
Coletivo formado por pesquisadores indígenas, ribeirinhos e acadêmicos, o Monitoramento Ambiental Territorial Independente (Mati) lançou um perfil no Instagram para divulgar seu trabalho no Rio Xingu. O Mati coleta dados sobre a vazão das águas na Volta Grande do Xingu, região fortemente afetada pela operação da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. O monitoramento começou em 2013 por iniciativa da Associação Yudja Muratu da Volta Grande do Xingu (AYMIX), uma organização que representa o povo Yudja/Juruna na região, e conta com o apoio da USP, da Fapesp, do Instituto Socioambiental e de outras instituições.
O perfil do Mati também vai falar sobre a proposta dos pesquisadores para a implementação do Hidrograma das Piracemas. Construído a partir de saberes tradicionais e acadêmicos, o Hidrograma das Piracemas é uma alternativa para adequar os volumes de água liberados pela usina de Belo Monte ao ciclo de reprodução dos peixes, especialmente em áreas de piracema, para onde os peixes migram na época de reprodução.
Atualmente, Belo Monte opera com o desvio de 70% a 80% das águas do Rio Xingu para as turbinas. Em uma entrevista recente à revista Pesquisa Fapesp, André Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências (IGc) da USP e um dos coordenadores da pesquisa, explicou que o projeto da hidrelétrica já previa a redução da vazão da Volta Grande do Xingu, mas os impactos se mostraram mais graves do que o estimado.
Nesse sentido, uma data que ganhou importância foi o dia 8 de fevereiro de 2023. Nessa data, os pesquisadores do Mati se depararam com milhões de ovas de peixes mortas nos barrancos secos da margem do Rio Xingu. O local, conhecido como piracema do Odilo, era um berçário de peixes. Com a brutal redução na vazão após o barramento do rio, tornou-se um túmulo a céu aberto.
O cenário de seca e mortandade de peixes e outras espécies aquáticas tem afetado negativamente o ecossistema de florestas alagadas, a pesca tradicional e a navegação no Rio Xingu, produzindo impactos à segurança alimentar, à saúde e à subsistência das comunidades indígenas e tradicionais da região.
Com informações do Instituto Socioambiental