Livro mostra a influência da música paraguaia na cultura brasileira

Obra será lançada no dia 25 de novembro, às 14 horas, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP

 21/11/2019 - Publicado há 5 anos
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O professor Alberto Ikeda (sentado, no centro) e seus alunos: livro de Evandro Higa explica como uma manifestação local atua sobre a produção musical de todo o País  – Foto: Marcos Santos/Jornal da USP

“Bem além da terra do samba, somos também a terra da guarânia, da polca paraguaia brasileira, do chamamé, entre outros gêneros musicais”, afirma o professor de etnomusicologia Alberto Ikeda, do Programa de Pós-Graduação em Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, sobre o livro Para Fazer Chorar as Pedras, de Evandro Higa. Segundo Ikeda, a obra é a primeira a mostrar com tanta propriedade e referências as influências da música paraguaia no Brasil, principalmente na região de fronteira entre os dois países. Publicado pela Editora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), o livro será lançado no dia 25 de novembro, às 14 horas, na ECA, durante aula da disciplina Música Caipira e Enraizamento, organizada pelo professor Ivan Vilela e ministrada com a colaboração de Ikeda.

Para Fazer Chorar as Pedras é essencialmente uma investigação etnomusicológica sobre a guarânia e o rasqueado no Mato Grosso do Sul nas décadas de 1940 e 1950. Mas o autor, inevitavelmente, passa por outros gêneros musicais, como a polca paraguaia e o chamamé, para explicar as semelhanças e diferenças entre eles no cenário musical brasileiro. 

Segundo o professor Ikeda, a obra se destaca por ser pioneira no assunto e preencher um vácuo da pesquisa histórico-musical sobre as influências ibéricas na música popular e caipira no Brasil. “Esse trabalho é da maior importância, porque ajuda a suprir uma carência da academia. O autor pega algo local e mostra a atuação disso sobre as produções musicais do resto do País.”

Embora historiadores e sociólogos já tenham falado sobre essa região e sua cultura musical, o diferencial do trabalho de Higa é o fato de ele ter sido feito por um musicólogo, destaca Ikeda. Dessa forma o autor consegue usar seu conhecimento para analisar essas músicas de modo mais específico, desde a letra até o ritmo, tornando-se assim uma grande referência para estudantes da área, acrescenta o professor. 

O livro Para Fazer Chorar as Pedras, de Evandro Higa – Foto: Reprodução

“O Brasil, no geral, se vê muito afastado da América Latina”, constata Ikeda. “Esse livro vem nos mostrar que estamos muito mais perto do que imaginamos e a música tem um papel importantíssimo nessa aproximação.”

Para o professor, os estudos sobre a cultura de música popular no Brasil ainda estão concentrados no litoral e nas influências africanas, mas também é importante conhecer as referências que vêm do interior.

Ikeda ressalta o fato de que os pesquisadores interessados em viola e moda caipira têm diferentes origens étnicas. Ele cita como exemplo seus alunos, de diferentes ascendências e lugares do Brasil, além dele mesmo e de Higa, ambos descendentes de japoneses. “As próprias pessoas envolvidas com esse tipo de música representam o País multiétnico em que vivemos.” 

O autor do livro concorda com Ikeda. Higa acredita ser necessário desvincular o legado musical brasileiro da referência restrita ao samba e às influências do Sudeste. “O gênero de música fronteiriça aponta para o interior, para um País ainda muito distante no imaginário popular, mas que na prática está perto”, diz. “As pessoas só precisam se familiarizar mais com essa música.” 

Quanto à inspiração para a pesquisa, Higa diz que surgiu da própria vivência na fronteira com o Paraguai. “Sou do Mato Grosso do Sul e sempre me interessei pelo tema, mas não havia estudos sobre isso. Então resolvi pesquisar eu mesmo. Isso foi há uns 20 anos”, afirma Higa, que é professor do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Resultado do seu doutorado feito na Universidade Estadual Paulista (Unesp), Para Fazer Chorar as Pedras é o seu segundo livro sobre o tema. O primeiro, intitulado Polca Paraguaia, Guarânia e Chamamé – Estudos sobre Três Gêneros Musicais em Campo Grande-MS, foi escrito originalmente como dissertação de mestrado, apresentada em 2005 na ECA.

O lançamento do livro Para Fazer Chorar as Pedras acontecerá no dia 25 de novembro, segunda-feira, das 14 às 17 horas, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Prédio Central, 2° andar, sala 203). Entrada grátis.


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