O acervo do escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP desde 1980, inclui os manuscritos originais de um de seus principais livros, Vidas Secas, publicado em 1938. O arquivo conserva também a edição de 1952, publicada pela Livraria Jose Olympio Editora, fotografias da edição em turco, de 1990, notas de lançamentos e críticas publicadas em jornais e até a prova tipográfica da segunda edição, de 1946, com 200 folhas e correções de Graciliano Ramos. Destaque para a carta enviada ao jornalista João Condé, em 1944, em que o escritor revela a origem de Vidas Secas a partir do conto Baleia, escrito no início de 1937, e comenta a forma como compreende sua história e suas personagens, rebatendo uma opinião de Octávio de Faria, segundo a qual se esgotara a possibilidade de romances do sertão.
O arquivo de Graciliano Ramos é um dos destaques da série Acervos do Mês, iniciativa do IEB que tem como objetivo divulgar o vasto acervo do instituto. Além dos documentos referentes ao autor de Vidas Secas, a série ainda destaca neste mês outros dois arquivos, o do escritor Mário de Andrade (1893-1945) e o da historiadora e economista Alice Piffer Canabrava (1911-2003).
Um dos nomes mais destacados da literatura e da cultura brasileira do século 20, Mário de Andrade é autor de Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter, um dos principais romances modernistas. Publicado em 1928, o livro é uma rapsódia sobre a formação do Brasil, em que vários elementos nacionais se cruzam numa narrativa que conta a história de Macunaíma. O IEB guarda os manuscritos originais da obra. Entre eles, uma versão do prefácio do livro, em que o escritor afirma: “Evidentemente não tenho a pretensão de que meu livro sirva pra estudos científicos de folclore”, e um exemplar de trabalho.
Há centenas de outros itens a respeito de Mário de Andrade, como cartas, telegramas e bilhetes, um deles, de 1944, assinado por Luís da Câmara Cascudo, em que se refere a Mário como “ao querido Macunaíma”.
Mário de Andrade nasceu em São Paulo e atuou como cronista e crítico nos principais periódicos culturais do País. Escreveu diários e pesquisou o folclore brasileiro. Também formou uma coleção de arte representativa do Modernismo e teve cargos de destaque, como o de diretor do Departamento de Cultura do município de São Paulo (1935-1938). Nessa função – equivalente à de secretário municipal de Cultura – planejou a Biblioteca Municipal e implantou a Discoteca Pública. Seu percurso pode ser acompanhado nos mais de 30 mil itens presentes no acervo do IEB, entre correspondências, discos, documentação pessoal, fotografias, literatura popular e partituras.
Sobre a trajetória de Alice Canabrava, o acervo apresenta cerca de 2.400 documentos, entre correspondência com historiadores, fichas de pesquisa, manuscritos de autores diversos e notas bibliográficas, além de livros, teses e revistas de áreas como história, história econômica, geografia e economia.
Destaque para os originais datilografados da sua tese O Desenvolvimento da Cultura do Algodão na Província de São Paulo: (1861-1875), com a qual se tornou, em 1951, professora catedrática de História Econômica Geral e Formação Econômica do Brasil da então Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP, a atual Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da qual foi diretora entre 1954 e 1957. O arquivo traz também cartas em que Alice comenta fatos relacionados à Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH), da qual foi uma das fundadoras, em 1961.
Mais informações sobre os Acervos do Mês de outubro estão disponíveis no site do IEB.