difundir e acelerar a transição para esse modelo sistêmico, baseado em abordagens pioneiras e inovadoras que envolvem empresas, governo e sociedade.

A USP passa a integrar o seleto grupo Pioneer Universities, ao lado de outras seis instituições de ensino superior da Europa e Estados Unidos. “Nossa fundação é uma rede de apoio e a USP entra para colaborar como um ativo, liderando debates, fazendo pesquisas e capacitando pessoas, através desse modelo de pensamento. Vimos na USP a universidade com maior potencial para ser um agente catalisador dessa mudança, no Brasil e na América Latina”, afirmou Jo Miller, gerente do Programa de Educação Superior da EMF.

A Universidade é única do Hemisfério Sul do planeta a ser integrada na rede.

Planejar as ações

Entre os dias 5 e 6 de setembro, representantes da EMF e mais de 60 professores da USP participaram, na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), de um workshop de planejamento. Antes, o diretor de Inovação da EMF, Ken Webster, apresentou uma visão geral sobre o tema, em um seminário aberto a toda comunidade. “A economia circular é uma estrutura de pensamento, que envolve as ciências contemporâneas e o trabalho colaborativo. O papel da USP será o de influenciar o debate nas mais diferentes áreas acerca de um modelo de produção e de consumo que seja mais coerente com o século 21. Não é uma corrida, é preciso refletir, internalizar o conceito e só depois partir para a ação”, afirmou.

Da esquerda para direita: prof. Aldo, Luisa Santiado, Ken Webster, prof. Paulo Sérgio Varoto (diretor da EESC), Jo Miller, prof. Fábio Guerrini (vice-prefeito do Campus) e prof. Anotnio Mauro Saraiva (docente da Pró-reitoria de Pesquisa)
Da esquerda para a direita: Aldo Ometto, Luísa Santiago, Ken Webster, Paulo Sérgio Varoto, Jo Miller, Fábio Guerrini e Antonio Mauro Saraiva | Foto: Keite Marques/EESC

Para o professor Aldo Roberto Ometto, da EESC e coordenador das atividades na USP, a partir da formatação das oportunidades refletidas nesses dois dias, será estabelecido um cronograma de ações e atividades.

“Na graduação, objetivamos incluir essa temática de acordo com a especificidade de cada curso, de cada unidade. Na pesquisa, foram discutidas formas de colaboração e temas estratégicos de estudo e, na área de extensão, estratégias para levar essa nova visão à sociedade e às empresas, tendo o governo e outras organizações como ponte.” Ometto destacou, ainda, que a iniciativa tem total apoio dos órgãos centrais, como reitoria, pró-reitorias e agências de inovação e cooperação internacional.

Estamos com uma grande responsabilidade, numa área de fronteira do conhecimento e com importantes questões econômicas, sociais e ambientais, a serem trabalhadas a partir das características e necessidades do Brasil

Há dois anos, o grupo de Engenharia e Gestão do Ciclo de Vida do Produto, do Departamento de Engenharia de Produção, liderado pelo professor Ometto, teve seu primeiro contato com a EMF durante um projeto com a Universidade Técnica de Berlim.

“Nos diversos eixos, mostramos que a EESC já estava engajada e, ao ampliar isso para a USP, teríamos um aumento exponencial do potencial, sobretudo, com diversidade e profundidade. Agora estamos com uma grande responsabilidade, numa área de fronteira do conhecimento e com importantes questões econômicas, sociais e ambientais, a serem trabalhadas a partir das características e necessidades do Brasil”, conta o professor Ometto.

O conceito

Extrair, transformar, descartar. Assim funciona o atual modelo linear de produção e consumo de bens, no qual se tem, de um lado, uma excessiva exploração dos recursos naturais para obtenção e processamento da matéria-prima e, de outro, subutilização e subaproveitamento de produtos que já nascem com sua obsolescência planejada.

Diagrama de Borboleta | Fonte: Fundação Ellen MacArthur
Diagrama de Borboleta explica a economia circular. Clique para ampliar – Fonte: Fundação Ellen MacArthur

A economia circular, por sua vez, prevê um ciclo contínuo de desenvolvimento positivo, que é restaurativo e regenerativo por princípio, eliminando a noção de resíduos e mantendo produtos, componentes e materiais ao seu mais alto nível de valor e utilidade o tempo todo.

“Não estamos desencorajando o consumo; estamos apresentando formas mais positivas de produção e consumo, não só para as empresas, que reduzem custos e criam novas fontes de receita, ou para o meio ambiente, mas para o sistema como um todo, para que possa funcionar no longo prazo”, defende o diretor de Inovação da EMF, Ken Webster.

Nesse sentido, há também novos modelos de negócio que estabelecem uma nova dinâmica na relação do consumidor com o bem físico. A partir dela, em vez de se comprar produtos, adquire-se acesso ao benefício proporcionado pelo produto, ou seja, em vez de adquirir um aparelho de ar-condicionado, o consumidor compra um número de horas de climatização.

O equipamento é da empresa, assim como toda a manutenção regular necessária para oferecer o serviço de qualidade e o melhor reaproveitamento de suas peças e componentes. “É um modelo muito mais flexível e faz com que a empresa reveja a concepção do seu produto, afinal, ele permanecerá como ativo de seu patrimônio”, complementa Ometto.

Ele cita exemplos como as máquinas fotocopiadoras – hoje se compra quantidade de cópias reprográficas e não mais equipamentos e suprimentos; a Rolls-Royce, que não vende mais turbina para aviões, vende horas de voo; e a Airbnb, uma organização que oferece maior número de aposentos e acomodações temporárias, no mundo, sem ter construído um prédio, usando apenas quartos de pessoas que decidem compartilhar seus espaços. “É uma nova forma de negócio, que passa por mudanças culturais que agrega valor sistêmico, reduz as externalidades negativas e promove a máxima eficiência dos recursos e eficácia do sistema”, completou.

Programa CE100 Brasil

A Fundação Ellen MacArthur criou o Programa Circular Economy 100 (CE100) para apoiar empresas, governos e cidades no aproveitamento das oportunidades relativas ao tema.

No Brasil, o programa foi lançado em outubro do ano passado, como estratégia de expansão geográfica, sendo o primeiro escritório fora da Europa. A líder da rede CE100 Brasil, Luísa Santiago, explica que, desde que a fundação foi criada, em 2010, o conhecimento de economia circular avançou bastante no continente europeu, com as características de uma economia escassa em recurso naturais, muito abundante em consumo e serviço e com baixos níveis de gap de desenvolvimento.

Por se tratar de uma transição global, faltava então uma realidade diferente, que fosse agregar novos elementos ao conceito. E o Brasil tinha exatamente esse sistema em contraponto: uma economia abundante em recursos naturais, baseada em manufatura e muito focada em setores lineares, com indústria de base e extrativa. Outra característica para a evolução do conceito foi o fato de haver manufatura e consumo em um mesmo ambiente.

A USP também passa a integrar essa rede multistakeholders, na qual as empresas funcionam como laboratório vivo de práticas, de modelos de negócios e de captura de geração de valor e a academia participa como um grande ativo de conhecimento técnico e científico que vai alimentar esse fluxo.

“É uma parceria ganha, ganha, ganha, ganha. Ganha a Universidade, ganha a fundação, ganha a rede e seus players e ganha a sociedade, que tem esse ator de relevância do conhecimento aplicado”, afirma Luísa. Hoje a CE100 Brasil tem 18 membros efetivos, sendo 15 empresas, duas instituições afiliadas (CEBDS e Sistema B) e a USP. O objetivo é chegar a cem organizações.

Atualmente, são parceiros globais da Fundação: Cisco, Google, H&M, Intesa Sanpaolo, Nike Inc., Philips, Renault e Unilever. Outras informações podem ser consultadas no site:  ou na fanpage da EMF Brasil.

Edmilson Luchesi / Assessoria de Comunicação da Prefeitura do Campus da USP São Carlos


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