
No dia 7 de setembro, feriado da Proclamação da Independência, a Sala São Paulo vai receber um concerto da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) USP. Obras contemporâneas, de compositores sul-americanos — com destaque para o Brasil —, compõem o repertório da apresentação, que acontece às 10h50 e tem entrada gratuita, com reserva on-line, no site da Sala São Paulo, ou pelos totens do piso térreo da sala de concertos, a partir de segunda-feira, dia 2.
As apresentações fazem parte da série Matinais, organizada pela Fundação Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) aos finais de semana. Segundo o diretor da Ocam e regente do concerto, Ricardo Bologna, são várias as orquestras que participam da série, no que é, muitas vezes, o primeiro contato do espectador com a música clássica. “O repertório depende de cada orquestra, mas a tendência é ser um repertório mais leve, com muitas influências populares, de introdução à música clássica, porque normalmente o público que vai lá não é um frequentador assíduo das salas de concerto da cidade”, explica.
O programa: Brasil, com um toque de México

O concerto vai começar com Amolafaca, do violonista e professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) Luiz Amato, arranjo escrito para a Ocam referente a outra peça do compositor. Bologna revela que a intenção da obra é ser uma homenagem aos tradicionais amoladores de faca que vagam pelas ruas, profissão cada vez mais escassa. “Nós não vemos mais com tanta frequência aquela pessoa que anda pelas ruas soprando aquele apito. Tanto é que nós tocamos também essa flauta. A peça é toda baseada no som daquela flauta típica.”
A seguir, o programa traz Prelúdio das Bachianas brasileiras nº4, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). O arranjo é a introdução de uma peça maior, só para cordas, daquele que o diretor da Ocam define como “o primeiro grande compositor brasileiro do século 20”. Depois, será a vez de a orquestra executar Ode a Carmen Miranda, peça da compositora Clarisse Assad. A obra é baseada em temas de várias canções da cantora, dançarina e atriz Carmen Miranda (1909-1955), que, assim como Clarisse, teve sua carreira ligada aos Estados Unidos. “É, seguramente, uma das compositoras mais tocadas no Brasil, principalmente quando se fala de compositoras mulheres. Ela tem uma produção vastíssima de músicas e escreve muito rápido”, afirma Bologna.
Em seguida, o concerto na Sala São Paulo vai oferecer Divertimento para Marimba e Orquestra de Cordas, do gaúcho Radamés Gnatalli (1906-1988). Tendo tido destaque como arranjador e compositor da Orquestra da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Gnatalli segue, segundo o diretor da Ocam, uma linha semelhante à de Villa-Lobos no que se chama de música nacionalista. O diferencial da obra está na presença da marimba, instrumento similar a um xilofone, porém de grande porte, e que será tocado, em solo, por Bologna. “Gnatalli foi o primeiro compositor brasileiro a escrever para esse instrumento e o primeiro a escrever um concerto para marimba em orquestra, o que até hoje é raro em comparação a instrumentos como o violino e o piano, por exemplo”, diz Bologna.

Villa-Lobos também é a fonte de inspiração da quinta peça a ser apresentada, Saudades do Brasil, de Tom Jobim (1927-1994) — para o regente da Ocam, o sucessor de Villa-Lobos na parte popular da música. Trata-se de uma espécie de suíte, isto é, de pequenas peças interconectadas, cujo arranjo foi feito por Claus Ogerman, arranjador alemão que trabalhou com Tom Jobim. “Dá para ver que, quando nós ouvimos essa peça do Tom Jobim, pensamos um pouco naquela peça anterior, do Villa-Lobos. Elas são muito parecidas, têm uma construção melódica e harmônica muito similar”, analisa.
A série Matinais da Ocam será fechada com a única produção cujo compositor não é brasileiro: Danzón nº2, do mexicano Arturo Márquez. A obra se refere a uma dança típica mexicana, ainda mais lenta do que a salsa e com muita influência da música popular. Segundo Bologna, a peça é uma das mais tocadas no mundo atualmente.
Contribuição para a formação de músicos
Mais do que apenas executar os concertos, a Orquestra de Câmara da ECA é um centro de formação de músicos, já que atua como curso de extensão. Os mais de 40 integrantes são divididos entre os estudantes do Departamento de Música da ECA e bolsistas de fora da Universidade. Para o diretor da Ocam, a experiência na orquestra e as apresentações dos jovens músicos em grandes palcos — como a Sala São Paulo — “permitem que os estudantes se desenvolvam na execução desse tipo de repertório, que é um misto de popular e clássico, mas também num mais tradicional, clássico”. Uma vez com uma formação mais sólida, a chance de conseguirem bons empregos em orquestras por meio de audiências ou concursos no futuro é maior, acrescenta.
A apresentação da série Matinais, da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, acontece no dia 7 de setembro, às 10h50, na Sala São Paulo (Rua Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos, na região central de São Paulo, próximo à estação Luz do metrô). A entrada é grátis e os ingressos podem ser reservados on-line, no site da Sala São Paulo, ou pelos totens no piso térreo da Sala São Paulo, a partir do dia 2 de setembro (segunda-feira).
*Estagiário sob supervisão de Roberto C. G. Castro