“O Lô está lá na esquina com o clube dele.” Dizem que era assim que respondia a mãe de Salomão Borges, o Lô, quando o procuravam. E na esquina também estavam seu irmão mais velho, Márcio, e o amigo dele, Milton. Foi um convite de Milton a Lô, para gravarem um disco juntos, que deu origem não só a dois nomes gigantes da MPB, Lô Borges e Milton Nascimento, mas também ao místico e lendário movimento Clube da Esquina.
Nesta edição do programa USP Especiais, transmitido pela Rádio USP ((93,7 MHz), a convidada foi a musicista e socióloga Sheila Castro Diniz, autora do livro De tudo que a gente sonhou: Amigos e canções do Clube da Esquina. A autora contou sobre a origem e trajetória do grupo, os mitos e verdades que circundam sua história, e também falou sobre a linguagem usada pelos compositores.
Surgido no bairro de Santa Tereza, na capital mineira, o Clube da Esquina atuou principalmente durante as décadas de 1960 e 1970, e se valia de símbolos tradicionais mineiros para comentar sobre o momento que os músicos viviam. Segundo Sheila, um dos mais fortes ícones da cultura mineira, a Inconfidência, foi um tema explorado pelos compositores para criticar os tempos da ditadura. “Aquela coisa de confabular pela liberdade no escuro está muito presente na música”, conta a socióloga.
Sheila explora dois aspectos principais sobre a música do Clube, a representação da experiência mineira, a chamada “mineiridade”, e a influência do romantismo sobre as composições, que lança mão de valores e ideias do passado para criticar o presente. Além disso, a autora situa essas composições em seu respectivo momento de criação, o cenário tenso da ditadura militar, assim como o envolvimento de músicos do grupo em movimentos contra o regime, e o uso da música como voz contra a opressão.
Encantamento com a vida, comunitarismo, valorização da natureza, tudo isso se faz presente, segundo Sheila, na música do Clube. Você ouve mais na entrevista completa, no player acima.