Livro apresenta gravuras inéditas de Abrahão Sanovicz

A face artística pouco conhecida do arquiteto e professor da USP é revelada em edição lançada pelo Sesc

 29/05/2017 - Publicado há 7 anos
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Casca de Árvore, Vegetação e Bom Tempo, pastel a óleo e grafite, 1998 – Foto: Reprodução

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A mesma caneta, o mesmo lápis que projetava desde edifícios modulares como o Abaeté, da Rua Pará, construído no final da década de 1970, até os conjuntos habitacionais erguidos em 1995 dentro do Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do Guarapiranga também registravam o cotidiano do artista plástico. Abrahão Sanovicz, conhecido arquiteto, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, desenhava as reuniões com alunos e arquitetos e as discussões dos conselhos da USP ou do Instituto dos Arquitetos do Brasil. Também rabiscava pessoas, paisagens observadas em viagens ou nas andanças pela cidade.

Reunião do Conselho do Departamento, 1994 – Foto: Reprodução

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Não são meros desenhos que aliam humor e criatividade. São narrativas, reflexões, críticas. Uma arte revelada no livro Abrahão Sanovicz: desenhos e gravuras, organizado por sua neta, Fernanda Sanovicz. A publicação, lançada no dia 26 de maio, é das Edições Sesc São Paulo.

Sanovicz, em Judaicos, traz cenas do cotidiano em linhas e texturas – Foto: Reprodução

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“Os desenhos do meu avô dizem muito sobre ele”, lembra Fernanda. “Encontrei ali referências a Steinberg, artista que tanto admiro. A sua obra, os seus desenhos e pensamentos me encantam profundamente e, de certo modo, me conectam com o legado do meu avô. Fiquei cada vez mais comprometida com a execução deste livro e com a minha vontade de desenhar, de me conhecer pelo desenho.”

Fernanda herdou do avô a vocação pelo design gráfico. É formada em Comunicação Visual e Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em 2011. “Como professor, era rígido, gostava de questionar os alunos sobre a razão de suas escolhas. Como arquiteto, era preciso, minimalista e funcional. Em seus projetos não havia espaços desperdiçados. Como artista, desenhava com um gesto único, fluido e verdadeiro.”

Enquanto ele conversava, desenhava. Era bárbaro isso

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A trajetória do artista e arquiteto Abrahão Sanovicz abre o livro com o texto de Helena Ayoub Silva, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. “Era uma delícia fazer reunião com o Abrahão. Enquanto ele conversava, desenhava”, conta. “Era bárbaro isso, ele produzia muito. Depois, ficava todo mundo disputando o desenho… Às vezes, ele desenhava a mesa, às vezes desenhava as pessoas ali presentes, de uma forma meio caricata, e às vezes ele ficava desenhando outra coisa completamente diferente.”

O Vendedor de Brilhantina, 1986 – Foto: Reprodução

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Helena lembra que o professor sempre recomendava jamais passar um dia sem desenhar. “Quase compulsivo, não havia papel em branco que ficasse ileso. Usava lápis, lapiseira, grafite duro ou macio, caneta esferográfica ou hidrográfica. Mas preferia caneta-tinteiro. Sempre trazia alguma coisa com pena de espessura diferente e tinta de tonalidade rara.”

Paisagem na Água, 1986: momento poético – Foto: Reprodução

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É esse exercício cotidiano que o livro resgata. Há os desenhos com caneta esferográfica sobre o papel, como se o artista, em nenhum instante, tivesse feito outro gesto senão o do desenho. São linhas que deslizam sem tirar a caneta do lugar. Há outros com figuras sobrepostas, texturas, e tem também conjuntos de desenhos elaborados, feitos no ateliê. Domina o pastel a óleo com grafite.

Pinta os nós do bambu, as cascas de árvores, os passarinhos, as flores e até a falta de inspiração. Também há homens e mulheres nuas, cenas eróticas e outras que estão no dia a dia da cidade, como um vendedor de brilhantina e, ainda, os descaminhos da arquitetura.

Abrahão Sanovicz: desenhos e gravuras, organização Fernanda Sanovicz. Lançamento Edições Sesc São Paulo, 168 páginas. Preço: R$ 65,00.
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O livro Abrahão Sanovicz: desenhos e gravuras – Imagem: Reprodução (Clique na imagem para ver maior)

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