Uma arte que revela a cidade e os cidadãos

Alfonso Ballestero registra o cotidiano dos moradores das ruas de São Paulo em exposição no Museu Casa da Xilogravura

 22/01/2020 - Publicado há 5 anos
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Xilogravura da exposição Alfonso Ballestero e suas “flores silvestres” – Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura

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Uma senhora sentada na calçada entre os poucos pertences – um cobertor, sacos de papel, mochila, garrafas de refrigerante e um carrinho desses de feira – lê atentamente um livro de muitas páginas.  Está ali mergulhada em outra história, no mundo e fora do mundo.  Outro cidadão sentado em uma escada qualquer,  de pernas cruzadas,  olha, com altivez, a fumaça de seu cigarro …  – Estas e outras imagens de cidadãos que São Paulo ignora estão na exposição Alfonso Ballestero e suas “flores silvestres” na Casa da Xilogravura, em Campos do Jordão.

“Esses registros foram colhidos dentro do perímetro do centro expandido de São Paulo”, conta Ballestero. “Começaram a fluir num lampejo do olhar. Estava voltando para o meu ateliê quando, daquele olhar sem ver, algo me tocou. Peguei a minha máquina fotográfica e encontrei o tema do meu doutorado: Flor Silvestre.”

O artista paulistano passou a flagrar as atividades, como ele próprio explica, do ser humano em seu cotidiano. “Pessoas que estão em todos os lugares e em lugar algum.” Ballestero compara os moradores de rua às flores silvestres que crescem invisíveis pela cidade. “Caminhamos sem notá-las e muitas vezes acabamos pisando sobre elas.”

Na mostra, Ballestero fez uma seleção de 29 imagens apresentadas em seu doutorado, em 2007, em Poéticas Visuais no Departamento de Artes Plásticas na Universidade de São Paulo. Sob a orientação de Evandro Carlos Jardim, as fotografias foram recriadas em desenhos para pranchas de MDF. Depois de entalhadas, entintadas, foram impressas e, como xilogravuras, surpreendem pela força expressiva entre luzes e sombras, pela textura das linhas e equilíbrio na composição.

“Minha intenção é apresentar imagens de impacto que despertem o olhar das pessoas ”, observa o artista. A exposição Alfonso Ballestero e suas “flores silvestres” é um convite para refletir sobre a importância da arte na compreensão da realidade, instigando o olhar para a paisagem humana.

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Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura
Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura

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Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura
Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura
Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura

 

Museu Casa da Xilogravura: acervo único no País

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Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura

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Fundado por Antonio F. Costella, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, o Museu Casa da Xilogravura reúne obras de mais de mil artistas do Brasil e do exterior. O projeto de fundar o museu foi sendo impresso aos poucos, com o mesmo cuidado de uma xilogravura.

Costella decidiu adaptar a sua casa branca entre as araucárias e montanhas de Campos do Jordão. Uma construção de 1928, na Vila Jaguaribe, que sediou o Mosteiro de São João, onde viviam as freiras beneditinas. “A garagem, outros dois cômodos foram sendo reformados para que pudessem exibir as xilogravuras. Abri uma porta e um portão em direção à praça da igreja de Nossa Senhora da Saúde para que as pessoas se sentissem à vontade para entrar e visitar.”

Na tarde de 17 de julho de 1987, o Museu Casa da Xilogravura, o primeiro do País, foi inaugurado. “Na época, não imaginei que fosse crescer tanto, a ponto de ocupar todos os espaços da casa e muitos outros que construí para ele. Diante do crescimento do acervo, transferi a minha residência”, conta o professor.

Além de crescer em área e coleções, tornou-se uma referência importante da xilogravura brasileira e internacional. Seu acervo reúne milhares de obras assinadas por xilógrafos do Brasil, Alemanha, Suíça, França, Espanha, Portugal, Itália, Inglaterra, Espanha, República do Sudão, China, Japão, Estados Unidos, Argentina, Peru entre outros.

Por disposição testamentária de Antonio F. Costella, o Museu Casa da Xilogravura, com o seu acervo e imóvel, será integrado à Universidade de São Paulo. “A decisão de deixar esse patrimônio para a USP é a certeza de que o acervo continuará sendo apreciado pelo público, destacando-se como uma referência para os artistas e pesquisadores e contribuindo com a arte brasileira, o ensino e a pesquisa”, destaca o fundador.
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Foto: Divulgação/Casa da Xilogravura

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A mostra temporária  Alfonso Ballestero e suas “flores silvestres”, pode ser  vista até 23 de março. Entrada: R$ 10,00 (idosos, professores e estudantes com carteirinha pagam meia-entrada). Grátis para menores de 12 anos. A Casa da Xilogravura está aberta ao público das 9 às 12 e das 14 às 17 horas, diariamente, de 5ª a 2ª feira.  (Fecha terças e quartas-feiras), fica na Avenida Eduardo Moreira da Cruz, nº 295 – Vila Jaguaribe.  Campos do Jordão – SP. Mais informações pelo fone: (12) 3662-1832. Site: www.casadaxilogravura.com.br        

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