São Paulo recebe as cores de Paris

Paul Cézanne, Toulouse-Lautrec e Paul Gauguin, entre outros grandes mestres franceses, estão em São Paulo. A exposição “O Triunfo da Cor”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), apresenta 75 obras de 32 pintores considerados os expoentes do Pós-Impressionismo. Elas integram o acervo do Museu d’Orsay e do Museu de l’Orangerie e trazem a cultura francesa para o centro da cidade

 22/06/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 24/06/2016 às 14:45
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Exposição O triunfo da cor "O pós-impressionismo: obras-primas do Musée d’Orsay e do Musée de l’Orangerie" - Foto: Cecília Bastos/Usp Imagem
Exposição “O Triunfo da Cor”: obras vieram dos museus d’Orsay e l’Orangerie, de Paris – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

Encontrar Paul Cézanne na paisagem de Aix-en-Provence com o vento entre as árvores ou na leveza de um vaso azul com as flores desabrochadas. Flagrar a bailarina quase nua de Toulouse-Lautrec. Apreciar a luz do jardim de Monet. São essas paisagens que a mostra “O Triunfo da Cor”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, oferece ao público ao reunir 75 obras que integram os acervos dos museus d’Orsay e l’Orangerie, ambos de Paris, na França.

Exposição O triunfo da cor. O pós-impressionismo: obras-primas do Musée d’Orsay e do Musée de l’Orangerie no Centro Cultural Banco do Brasil. foto Cecília Bastos/Usp Imagem
A exposição “O Triunfo da Cor”,  no Centro Cultural Banco do Brasil – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

É essa sensação de estar entre o azul, o amarelo, o marrom, o verde, vermelho e os tons que se embaralham e vibram no Pós-Impressionismo que a mostra procura destacar. A curadoria é de Guy Cogeval, presidente dos museus d’Orsay e l’Orangerie, Isabelle Cahn, historiadora e pesquisadora das mesmas instituições, e Pablo Jimènez Burillo, diretor cultural da Fundación Mapfre, que também patrocina o evento. “A exposição reúne os mestres que, no fim do século 19, depois do Impressionismo, impulsionaram a evolução da pintura e impuseram uma visão pessoal que refletia sensações e experiências subjetivas”, explica Isabelle. “Eles pressentiam que a cor, por si só, expressava alguma coisa, e puseram-se a descobri-la e explorá-la.”

A historiadora lembra que, desde então, pesquisadores e críticos vêm estudando e analisando o processo de criação e a influência desses artistas. “Importantes autores desentranharam e explicaram abundantemente o sentido e a intenção que os movia. Por outro lado, nossa percepção de arte se alterou significativamente, e aquilo que em um determinado momento foi revolucionário e escandoloso, quando não abertamente incompreensível, integra, hoje, com naturalidade, o nosso imaginário comum.”

O olhar da USP

Na USP, os estudantes, pesquisadores e professores do Museu de Arte Contemporânea (MAC) e da Escola de Comunicações e Artes (ECA) vêm desenvolvendo diversos estudos que refletem sobre as dúvidas de Cézanne, os sonhos de Monet e a influência dos mestres do Pós-Impressionismo na arte contemporânea brasileira.

A exposição “O Triunfo da Cor” é, como assinala Elza Ajzenberg, professora do MAC e da ECA, um estímulo à arte e à cultura no País. “As iniciativas do CCBB, através de exposições e montagens de referência, têm sido importantíssimas. Propiciam momentos de grande aprendizado e alimentam a sensibilidade artística de todos os visitantes.”

Elza - Foto: Cecília Bastos
Elza Ajzenberg – Foto: Divulgação

Elza tem se dedicado a pesquisar o acervo do Museu d’Orsay que, na sua avaliação, oferece um nicho de reflexão fundamental para a história da arte moderna. “O contexto se encontra na passagem do século 19 para o século 20, logo após o movimento Impressionista. A expressividade através da cor ganha a atenção de novos movimentos e artistas”, observa. “O alvo é permitir que a cor potencialize maior liberdade e independência, afastando-se do denominado tom local ou da correspondência entre o mundo externo naturalista e  os registros na tela.”

A professora orienta os visitantes da exposição a observar atentamente as obras de Vincent Van Gogh, Henri de Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin, Paul Cézanne, Claude Monet, Henri Matisse e Georges Seurat. Para os estudantes e os interessados em história da arte, Elza chama a atenção para um olhar mais aprofundado nas múltiplas abordagens. “A cor pode corresponder a uma visão científica, como propõem os divisionistas ou pontilhistas. Ou seja, através da fragmentação do pigmento e pinceladas na tela, ocorre a síntese ótica, acompanhando as experimentações de Georges Seurat ao construir o universo cromático, citado na sua Carta das Harmonias.  

Elza chama a atenção para a tela Domingo à Tarde na Ilha da Grande Jatte, pintada por Seurat em 1884, um óleo sobre madeira que destaca a contemplação da natureza. Destaca também a decomposição do espectro da luz, mais emocional, por exemplo, nas obras de Van Gogh e mais simbólica nas obras de Émile Bernard e Maurice Denis. “Unem-se reflexões filosóficas ou buscas de utopias em cores chapadas e, ao mesmo tempo, dinâmicas, construídas durante as viagens de Gauguin.”

No Brasil, segundo a professora, muitos artistas estão envolvidos no debate da cor. “Há a independência cromática ou ‘cor emoção’, como na obra de Anita Malfatti. A diluição cromática alcançada por Monet, através de seus estudos sobre o espelho d’água – reflexos do reflexo –, é precursora da inserção da abstração informal”, explica. “A USP tem, em seus acervos, no Museu de Arte Contemporânea e no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), obras de diversos artistas ocupados nessa dinâmica. Lembramos Giácomo Balla, artista mais conhecido por sua contribuição ao Futurismo que, em sua obra Paisagem (1906-1907), expressa uma versão italiana do Divisionismo. Em síntese, “O Triunfo da Cor” é uma exposição imperdível. Assinala mais uma vez a arte como território livre, que rompe limites e fronteiras.”

Encontro sensível

Gabriela - Foto: Cecilia Bastos/USP Imagem
Gabriela Abraços- Foto: Cecilia Bastos/USP Imagem

Gabriela Abraços, doutoranda do Programa Interunidades de Estética e História da Arte da USP, vem planejando há muito tempo viajar para a França e conhecer de perto o acervo dos museus d’Orsay e  l’Orangerie. Uma viagem que a mostra “O Triunfo da Cor” propicia gratuitamente. Gabriela fica feliz ao ver de perto as obras que há tanto tempo vem pesquisando. “Esta visita evidencia a importância do contato visual e pessoal com os quadros e a diferença de compreensão de obras vistas a partir de livros ou pranchas de reproduções. Essa visualidade oferece a riqueza dos ritmos das faturas e das massas de tintas, que são elementos constituintes da obra. Uma percepção que a reprodução da imagem não possibilita.”

Enquanto aprecia cada detalhe das obras distribuídas em quatro módulos, Gabriela comenta: “As seções estão organizadas de modo a levar o visitante a transitar cronologicamente pelos encaminhamentos do período Pós-Impressionista, de modo a realocar a importância da cor no patamar artístico. Se na tradição clássica a cor figurava como um preenchimento do contorno do desenho, a trajetória dos diversos artistas pós-impressionistas nos revela como a cor chega ao seu triunfo a ponto de divorciar-se do contorno e a assumir, ela mesma, a função de delineadora do motivo e da imagem”.

Gabriela orienta o visitante a sentir a luz de cada quadro. “Nas obras apresentadas, verifica-se não mais o jogo de luz e sombra para simular a ilusão de um foco externo de luz, mas destaca-se o artifício luminoso criado pela interação das próprias cores que, cuidadosamente encadeadas e articuladas, trazem ao espectador uma luz que emana de dentro do próprio quadro, tornando-o independente da realidade externa.”

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A exposição “O Triunfo da Cor” fica em cartaz até 7 de julho, de quarta a segunda-feira, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (rua Álvares Penteado, 112, centro, em São Paulo). A partir de 20 de julho, a mostra ficará no CCBB do Rio de Janeiro (rua Primeiro de Março, 66, centro) até 17 de outubro. Entrada grátis.

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