Site preserva a intensa atividade artística de Sérgio Ricardo

Músicas, filmes, pinturas e textos do artista estão reunidos na plataforma “Sérgio Ricardo Memória Viva”

 16/12/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 14/06/2024 as 15:42
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Sérgio Ricardo – Foto: acervo digital Sérgio Ricardo Memória Fotomontagem/Jornal da USP

A arte do multiartista paulista João Lutfi, popularmente conhecido como Sérgio Ricardo (1932-2020), agora está mais perto do público. Cerca de quatro meses após sua morte, ocorrida em 23 de julho passado, aos 88 anos, foi lançado um site dedicado a preservar a memória dos mais de 70 anos de atividade cultural do artista. O acervo digital Sérgio Ricardo Memória Viva reúne mais de 5 mil itens, incluindo partituras, letras de músicas, livros, versos, desenhos, telas, depoimentos, fotografias e registros pessoais inéditos da trajetória de Sérgio Ricardo. O espaço virtual está sob direção da filha do artista, Marina Lutfi, que conta com uma equipe de mais de 40 profissionais. Um vídeo sobre essa iniciativa está disponível neste link.

No site é possível ouvir as músicas do primeiro LP de Sérgio Ricardo, Dançante Nº1, lançado pela Todamérica em 1958. Nele o músico interpreta ao piano canções instrumentais de outros autores e algumas de sua própria autoria, como 3D, Máxima Culpa, Puladinho e Uma Canção a Mais, que podem ser ouvidas enquanto se observa a capa e a contracapa da versão física original do disco. 

Capa do disco Dançante nº1, o primeiro lançado por Sérgio Ricardo, em 1958 – Foto: site Sérgio Ricardo Memória Viva

Materiais mais recentes mostram a evolução de Sérgio Ricardo, que começou pela música e avançou para outras formas de fazer arte. Numa entrevista realizada em 2019, no Rio de Janeiro, ele fala sobre a percepção que tinha do seu próprio crescimento artístico. Para ele, a melodia, harmonia e o ritmo, que estruturam e fundamentam a música, estão em todas as outras linguagens artísticas. “Meus sentidos todos gostam de se manifestar. É por isso que pinto um quadro, escrevo um verso, toco uma música, faço um filme. Acho que é tudo a mesma coisa”, diz. Na entrevista, ele confessa sua afeição pelo cinema. “No cinema você pode condensar todas essas artes. É o que eu mais gostaria de fazer.” 

E Sérgio Ricardo fez. Também conhecido pela criação no cinema e na televisão, ele produziu seis filmes, entre curtas, médias e longas-metragem, e uma animação digital. Em Sérgio Ricardo Memória Viva estão disponíveis materiais de todas as produções, incluindo fotografias do seu último longa, Bandeira de Retalhos, de 2018. As imagens mostram os bastidores da produção, com o elenco do grupo Nós do Morro, no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, onde Sérgio morou por longos anos e fez da resistência dos moradores da região o tema do filme. Além disso, há uma coletânea jornalística que traz um panorama da repercussão de suas realizações pelo Brasil. No jornal O Globo, uma matéria de dezembro de 2009 noticia a vitória de Bandeira de Retalhos num festival promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil daquele ano. 

A plataforma reúne 60 depoimentos em vídeos de pessoas próximas do artista. Em um deles, o ator Babu Santana, que atuou no Bandeira de Retalhos, expressa seu carinho e admiração por Ricardo. “Foi o maior orgulho fazer um filme seu.” 

Das telas de cinema para o óleo sobre tela, no acervo estão 36 obras no campo das artes plásticas de autoria de Sérgio Ricardo. Um vídeo mostra o pintor no processo de criação de uma de suas telas, no Rio de Janeiro, em 2015, com a técnica de pintura com os dedos, em vez de pincéis. Em outro vídeo, que exibe o artista assinando algumas telas, ele diz em tom de brincadeira: “Ficou bonito esse troço, hein?”. E ironiza: “Vou botar meu nome, vai estragar tudo.” 

O momento em que Sérgio Ricardo joga o seu violão para a plateia, depois de quebrá-lo em público, no 3º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record de São Paulo, em 1967 – Foto: site Sérgio Ricardo Memória Viva

O site apresenta ainda a obra de Sérgio Ricardo como escritor. Uma de suas obras mais famosas é o livro Quem Quebrou Meu Violão, em que analisa a cultura brasileira entre os anos 1940 e 1990. O título faz referência ao episódio em que ele quebrou e jogou seu violão para a plateia, durante o 3º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record de São Paulo, em 21 de outubro de 1967, evento que marcou sua história. Uma matéria no jornal Última Hora, de outubro daquele ano, também destacada no site, comenta: “Sérgio Ricardo perdeu a paciência e gritou: vocês são uns animais. Quebrou o seu violão e o jogou no público de sábado à noite no Teatro Paramount. Era o fim do Festival da Música Popular Brasileira”.

Em outro depoimento, o guitarrista Pablo Soares destaca a importância do artista para a cultura do Brasil. Para ele, a intensa atividade artística de Sérgio Ricardo não era um fim em si mesmo, mas “um meio para atingir um objetivo muito maior: mergulhar no Brasil profundo”.

O site Sérgio Ricardo Memória Viva pode ser acessado através deste link. Clique aqui.


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