Com a conferência “A Modernidade e suas Ambivalências”, proferida no dia, 17, terça-feira, o cientista político, filósofo e diplomata Sergio Paulo Rouanet deu início às atividades da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, uma parceria entre o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e o Instituto Itaú Cultural, patrocinador da iniciativa. Primeiro ocupante da cátedra, Rouanet fez a conferência na Sala da Congregação da Faculdade de Medicina (FM) da USP.
Na conferência, Rouanet discutiu a modernidade a partir de seu lastro proveniente dos ideais iluministas. Disse que a modernidade se institucionalizou em duas vertentes – ou “vetores” -, que incorporam aspectos uma da outra: a funcional e a emancipatória.
A noção de que a modernização representa, principalmente, eficácia pode ser encontrada nas ideias do sociólogo Max Weber, afirmou. “Esse conceito é o que prevalece na literatura especializada e nas políticas de desenvolvimento econômico e social.” Trata-se, de acordo com Rouanet, de um conceito funcional de modernidade, com a concepção de que numa sociedade moderna as instituições funcionam melhor do que numa sociedade arcaica. Ele identifica essa vertente com a globalização.
A vertente emancipatória, por sua vez, considera uma sociedade moderna se seus subsistemas (econômico, político e cultural) também proporcionam o máximo de autonomia possível para os indivíduos, disse Rouanet.
Nessa concepção, a modernidade significa, segundo ele: na esfera econômica, o indivíduo obter pelo trabalho os bens e serviços necessários ao próprio bem-estar; na esfera política, a capacidade de exercer a cidadania; e, na esfera cultural, o livre uso da razão, “num contexto institucional que garanta a todos o direito à produção cultural e o direito de acesso à cultura”.
A cerimônia de inauguração contou com a presença do pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária, Marcelo de Andrade Roméro, do diretor do IEA, Paulo Saldiva, do diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, e da socióloga e educadora Maria Alice Setúbal, filha de Olavo Setubal (1993-2008).
Rouanet foi apresentado por seu colega da Academia Brasileira de Letras (ABL) Alfredo Bosi, Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e professor honorário do IEA.
A conferência teve como comentadores o ex-presidente da Fapesp, Celso Lafer, Professor Emérito da Faculdade de Direito e também membro da ABL, Renato Janine Ribeiro, professor da FFLCH e ex-ministro da Educação, e Barbara Freitag, Professora Emérita da Universidade de Brasília (UnB) e mulher de Rouanet. O evento foi encerrado pelo professor Martin Grossmann, ex-diretor do IEA e coordenador científico da cátedra.
Todos destacaram a importância de a cátedra ser fruto de uma parceria entre uma universidade pública e uma instituição privada em prol da arte e da cultura. Também ressaltaram o perfil peculiar de Setubal como empresário, que sempre se destacou no apoio à cultura. Em 1975, quando era prefeito da capital, definiu a construção de uma grande biblioteca pública, que depois se tornou o Centro Cultural São Paulo, e criou o Itaú Cultural, em 1987.
Quanto à escolha de Rouanet para primeiro ocupante da cátedra, Saron e Grossmann disseram que o seu nome surgiu naturalmente quando procuraram identificar um intelectual com participação decisiva na elaboração e implantação de políticas de apoio à cultura. Rouanet foi secretário nacional de Cultura em 1991 e 1992, época em que propôs a lei de incentivo fiscal em apoio à cultura que leva seu nome.
MAURO BELLESA
Especial para o Jornal da USP