
Viagens e Relatos – Representações e Materialidade nos Périplos de Latino-Americanos pela Europa e pelos Estados Unidos no Século XIX é o título de novo livro da coleção Entr(H)istória, da Editora Intermeios. A autora, Stella Maris Scatena Franco, aborda o tema apresentando uma reflexão pontual sobre o tema, que resulta de uma pesquisa iniciada em 2009 e concluída em 2017. É fruto de sua tese de livre-docência, realizada no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

O grande mérito do trabalho, segundo aponta, no prefácio, a professora Mary Anne Junqueira, professora do Departamento de História da FFLCH e do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, é “reunir duas temáticas importantes que os relatos de viagens do passado ensejam e que nem sempre andam juntas nas investigações acadêmicas”. Explica: “Trata-se das articulações entre as condições materiais, concretas, da viagem e as representações dos lugares visitados”.
Mary Anne explica que, desde as rememorações dos 500 anos da chegada de Colombo às Américas, em 1992, e da discussão sobre a crise dos paradigmas, foi registrado um maior afluxo de trabalhos nas ciências humanas, em especial entre os historiadores. “Recentemente, autores retomaram os relatos de viagem como fontes privilegiadas para tratarem também das condições concretas que permitiram os deslocamentos do passado.”
Stella Maris, logo no primeiro capítulo, apresenta os relatos de viagem que explorou no trabalho. Ela analisou 12 relatos de viagem, escritos por homens e mulheres de diferentes origens. Entre esses relatos estão o Diario de Viaje a Estados Unidos de América, de José Miguel Carrera, Viajes en Europa, Africa i América, de Domingo Sarmiento, Diario de Viaje a Europa, de Rómulo José Yegros, No Paiz dos Yankees, de Adolpho Caminha, e Viaje a España en 1892, de Soledad Acosta de Samper.
Do ponto de vista metodológico, também busquei conciliar tendências.”

A autora Stella Maris propõe, em seu trabalho, aliar a análise da materialidade das viagens à das representações e discursos produzidos pelos viajantes, devido à riqueza das fontes para ambos os âmbitos. “Os relatos, em grande parte, foram produzidos a partir de experiências de indivíduos deslocados de suas realidades de origem e que frequentaram a realidade de outrem”, argumenta. “Com isso, tornaram-se depositários de narrações sobre ocasiões e fatos históricos, muitas vezes, vistos e vivenciados efetivamente. No entanto, nenhuma narração, por mais objetiva que se pretenda, está livre da subjetividade do autor, que pode tanto vir a acrescentar impressões quanto a omitir detalhes.”

A autora acredita que os relatos, pela experiência do viajante, mostram o cotidiano e suas práticas, proporcionando vantagens ao estudo das visões de mundo daquele que empreende a viagem. “Do ponto de vista metodológico, também busquei conciliar tendências. Como já indicado, as análises voltadas mais exclusivamente para o âmbito discursivo parecem enfocar, em geral, poucos autores e obras, realizando um exame mais intensivo, em que se perscrutam intencionalidades, possibilidades de sentido que podem ser dadas a certas assertivas. Já uma análise mais focada no âmbito da história social costuma ser mais extensiva, propondo um trabalho quase seriado, efetuado a partir da leitura de vários relatos.”
Viagens e Relatos – Representações e Materialidade nos Périplos de Latino-Americanos pela Europa e pelos Estados Unidos no Século XIX, de Stella Maris Scatena Franco, Editora Intermeios, 296 páginas, R$ 40,00.