Morreu nesta quinta-feira (13) o músico Marco Antônio Gonçalves dos Santos, o Skowa. Natural de São Paulo, o cantor e multi-instrumentista circulou pela cena independente da cidade e se consolidou como uma importante referência da black music brasileira. Ele também teve uma atuação relevante como ativista cultural e uma passagem pelos estúdios da Rádio USP como apresentador e locutor. Skowa estava internado na UTI do Hospital das Clínicas de Botucatu, no interior de São Paulo, desde o último dia 30. Alguns dias antes, tocou no encerramento do Festival Sesc Culturas Negras com o Trio Mocotó, banda que integrava desde 2003 e que é considerada um marco do samba-rock.
Skowa iniciou sua carreira na música no final da década de 1970, em São Paulo, tocando nas bandas Premeditando o Breque e Sossega Leão. Eram bandas bem diferentes entre si: enquanto o Premeditando se destacava pelo humor, o Sossega Leão trazia a salsa e outros ritmos afro-caribenhos. Para o artista multidisciplinar Renato Gama, Skowa foi um dos tradutores do suingue brasileiro e uma referência fundamental para a compreensão da música preta brasileira e mundial.
“Ele passeou por todos os ritmos pretos, caribenhos. Ele nos trouxe a tradução e essa mistura para a música brasileira. Ele tocou com Itamar Assumpção, Maurício Pereira grava com ele. Eu, como músico, enxergo ele como um dos professores de biologia. Se você pensar em educação, o professor de biologia seria o Skowa, porque ele é o profundo conhecedor da anatomia da música, da construção do corpo, dos detalhes da música preta mundial, da música caribenha, do blues, do funk, do samba”, diz Gama.
Nos anos 1980, Skowa tocou baixo na banda de new wave Gang 90 e as Absurdettes e, mais tarde, fundou o grupo Skowa e a Máfia, que se projetou nacionalmente com o hit Atropelamento e fuga, de 1989. A cantora Taciana Barros conta que conheceu Skowa em 1982, quando entrou na Gang 90. “Ele já era uma referência para mim quando eu entrei na banda. Não era à toa que a gente o chamava de professor. Era um mestre generoso, com uma musicalidade com muito suingue. Ele era um maestro. Os trabalhos dele eram complexos, eram bandas muito grandes, com muitos músicos, com metais, e ele também trabalhava com músicos muito bons”, diz Taciana, que atualmente mantém o projeto Poemacombate com João Parahyba, um dos fundadores do Trio Mocotó.
Quem circulou pela cena musical de São Paulo dos anos 1980 em diante tem lembranças carinhosas de Skowa. A jornalista Magaly Prado, do Jornal da USP, conta que em meados dos anos 1980 produzia jams musicais no Centro Cultural São Paulo. Ela convidava Skowa para ser o MC dessas jams. “Eu colocava o Skowa como uma espécie de mestre de cerimônias, porque além de ser multi-instrumentista, ele conhecia todo mundo. As jams funcionavam assim: apareciam músicos de todo tipo de gênero musical e eu misturava para não subir ao palco mais de um da mesma banda. Era uma mistura muito boa. Dali surgiram bandas que foram formadas dessas jams”, lembra Magaly.
Na mesma época, Skowa comandou dois programas na Rádio USP. O Caribe 38, que ia ao ar nas noites de sexta-feira, e Rapazes da Banda, no qual entrevistava figuras da cena musical paulistana nas noites de domingo. Entre os artistas recebidos no programa, estiveram o tecladista Bozo Barretti e a cantora Vânia Bastos, que participaram da gravação do clássico álbum Clara Crocodilo, de Arrigo Barnabé.
Nas redes sociais, músicos e comunicadores comentaram a morte do artista. Em seu perfil oficial, o Trio Mocotó publicou uma mensagem homenageando o parceiro e oferecendo condolências à família e aos amigos. No Instagram, o MC Max B.O. lembrou da entrevista que gravou com Skowa para o programa Manos e Minas, da TV Cultura. Na entrevista, que foi exibida em 2015, Skowa contou que sua maneira “abrangente” de tratar a música veio de casa, onde seus pais tocavam piano e violino juntos nos fins de semana, enquanto seu irmão ouvia música italiana em um quarto e ele próprio tocava discos dos Beatles e dos Rolling Stones no outro. O músico também refletiu sobre as diferentes formas de comunicação que estabelecia com o público a partir das performances nos palcos, do humor ou das melodias das canções.
*Com informações do G1