Novo diretor quer fortalecer papel do Museu de Arte Contemporânea na vida cultural de São Paulo

Ampliação do papel do MAC como centro de estudos e criação artística está no foco das propostas da gestão de José Lira e Esther Hamburger

 18/10/2024 - Publicado há 5 meses     Atualizado: 21/10/2024 às 14:52
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Em um saguão, púlpito com homem de terno falando ao microfone, ao lado de uma mesa com cinco pessoas sentadas.
José Lira (no púlpito) tomou posse como diretor do MAC pelos próximos quatro anos. Participaram da solenidade (à mesa, da esquerda para a direita) a vice-diretora anterior, Marta Bogéa; a secretária-geral da USP, Marina Gallottini; o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior; a vice-reitora, Maria Arminda do Nascimento Arruda; e a nova vice-diretora, Esther Hamburger – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A nova diretoria do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP tomou posse nesta quinta-feira, 17 de outubro, para a gestão 2024-2028. O diretor José Tavares Correia de Lira assume com a vice-diretora Esther Império Hamburger apresentando uma proposta inovadora, que busca a ampliação do papel já exercido hoje em dia pela instituição.  

Em entrevista recente ao Jornal da USP, o dirigente comentou a respeito desta ideia, que está baseada na implantação do chamado Colégio das Artes, um centro que poderá apoiar e impulsionar projetos multidisciplinares no campo das artes, envolvendo não só pesquisadores das diversas unidades da USP, mas também de outras entidades. Ao mesmo tempo, o próprio setor educativo do museu deve ganhar mais força, trazendo o público leigo para atividades de formação em diferentes formatos. 

Na solenidade de posse, após a leitura do termo de compromisso, Lira expôs em seu discurso as expectativas para os próximos anos: “Foi com um misto de receio e alegria que recebemos essa missão de dirigir o MAC, que tem uma história e um acervo dos mais ricos do gênero no continente e que, nos últimos 60 anos, vem desempenhando um papel central naquilo que Mário de Andrade e Antonio Candido chamaram de ‘institucionalização da vida cultural do Brasil’. O MAC vem oferecendo contribuições incalculáveis para o entendimento do Modernismo e para a abertura de novos caminhos à produção contemporânea em arte”, comentou.

O novo diretor ressaltou o papel que as gestões anteriores tiveram na organização institucional e das coleções: “O rol de dirigentes que nos antecedem é notável, desde o primeiro diretor, Walter Zanini, até a última gestão, que nos entregou um museu marcado por avanços institucionais muito importantes, por um planejamento administrativo cuidadoso, cadastros em dia, plano museológico, projeto acadêmico, políticas de cultura e extensão e gestão de acervos, comodatos e doações. Um museu plenamente capaz de construir projetos inovadores de cooperação internacional de longa duração, como os vigentes atualmente”, pontuou.

Homem de terno e gravata fala ao microfone em um púlpito. Ao fundo, vidro com vegetação externa
José Lira já dirigiu o Centro de Preservação Cultural – Casa de Dona Yayá e o Centro Universitário MariAntonia. Em seu discurso, ele ressaltou o sucesso das gestões anteriores do MAC e o desafio de propor novas iniciativas e melhorias – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ele também chamou a atenção para a qualidade e o profissionalismo daqueles que atuam no cotidiano da instituição e para as particularidades encontradas na gestão de um equipamento desse tipo: “Um time impressionante de docentes e não docentes que se destacam pela seriedade, pela inteligência, pela dedicação, pela paixão e pelo rigor, jamais se furtando ao estudo, ao diálogo, à reflexão e ao trabalho conjunto. Com eles, neste início de gestão, temos feito descobertas de processos absolutamente inusuais em qualquer unidade de ensino e pesquisa, como as de onde somos oriundos, e que atravessam todo o ciclo curatorial, dos trabalhos de classificação e conservação até os de educação, pesquisa e extroversão”.

A vontade de contribuir com novas ideias e olhares foi salientada no discurso: “Ao celebrar os avanços anteriores, não queremos diminuir as nossas responsabilidades ou reduzir nossa contribuição à mera continuidade. Reconhecer os acúmulos e avanços prévios não nos exime de propor, de interferir, de arriscar, de experimentar e de imprimir à nossa gestão um rumo que possa contribuir para o constante desenvolvimento do MAC. Muitos dos desafios, gargalos, problemas e possibilidades atuais vêm sendo há muito pontuados, vários dos quais ainda por resolver devidamente. Entre eles, a sustentabilidade financeira de uma entidade que guarda em seu acervo mais de 10 mil obras de arte, a gestão de 30 mil m² de área construída e 5 mil m² de área expositiva em um edifício emblemático e tombado, a comunicação, a inserção urbana, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social”. 

Entre as próximas iniciativas institucionais a serem inauguradas, Lira pontuou a instalação do novo Centro de Ciências do Patrimônio da USP, um projeto pioneiro que reúne oito unidades, outras duas universidades e a colaboração de alguns dos principais museus de São Paulo. Trata-se de um equipamento multiusuário e multidisciplinar, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sendo o primeiro do tipo na América do Sul e inspirado em centros similares existentes em grandes museus e universidades na Europa e nos Estados Unidos. “Com ele, poderemos contribuir para a conservação, o mapeamento físico-químico, o imageamento de alta precisão dos acervos e para a independência científica, tecnológica e operacional de São Paulo e do Brasil no trato de bens culturais, na produção de conhecimento e na formação de profissionais especializados no setor”, explicou o diretor. 

Homem de terno fala ao microfone em um púlpito. Ao fundo, vidro e um jardim com plantas.
O reitor da USP lembrou o papel central que os museus universitários têm na gestão e como eles privilegiam a formação humanista da comunidade – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, lembrou que os museus são objeto de especial atenção de sua administração: “Constatar a organização e o sucesso do MAC é motivo de grande satisfação. Trata-se de uma preocupação colocada por nós desde o momento em que nos candidatamos à Reitoria e apresentamos um plano de gestão à comunidade universitária. Nossos acervos estão entre as maiores e melhores coleções do mundo e, além de seu papel junto à sociedade em geral, também trazem um diferencial para a preparação de nossos próprios alunos, que podem ter nesses espaços uma formação humanística privilegiada”.

Carlotti mencionou outras ações que vêm estruturando o conjunto dos museus universitários em um novo patamar: “Em 2022 conseguimos entregar o Museu Paulista (MP) reformado como um dos principais marcos do bicentenário da Independência do Brasil. Não só entregamos na data prevista, mas com a qualidade desejada e um projeto avançado de acessibilidade e inclusão. Já o Museu de Zoologia (MZ) e o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) estão na iminência da retomada das obras de seu novo espaço, que será a Praça dos Museus, na Cidade Universitária. A USP vive um bom momento, em que temos conseguido superar um grande desafio do setor público, que é a transformação de orçamento em ações concretas, e, felizmente, temos visto isso em relação a todos os nossos museus e temos aqui a motivação para, nos próximos anos, tornar o MAC ainda mais grandioso do que já é”. 

Quem são

José Lira é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP, unidade da qual é docente, Lira já foi professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, entre 1998 e 2003, e professor visitante da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, entre 2022 e 2023. Antes de assumir a direção do MAC, o professor já dirigiu dois órgãos de cultura da Universidade: o Centro de Preservação Cultural – Casa de Dona Yayá, entre 2010 e 2014; e o Centro Universitário MariAntonia, entre 2022 e 2024. 

Esther Hamburger é docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde já foi chefe do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão. Esther também já dirigiu um dos órgãos de cultura da USP, o Cinusp Paulo Emílio, entre 2010 e 2014. A professora é graduada em Ciências Sociais e Mestre em Sociologia pela FFLCH, com doutorado em Antropologia pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Autora do livro O Brasil Antenado: a Sociedade da Novela (2005), tem pesquisas voltadas ao audiovisual e suas relações com a sociedade. 

Duas mulheres posam para a foto. À esquerda, sem óculos e cabelo castanho preso, à direita, com óculos e cabelo solto.
A nova vice-diretora (à dir.) é docente da Escola de Comunicações e Artes e já foi diretora do Cinusp Paulo Emílio. Na solenidade de posse, a gestão anterior foi representada pela vice-diretora em encerramento de mandato, Marta Bogéa (à esq.) – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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