A USP no caminho da economia verde

Por Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, e Julio Romano Meneghini, professor titular da Escola Politécnica (Poli) e coordenador do RCGI

 10/08/2023 - Publicado há 1 ano
Carlos Gilberto Carlotti Junior – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Julio Romano Meneghini – Foto: Maria Leonor de Calasans/IEA/USP

 

O aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o aquecimento global resultam em preocupante emergência climática. Os cenários trágicos decorrentes do aumento da temperatura média acima de 2°C em relação à era pré-industrial são um chamado para ação imediata. É imprescindível transformar as matrizes energéticas dos países que são grandes emissores de GEE. O avanço significativo da produção de energia solar, eólica e o desenvolvimento de tecnologias para a produção e barateamento de combustíveis renováveis, como etanol de segunda geração, biodiesel e hidrogênio, são fundamentais, além do desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia para uma transição eficiente e sustentável.

Os países detentores de grandes florestas devem adotar o uso responsável da terra e investir em reflorestamento, contribuindo para a captura de carbono e geração de renda para as populações locais, assim como os de maiores produções agropecuárias devem incorporar tecnologias que capturem maior quantidade de carbono no solo e aumentar a produtividade por hectare.

Enfrentar a emergência climática demanda ações políticas, colaborações científicas multilaterais, conscientização pública e apoio da sociedade para promover mudanças comportamentais em prol da sustentabilidade. A percepção pública desempenha papel essencial nesse processo.

É necessário adotar uma abordagem transdisciplinar, na qual pesquisadores e especialistas de diversas áreas do conhecimento unam esforços para encontrar soluções. O modelo da hélice tríplice, que fomenta a colaboração entre universidade, governo e iniciativa privada, é uma estratégia de inovação que valoriza a cooperação entre setores distintos. Essa abordagem permite o compartilhamento de recursos, conhecimento e expertise, impulsionando a inovação e viabilizando parcerias científicas multilaterais.

Os centros de pesquisa que seguem esse modelo desempenham papel crucial na busca por soluções para a emergência climática. Eles têm a capacidade de agregar conhecimentos de diversas áreas, alavancar colaborações científicas entre diferentes instituições e contribuir para a diplomacia científica, fortalecendo a cooperação em nível global.

Ao adotar a transdisciplinaridade, o modelo da hélice tríplice, as parcerias colaborativas, conscientização e inovação, podemos avançar na luta contra as mudanças climáticas e na construção de um futuro sustentável.

Na USP, um exemplo disso é o Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa ou Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI). O RCGI tem como missão colaborar com o Brasil para atingir suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), no contexto do Acordo de Paris. Com programas temáticos abrangendo diversas áreas, como Soluções Baseadas na Natureza, Captura e Utilização de Carbono, Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono, o RCGI conta com a participação de 70 professores da USP e de outras instituições de pesquisa e 300 pesquisadores. A USP atua na criação de outros centros seguindo esse modelo, como o Centro de Estudos da Amazônia Sustentável e os Centros de Estudos para Agricultura Tropical e Carbono.

Resultado do trabalho do RCGI é a implementação da primeira planta piloto de produção de hidrogênio a partir do etanol do Brasil, sobre a qual estamos celebrando o lançamento da pedra fundamental nesta data. Com inauguração prevista para o início de 2024, o projeto representa um marco na consolidação do Brasil como potência global da energia renovável e conta com a parceria do RCGI, da Fapesp, do Governo de São Paulo, do Senai e de empresas como Hytron, Shell Brasil e Raízen.

A planta, nesta primeira etapa, irá abastecer três ônibus cedidos pela EMTU e fabricados pela Marcopolo, além de um veículo oferecido pela Toyota, todos movidos por células a combustível que geram eletricidade internamente a partir do hidrogênio, sem emissões de gases de efeito estufa. Atingir a produção industrial é uma das metas do projeto.

Essa colaboração entre USP, empresas e governo demonstra o compromisso do Estado de São Paulo em impulsionar a transição para uma economia verde e sustentável. A planta piloto reflete a expertise do País em biocombustíveis, como o etanol, aplicada estrategicamente na produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono. Essa iniciativa demonstra a capacidade do País em buscar soluções inovadoras, mitigando as mudanças climáticas a partir de ações integradas entre universidades, governo e iniciativa privada.

A emergência climática exige uma transformação urgente nas matrizes energéticas e no uso da terra. O Brasil tem potencial para liderar essa transformação, beneficiando não apenas o País, mas também o mundo todo. É necessário que continuemos avançando nesse caminho, promovendo parcerias e investimentos que impulsionem a economia verde e sustentável, contribuindo para um futuro mais próspero e resiliente.

(Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 10/08/23)


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