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As saídas fotográficas de bicicleta feitas pelo sociólogo, historiador e ensaísta Gilberto Freyre ao lado de seu irmão, Ulysses Freyre, são tema de palestra no Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc. O evento acontece nesta sexta-feira, dia 11, das 14 às 16 horas.
A apresentação será realizada pela jornalista e fotógrafa Luciana Cavalcanti e terá como base a sua dissertação de mestrado, apresentada em 2016 no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP. No trabalho, intitulado Diários fotográficos de bicicleta em Pernambuco: os irmãos Ulysses e Gilberto Freyre na documentação de cidades na década de 1920, Luciana estudou 84 fotografias feitas entre 1923 e 1925 por Ulysses, em excursões dominicais realizadas com o irmão.

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Os passeios e registros se inserem no contexto da volta de Gilberto Freyre ao Brasil, após cinco anos de estudos nos Estados Unidos. Durante as saídas de bicicleta, Ulysses registrou prédios e ruas das cidades pernambucanas de Olinda e Recife. De acordo com Luciana, o objetivo dessas empreitadas era fotografar edificações que, para Gilberto Freyre, iriam provavelmente desaparecer com as intensas reformas urbanas em andamento na década de 1920.

“Saíam juntos”, explica a pesquisadora, “porque andar pela cidade de bicicleta já era um hábito que ambos tinham e porque o olhar fotográfico do que supostamente poderia ser derrubado era do sociólogo Gilberto Freyre, mas quem manuseava a câmera fotográfica era seu irmão, Ulysses.”
Esse material foi usado depois por Gilberto Freyre como base dos desenhos do artista visual Manoel Bandeira (não confundir com o poeta Manuel Bandeira) para o Livro do Nordeste, publicação organizada pelo sociólogo em 1925, em homenagem ao centenário do Diário de Pernambuco.
“Foi um compêndio-manifesto que uniu vários intelectuais nordestinos de diversas áreas: poesia, geografia, literatura”, conta Luciana. “Vale salientar que este não é o livro Nordeste, publicado também por Gilberto Freyre, mas sim esse outro quase desconhecido, com intenções claras de manifesto regionalista.”

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Outro destino das fotografias foi participar do primeiro inventário estadual de monumentos nacionais, publicado em 1928 pelo criador do Museu do Estado de Pernambuco, o jornalista e professor Aníbal Fernandes. “As fotos de Ulysses compuseram de maneira pioneira um inventário no Brasil sobre patrimônio edificado da arquitetura civil e religiosa e elementos do ambiente interno arquitetônico de casas e igrejas, incluindo objetos e móveis”, analisa a jornalista.

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Conforme escreve Luciana em seu trabalho, as fotografias de Ulysses servem como “artefato de memória propulsor do embrionário projeto político-intelectual de Gilberto nesse período”. Os documentos se encontram hoje na Fundação Gilberto Freyre, em Recife.
As inscrições para o evento podem ser feitas nas unidades do Sesc de São Paulo ou no site do CPF (centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br). Os ingressos custam de R$ 4,50 a R$ 15,00.
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