O Teatro da USP (Tusp) e o Centro Universitário Maria Antonia, também da USP, organizam a oficina Sobre a Arte do Roteiro, de 17 de novembro a 10 de dezembro, com a participação de roteiristas e cineastas. Serão realizados oito encontros às terças e quintas-feiras, de forma virtual e gratuita. As aulas contarão com a presença de artistas do audiovisual, que discutirão a teoria e a prática do roteiro a partir de suas obras. Para participar, é necessário se inscrever pelo link até o dia 10 de novembro.
De acordo com o dramaturgo Sérgio Ricardo de Carvalho Santos, diretor do Tusp e vice-diretor do Centro Universitário Maria Antonia, a ideia da oficina surgiu quando ele percebeu um aumento do interesse geral pelo audiovisual durante a pandemia, por conta das medidas de distanciamento social. “Os artistas precisaram discutir de que maneira o teatro pode continuar existindo por meio das telas. Eu senti necessidade dessa temática e acho que o teatro tem o que aprender com o cinema”, conta o dramaturgo.
Santos explica que o objetivo da oficina é trazer diferentes visões sobre ficção e representação, contrapondo o modelo que define como clichê: “Costumamos ser bombardeados por um só tipo de representação, esse modelo de herói que luta contra o sistema ou contra seus demônios internos, ainda mais nesta época em que ficamos casa. Queria que as pessoas vissem que existem muitas formas de escrever histórias”. Ele também ressalta a importância da temática do roteiro como espaço de debate e invenção nas produções audiovisuais.
Para isso, o diretor decidiu convidar artistas cujo interesse comum é o diálogo entre o cinema e a realidade, que buscam repensar o imaginário do Brasil. A escolha dos temas ficou a critério de cada convidado, com a orientação de que seja uma conversa que ajude os inscritos a produzir. “Eu queria que fossem pessoas que gostassem da pedagogia do roteiro e que não tivessem um trabalho apenas industrial”, afirma.
Entre os participantes estarão Affonso Uchôa e João Dumans, diretores do longa-metragem Arábia, que ganhou o prêmio de Melhor Filme no 50º Festival de Brasília. Dumans conta que abordará a relação do roteiro com a literatura para instigar maneiras de retratar a realidade brasileira para além do estilo naturalista e realista. “A ideia é mostrar como o teatro e a literatura podem oferecer ao cinema formas e modelos de representação da realidade que fogem aos desenhos das narrativas convencionais, nos quais a maior parte dos filmes que a gente vê foram estruturados.” O diretor pretende trabalhar também conceitos do crítico e dramaturgo francês Jean-Pierre Sarrazac e a criação de narrativas descontínuas, a partir de diferentes realidades.
A cineasta Nina Kopko, tutora do Laboratório de Roteiros da Escola Porto Iracema das Artes, também ministrará um dos encontros da oficina, com um exercício sobre personagens. “Escolhi esse tema porque percebo que uma das maiores falhas está na construção de personagens complexas, que não existem só para fazer a história funcionar. O personagem complexo é alguém que existe para além do filme, que é contraditório, que gera identificação ou até repulsa”, explica. Nina diferencia o processo de construção do roteiro, que é lógico, da criação do personagem, fruto da imaginação e do caos, e diz que tentará oferecer ferramentas para a segunda.
A oficina também contará com os artistas Marco Dutra, Caetano Gotardo, Jaqueline Souza, Marta Nehring e Alice Marcone.
A programação completa da oficina Sobre a Arte do Roteiro está disponível neste link.
