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Engenheira, física, programadora e mãe: as vencedoras do USP Mães Pesquisadoras 2024
Terceira edição da premiação contempla mulheres da área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias; saiba mais sobre as pesquisas de cada uma delas
Prêmio USP Mães Pesquisadoras reconhece a maternidade de cientistas mulheres, pais solo e LGBTQIPN+ - Foto: Freepik
Já é possível conferir os resultados do Prêmio USP Mães Pesquisadoras 2024: as vencedoras foram Kamilla Vasconcelos, Mirian Stringasci e Cássia Fernandez. Na terceira edição da premiação, foram contempladas pesquisadoras da área de Ciências Exatas e da Terra e de Engenharias. A cerimônia para a entrega das honrarias será nesta sexta-feira, 10 de maio, na sala do Conselho Universitário da USP, às 14 horas.
O edital de 2022 foi dedicado à área de Ciências Biológicas e Saúde. Já em 2023, foram considerados os trabalhos de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes. No ano que vem, serão premiadas as pesquisas das Ciências Agrárias e Ambientais. No total, serão quatro edições.
“Nós gostaríamos de ter incluído todas as áreas da universidade, mas, como o prêmio envolve uma compensação financeira, nós não tínhamos os fundos necessários. Por isso, decidimos dividir. Nós começamos pela área da saúde e para nós a escolha foi óbvia: estávamos saindo do contexto de pandemia [da covid-19] e foi a área da saúde que esteve na linha de frente durante essa época”, explica Susana Torresi, idealizadora do prêmio.
A premiação é realizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), em parceria com a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), ambas da USP. Os recursos são provenientes de convênio com o Banco Santander.
Desde 2022, Susana ocupa o cargo de pró-reitora adjunta de Pesquisa.
“Eu acredito que, quando falamos das dificuldades e das divisões de gênero observadas no campo da pesquisa, é imprescindível falar da maternidade. Daí veio a ideia de criar o prêmio para mães pesquisadoras. Estamos reconhecendo excelentes pesquisadoras e que também são mães. Não estamos premiando supermães”, conta.
O edital contempla inscrições em diferentes fases da carreira acadêmica: docência, pós-doutorado, pós-graduação e graduação. “A maternidade afeta de maneiras distintas a depender do estágio da carreira em que a pesquisadora se encontra. Por isso temos as quatro categorias”, explica a professora.
Pais solo e pesquisadores LGBTQIAPN+ também podem submeter suas pesquisas ao prêmio. “Apesar de constar no edital, nenhuma candidatura foi recebida em nenhuma das edições realizadas. Pensamos em incluí-los porque os obstáculos não são só uma questão de gênero, no sentido de nascer homem ou mulher, mas sobre a parentalidade. Por exemplo, tanto uma mulher como um casal homoafetivo terão as mesmas responsabilidades em relação à criação de uma criança”, explica a pró-reitora adjunta de Pesquisa da USP.
Neste ano, foram recebidas 39 inscrições, número bem inferior às 110 e 136 submissões recebidas, respectivamente, nos dois primeiros editais. Em 2023, nenhuma aluna de graduação enviou seus trabalhos para o comitê. “Eu acho que isso está relacionado à área que foi premiada este ano. Na USP, pelos números do Egida [Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico], a porcentagem de mulheres é muito menor nas carreiras de exatas. Por consequência, isso afeta também o número de mães”, argumenta Rosana.
Kamilla Vasconcelos
Kamilla Vasconcelos Savasini recebe o Prêmio USP Mães Pesquisadoras na área de Engenharias – Foto: Researchgate
Kamilla Vasconcelos é formada em Engenharia Civil e é mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Ceará. Após concluir o doutorado em Engenharia Civil pela Texas A&M University, em 2010, ela retornou ao Brasil e se mudou para São Paulo, passando a integrar o grupo de pesquisadores do Laboratório de Tecnologia de Pavimentação (LTP) da Escola Politécnica (EP) da USP. Desde 2022, ela é docente no Departamento de Engenharia de Transportes, também da EP.
Kamilla conta que o ambiente no laboratório sempre foi muito acolhedor. Sob a coordenação da professora Liedi Bernucci, ela se sentiu confortável em fazer a escolha de ser mãe.
“A minha maternidade veio antes da minha estabilidade como docente. Eu precisei tomar uma decisão: poderia esperar a estabilidade para, aí sim, ir atrás da maternidade, mas eu já tinha 36 anos e não havia uma perspectiva de data. Eu não quis esperar mais. Sendo pesquisadora em uma instituição renomada, grande e concorrida como é a USP, exige muito da pessoa, profissionalmente, colocar uma maternidade dentro desse ciclo, vai afetar o processo. Seu corpo muda, você muda”, conta a professora. Ela acredita que o apoio fornecido pelos colegas de profissão foi essencial durante o período pré e pós-parto.
“Oficialmente, eu não tinha licença-maternidade. Mas o LTP era comandado por uma mãe e mulher, que tinha essa sensibilidade. Eu consegui ficar quatro meses em casa direto com o meu filho. Depois, até o sexto mês, eu voltei a trabalhar durante só um período, porque ele ainda estava na amamentação exclusiva. Eu consegui ajustar a minha rotina de trabalho frente à minha nova condição pessoal, que envolvia um bebê.”
Para além dos muros da Universidade, Kamilla também ressalta a importância de uma rede de apoio familiar. “A minha principal rede de apoio é o meu marido. A criação do nosso filho é feita em conjunto. Mas nós não temos uma grande rede de apoio extra, porque minha família é toda de Fortaleza. Eu tenho a minha sogra, que nos ajuda muito nos dias em que eu estou viajando. Mas, quando estou em São Paulo, somos apenas nós três.”
Kamilla relata que a gestão do tempo e a escolha entre demandas conflitantes são uns dos maiores desafios. “São tomadas decisões a todo instante. A professora Liedi já comentou comigo algumas vezes: ‘você tem que parar para pensar que abdicou de muita coisa para estar onde você está hoje. Você abriu mão de estar com a sua família, de descansar mais, para conseguir a carreira que você tem’.”
Ela menciona a ausência física como um dos dilemas mais presentes. “Eu perco o aniversário do meu filho todos os anos desde que ele completou 2 anos. Eu nunca estou com ele no dia 8 de janeiro, porque o congresso mais importante da área de transportes acontece nesse período sempre. Então, ele já sabe que ganhará dois parabéns. No dia oficial, quando eu comemoro virtualmente e aí, quando eu retorno, fazemos uma festa.”
Kamilla diz que agora, com nove anos, Luca já entende melhor o motivo das ausências da mãe e não sofre tanto com as viagens. “Eu tento não me culpar pelos momentos em que estou ausente. Eles já existiram e vão continuar existindo. Não poderei estar com ele 100% do tempo. Ele sabe que eu vou, mas volto.”
Pavimentação sustentável
Hoje, Kamilla coordena o LTP e se dedica a explorar possibilidades sustentáveis para materiais de pavimentação. “Temos alguns pilares dentro do nosso grupo de pesquisa. Eles estão relacionados à reciclagem dos pavimentos, reaproveitando os materiais após o término da vida útil das estruturas; ao uso de resíduos das outras indústrias, como plástico e minérios, na tentativa de absorver parte desses materiais para obras de infraestrutura de transporte; e, desde 2019, à análise de biomateriais como alternativas aos derivados do petróleo, elaborando materiais de pavimentação com uso de fontes renováveis”, explica a docente.
Historicamente, o desenvolvimento de tecnologias de pavimentação priorizava a questão técnica, buscando aprimorar fatores como resistência e durabilidade, sem tanta preocupação quanto ao impacto ambiental daquele material ou obra. Décadas atrás, ao final da vida útil, o pavimento era retirado e substituído, sem que fosse pensada uma forma de reaproveitar aqueles componentes. “Hoje, isso já não é mais concebível. A proposta é reciclar esse material. Qual a engenharia que pode ser aplicada nele para que ele passe a compor a nova estrutura restaurada?”, destaca.
Variáveis como o contexto do local, o tamanho da obra, o tipo de processamento e as características do material são levadas em consideração dentro da pesquisa de avaliação de desempenho ambiental, para que possa ser desenvolvido um material que efetivamente traga um ganho econômico e ambiental.
“Nossa proposta é tentar achar soluções que mitiguem o impacto que a atividade da infraestrutura provoca. A gente não consegue viver sem o transporte. As vias existem porque as pessoas precisam se deslocar: ir ao trabalho, à escola, ao hospital, etc. Mas também entendemos que o transporte é responsável por uma parcela expressiva das emissões de CO2 no mundo. É nosso papel usar e aprimorar o conhecimento para reduzir o tamanho desse problema” conclui Kamilla.
Mirian Stringasci
Mirian Stringasci recebe o Prêmio USP Mães Pesquisadoras na área de Ciências da Terra – Foto: Arquivo pessoal
Mirian Denise Stringasci é formada em Física pela Universidade Estadual de Campinas e concluiu os trabalhos de mestrado e doutorado pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP.
Mesmo com os desafios trazidos pelo processo de elaboração e defesa da tese de doutorado, ela optou pela maternidade durante esse período: “Na cabeça de muita gente, aquilo era uma loucura completa. Eu iria entrar na fase de prestar concursos tendo uma criança pequena. A gente sempre tem uma pressão: envolver-se em projetos, escrever e publicar artigos, prestar concursos. Tudo para não deixar o currículo desatualizado”.
Mirian conta que decidiu tentar conciliar a carreira na academia com a maternidade pois ambos eram grandes desejos seus. “A impressão, às vezes, é de que a gente não vai conseguir conciliar tudo. Você fica se perguntando, ‘será que eu não terei que abrir mão da carreira para ter um filho ou abrir mão de ser mãe para ser bem-sucedida?’. A gente precisa tomar uma decisão. Eu decidi ter filhos e me dedicar na vida profissional. Tive meu primeiro filho no final do doutorado e o segundo quatro anos depois”, relata.
“Por isso eu gostei muito desse concurso [Prêmio USP Mães Pesquisadoras]. Acho que ele ajuda a dar visão para outras mulheres. Será que é possível seguir a carreira e ter filhos, sem abrir mão de uma dessas coisas? Elas, vendo que é possível, acredito que ajude muito.”
A pesquisadora é mãe de Gabriel (7) e Rafael (3). Ela relembra que, na primeira gestação, a organização foi fundamental para conciliar as demandas. Assim que terminou de escrever a tese, afastou-se para a licença-maternidade. Ainda durante as primeiras semanas de vida de Gabriel, escreveu e submeteu um projeto para uma bolsa de pós-doutorado, que foi aprovado. Ao fim dos seis meses de afastamento, ela defendeu o doutorado e implementou a nova bolsa em seguida.
Mirian compara esse episódio com o da segunda gravidez: “Na época da gestação do meu filho mais novo, eu tentei correr com um monte de projetos. Pensava ‘não vou deixar o meu currículo defasado’. Mas aí ele completou um ano, e eu vi que não tinha conseguido atingir o número de publicações que eu queria. Eu não tive o mesmo rendimento de antes porque não tive como. Eu me culpei um pouco por conta disso. Eu queria provar para mim mesma que eu daria conta. Isso causa uma frustração na gente”, admite.
Ela também diz ter tido muito apoio da família e dos colegas de trabalho para conciliar as esferas acadêmica e familiar. “Eu me sinto uma pessoa bem favorecida porque tenho mãe e sogra bem próximas, então tenho muito apoio. Eu escrevi isso na minha carta de inscrição do prêmio. Às vezes é muito difícil… você tem compromissos e a criança está doente, então como você deixa ela em casa e vai ao laboratório?”
Fototerapia no combate ao câncer
Atualmente, Mirian integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica do IFSC. Em sua pesquisa, ela busca maneiras de associar rádio e fototerapia em procedimentos de combate ao câncer.
A radioterapia é uma técnica comumente utilizada no tratamento do câncer. Ela consiste em direcionar raios ionizantes para a região do corpo onde o tumor está localizado, destruindo as células cancerosas e evitando que elas se multipliquem.
Como os raios ionizantes têm uma elevada taxa de penetração nos tecidos biológicos, a radioterapia é uma técnica muito eficaz. Entretanto, pelo mesmo motivo, ela pode provocar efeitos colaterais, tais como câncer secundário, morte de tecidos adjacentes à área do tumor e debilitação.
Já a fototerapia é menos invasiva, mas também menos eficaz. Ela é utilizada internacionalmente no tratamento de alguns tipos de câncer e, no Brasil, é liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser utilizada nos casos de câncer de pele não melanoma — tipo mais comum de câncer de pele entre os brasileiros.
“Eu procuro associar os tratamentos para ter um que seja bem eficaz e que provoque menos efeitos colaterais. Para a terapia fotodinâmica, ainda não existem protocolos fechados e há muito a ser aprimorado para melhorar a eficácia”, explica a pesquisadora.
O tratamento explorado por Mirian utiliza a luz. Então, é necessário que o paciente receba um medicamento fotossensibilizador, que pode ser via oral, injetável ou tópico. Durante o processo, são fatores importantes o tamanho e a localização – parte do corpo, profundidade e vascularização da região. É preciso que as células absorvam tanto o medicamento quanto a luz que será incidida.
Para evitar que as células saudáveis absorvam o medicamento destinado às células tumorais, são utilizadas moléculas seletivas, ou seja, que possuam características físico-químicas que potencializem sua absorção apenas pelas células-alvo. A molécula utilizada no tratamento irá definir o comprimento de luz que será usado nas sessões de tratamento. Mirian cita como exemplo a porfirina, substância que absorve a luz no comprimento de 400 nanômetros, o que corresponde à luz azul. A energia da luz é absorvida e transferida para os átomos de oxigênio do tecido. O oxigênio se transforma em uma espécie reativa e citotóxica, causando a morte do tumor.
A física de formação conta que, no ano passado, foi feita uma submissão para a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que considerou a terapia fotodinâmica um procedimento custo-efetivo para ser implementado no SUS. Até então, o tratamento era realizado apenas em clínicas particulares ou em centros de saúde parceiros da Universidade.
“Essa vai ser a primeira técnica a ser implementada no SUS que foi solicitada por uma universidade pública. Geralmente, as implementações derivam de submissões feitas por empresas. Essa é a primeira submissão aprovada que foi feita por uma universidade”, destaca Mirian.
Cassia Fernandez
Cassia Fernandez recebe o Prêmio USP Mães Pesquisadoras na área de Ciências Exatas – Foto: Arquivo pessoal
Cassia Fernandez concluiu o bacharelado em Física com habilitação em Astronomia pela USP em 2011. Anos depois de formada, voltou à academia para realizar o mestrado e o doutorado na área de educação das ciências, orientada pela professora Roseli Lopes, no Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas (Citi) da USP.
Foi durante a elaboração da atual tese de doutorado que Cássia gestou os três filhos: o primogênito Matias (5) e os gêmeos caçulas Julio e Ana (2). “Todo o meu doutorado foi permeado pela maternidade. Meu marido também é pesquisador e os gêmeos nasceram prematuros, na semana em que ele precisava entregar a tese. Então, foi bem difícil. É bem desafiador”, relembra.
Ela concilia a maternidade dos três filhos, a atividade como pesquisadora da USP e o trabalho na Universidade de Columbia. “Eu faço o doutorado e tenho outro trabalho para pagar as contas, porque não recebo bolsa. Não daria para sustentar minha família com a bolsa, então eu atuo como pesquisadora também na Universidade de Columbia”, explica a doutoranda. Cássia diz que a compreensão e o amparo são muito importantes para que esse equilíbrio entre demandas funcione.
“A pessoa com quem eu mais interajo é a minha orientadora. Por ser mulher e mãe, ela é muito compreensiva. Recentemente, eu tive um problema familiar e precisei desmarcar alguns compromissos relacionados à Universidade. A resposta dela foi: ‘claro, família em primeiro lugar’. Eu achei essa fala tão maravilhosa!”
Ela menciona a mãe, a sogra e a cunhada como figuras da rede de apoio familiar. “A minha família é muito acolhedora. Eu acho que sem ela eu não conseguiria. Talvez eu já tivesse até desistido do doutorado”, admite.
Cássia relata que abrir mão de certas ambições desejadas na carreira de pesquisadora é um dos obstáculos mais frustrantes. “Eu sempre tive o sonho de fazer um doutorado-sanduíche em Columbia, onde meu co-orientador atua. O trabalho dele tem tudo a ver com a minha área de pesquisa. Quando o Matias nasceu, isso ainda era algo possível. Mas, depois que os gêmeos vieram, não houve mais essa possibilidade. Não dá para ficar seis meses ou um ano fora do Brasil com três crianças pequenas. Nos EUA, não existe nem creche gratuita para crianças dessa idade”, explica.
A pesquisadora coloca o companheiro, também cientista, como um de seus maiores incentivadores. “Meu marido entende a questão da pesquisa e me apoia muito. Ele diz: ‘vai, a gente dá conta. A gente pensa num jeito e vai dar tudo certo’”. Entretanto, ela relata sentir uma pressão advinda de si mesma. “Eu acho que tenho uma cobrança interna minha. De sentir que não sou tão boa mãe, se vou me dedicar a ir a eventos e ficar muito tempo longe. Sempre vai ser algo muito difícil, pelo menos nos próximos anos.”
Visualização criativa de dados
Hoje, a pesquisa de Cássia no Citi envolve o desenvolvimento de formas criativas para visualização e análise de dados, bem como o mapeamento de trajetórias de aprendizagem infantil no universo da programação.
“Eu queria resolver um problema que via muito. Existem muitas bases de dados disponíveis para serem usadas, mas não há tantas formas interessantes de os alunos analisarem e construírem visualizações para esses dados que não sejam planilhas ou coisas muito fechadas.”
Para a pesquisa, ela e o colega Adriano Freitas fizeram uma modificação em uma das extensões da plataforma Scratch para tornar o ambiente de programação em blocos existente na plataforma mais adequado para o trabalho de visualização de dados. “Nele, além da criação de modelos de visualização canônicos, como barras, dispersão e linhas, é possível criar animações, música, obras de arte. É possível explorar uma diversidade de formas de visualização para que os alunos se engajem nesse processo, criando algo mais relacionado aos interesses deles para comunicar ideias”, explica Cássia.
Além da elaboração da ferramenta, um produto secundário da pesquisa foi o desenvolvimento de um método para análise automática de trajetórias de aprendizagem de programação com visualização de dados. Na plataforma, foi inserido um mecanismo para captura automática dos dados, enquanto os alunos interagiam com as ferramentas .
“Se eles clicam num bloco e o arrastam, se juntam ou separam blocos, se eles rodam o programa, tudo que eles fazem ali fica registrado. E aí, para cada projeto de cada aluno, eu tenho um documento chamado log file, que tem ali tudo que ele fez a cada momento”, informa a pesquisadora.
É usada uma técnica de machine learning para extrair informações desse conjunto imenso de dados. Somado a esses dados, os vídeos gravados durante a interação dos alunos permitiram que fossem caracterizados momentos de inspeção de dados e de construção do programa.
“Eu consegui descrever o que cada microtarefa era e, a partir disso, fazer uma análise automatizada de dezenas de horas de programação dos alunos. Com isso, consigo criar as trajetórias de aprendizagem desses alunos, ver como cada um evolui e como essas tarefas são distribuídas”, afirma.
Cássia explica que esse conhecimento é de grande relevância, e não apenas para a área da educação em ciências. “Eu acho que a programação é cada vez mais central em todos os domínios do conhecimento. Aprender a programar é uma forma de aprender a pensar também. Não é só uma habilidade técnica, é também uma forma de refletir sobre o seu raciocínio”.
A ferramenta permite uma forma construcionista de aprendizagem, em que alunos não só recebem as informações, mas também se engajam na construção do conhecimento de maneira ativa. “Eu acho que isso vai nos ajudar a entender melhor o modo como as crianças aprendem de forma mais interdisciplinar, olhando por vários ângulos”, destaca Cássia.
*Estagiária supervisionada por Tabita Said
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