Mostra reúne peças, vídeos, fotos e revela o cotidiano e as tradições dos índios – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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O dia a dia dos índios paiter suruí, de Rondônia, e assurini, do Xingu, transformando o barro em arte está na exposição Cerâmica Indígena do Brasil: Preservando Histórias e Tradições. As peças – vasos, cuias, panelas, potes – apresentam desenhos e grafismos decorados em policromia com a utilização de corantes minerais.
A mostra pode ser apreciada na Sala Multiuso da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Sob a curadoria de Jean-Jacques Vidal, artista e pós-doutorando em Artes Visuais na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), o público acompanha os detalhes do trabalho e da criatividade dos indígenas através de fotos e vídeos.
“Nas culturas indígenas que trabalham com cerâmica, esse tipo de arte vai além da dimensão material e se insere em um universo maior, que inclui as relações sociais, a relação com a natureza e com a sobrenatureza”, esclarece o curador. “Tanto a arte quanto as práticas tecnológicas estão interligadas a essas outras dimensões.”
O visitante acompanha a rotina da confecção das cerâmicas através das imagens. As mulheres se embrenham na mata para retirar a casca das árvores para a queima. Reúnem tudo em um pequeno espaço onde vão trabalhar. Interessante ver a extração da argila, que depois é sovada diante dos olhos curiosos das crianças, que também participam.
Interessante observar os suportes utilizados e a fabricação cuidadosa de cada peça. O resultado dessa arte é especialmente a alegria doméstica utilizando as cerâmicas para comer, beber e festejar. São utilitários que revelam a dedicação das artesãs moldando a itxira, uma das maiores panelas, utilizadas para o preparo da sopa de cará ou de milho. Também tem as soup-soupey, que são peças miúdas para beber ou armazenar materiais pequeninos para a confecção de adornos.
As técnicas, comportamentos, atitudes, gestos e emoções que envolvem essa prática artística também são relevantes.”
A produção da cerâmica envolve a tradição de um ritual que ocorre somente durante o período da seca, nos meses de junho, julho e agosto. “As condições climáticas facilitam o encontro de matérias-primas como a argila, extraída do fundo do igarapé, as sementes para alisar as peças e a madeira para queimar”, explica Vidal. “As técnicas, comportamentos, atitudes, gestos e emoções que envolvem essa prática artística são relevantes.”
Vidal ressalta que desde 2010 pesquisadores, galeristas, museus e espaços culturais vêm divulgando a cerâmica suruí no meio urbano. “Os índios suruí conseguiram espaço e oportunidade para participar de uma série de eventos, todos relativos à cerâmica, sua arte mais relevante e diferenciada.”
A exposição traz objetos diversificados, que deixam entrever as diferenças de estilo dos índios paiter suruí e assurini. As formas, decoração, pinturas diferentes. “Apesar das mudanças, adaptações e inovações, as ceramistas indígenas atribuem à atividade cerâmica uma posição privilegiada nas suas respectivas culturas, sendo considerada, em alguns casos, como um elemento definidor de identidade própria e frente a outras etnias indígenas ou aos não índios”, destaca o curador. “A cerâmica, para esses povos, tem uma íntima relação com o ambiente, de onde provém as matérias-primas para sua confecção e muitos dos padrões para sua ornamentação.
A exposição Cerâmica Indígena do Brasil: Preservando Histórias e Tradições fica em cartaz até 20 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30, na Sala Multiuso da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (Avenida Professor Luciano Gualberto, 78). Entrada grátis.
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