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Entre pinturas, gravuras, vídeo e instalações, a mostra Olho-míssil surpreende pela diversidade de temas e pela abordagem política e social do cotidiano e do mundo contemporâneo. São 21 formandos e jovens artistas do curso de Artes Visuais da USP que apresentam os caminhos que estão trilhando no recém-inaugurado Espaço das Artes.
Com a coordenação e curadoria dos professores e artistas Dora Longo Bahia e Mário Ramiro, do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a mostra pontua o aprendizado e vivência na Universidade. Expor os trabalhos nas mesmas paredes que apresentaram Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Modigliani, Samson Flexor, entre outros mestres brasileiros e internacionais, é um desafio que está sendo muito bem travado pelos estudantes e jovens artistas.
“A nossa meta é manter um calendário com uma programação dinâmica, que possa apresentar o trabalho dos estudantes e divulgar as artes na Universidade”, observa Claudio Mubarac, chefe do Departamento de Artes Plásticas da ECA.
O Espaço das Artes é um novo equipamento cultural da ECA e da cidade. Ver as obras dos estudantes, jovens artistas, em um lugar projetado para as artes é a realização de um sonho.
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O prédio que antes era a sede do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP está sendo coordenado pelos Departamentos de Artes Plásticas, Música e Artes Cênicas da ECA. A expectativa é de que seja um espaço de aprendizado, pesquisa, divulgação das artes em geral e também de lazer. “Esperamos que os estudantes de outras unidades, os funcionários e professores venham apreciar a exposição.” Para o próximo ano, já estão sendo programadas apresentações de concertos, performances e teatro.

O professor Mário Ramiro faz questão de lembrar que a criação do Departamento de Artes Visuais foi uma iniciativa de Walter Zanini, que tanto incentivou os jovens artistas na direção do Museu de Arte Contemporânea. “Ele capitaneou esse trabalho ao lado de outro professor, igualmente importante para a existência de um curso de artes plásticas na USP, que foi o Donato Ferrari. Para Zanini, as atividades junto ao nosso departamento nunca foram inteiramente desvinculadas do MAC”, diz Ramiro. “Por isso a presença da ECA nas instalações que pertenciam ao museu remete à história das duas instituições e tem um significado muito especial.”
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Novos caminhos – Enquanto acompanha a montagem da exposição, inaugurada no último dia 9, a professora Dora Longo Bahia comenta a importância do espaço para o aprendizado dos alunos. “Muitos estão apresentando a sua arte pela primeira vez. Nós começamos a pensar a mostra há seis meses. Estivemos no espaço diversas vezes e os artistas foram adequando e pensando o trabalho nas devidas paredes e salas.”

Dora explica que a exposição é o trabalho de conclusão dos estudantes. “Nessa apresentação, eles aprendem coisas importantes como, por exemplo, a altura que devem colar as etiquetas com a legenda de seus trabalhos. Observam a importância da luz e aprendem a divulgá-los para os jornalistas e para o público.”
Olho-míssil reúne os trabalhos de Alexandre Camanho, Anna Sousa, Caio Righi, Daniel Suarti, Danilo Bezerra, Fernando Aidar, Isabella Finholdt, João Gonçalves, Julia Albuquerque, Juliana Araujo, Lívia Santos, Lola Ramos, Marcela Fleury, Mariana Utzig, Marina Castro, Marina Zilbersztejn, Paulo Delgado, Pedro Adario, Pedro Farah, Romeu Mizuguchi e Victor Jenhei.
Olho-míssil, exposição com a participação dos alunos do curso de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Em cartaz no Espaço das Artes, Rua da Praça do Relógio, 160, Cidade Universitária. De segunda a sexta feira, das 9 às 18 horas. Entrada gratuita.

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A meta é dinamizar as artes
Não estranhem ao ver a barricada de pneus na frente do prédio do Espaço das Artes. Tal trincheira é só para chamar a atenção do público para avisar que 21 jovens estudantes e artistas do curso de Artes Visuais estão em movimento. A instalação de Marcela Fleury leva o visitante a atravessar a porta, ver e conferir Olho-míssil.
Nessa mostra, Marcela apresenta outro trabalho. Um painel de jornais com a retrospectiva histórica de Lula e do PT. “Aqui questiono a postura do PT como um partido de esquerda. Mas a interpretação fica por conta do público.” A artista conta que já trabalhou naquele mesmo espaço como estagiária do MAC. “Na época, eu ficava imaginando que um dia teria uma obra minha exposta em uma das paredes.”

Olho-míssil habita e recria o espaço com fotografias, instalações, vídeos, pinturas, gravuras. Uma diversidade técnica, mas que propõe o diálogo da arte contemporânea. Atitude já esperada diante dos jovens artistas que, como bem frisou a curadora, artista e professora Dora Longo Bahia, “vivem a primeira grande coletiva do começo de suas vidas”.
João Gonçalves conta que a sua habilitação na ECA é em Pintura. Foi selecionado para expor no Programa Nascente, participou de salões no Sesc Ribeirão Preto e já participou do programa de residência UV Estudios, em Buenos Aires. Na mostra, optou por uma instalação que chamou de Magma, composta de dezenas de objetos feitos de gesso, látex, silicone e resina, dispostos em um grande círculo. “Eu quis dar um aspecto de ancestralidade através da roda e dos totens. Meu trabalho acabou estabelecendo uma relação com o jardim japonês e as tubulações elétricas da sala e, ao mesmo tempo, procurei pensar pontes com trabalhos de outros artistas aqui presentes.”
Buscar o invisível – A série de cinco trabalhos de Romeu Mizuguchi, 24 anos, revela a busca do invisível, característica da filosofia japonesa. Paulistano, o nissei garante não se ater à referência oriental, mas apresenta um trabalho com formas muito discretas, que dialogam silenciosas com o espaço. As minúsculas etiquetas com a borda vermelha que margeiam as paredes passam quase despercebidas. “Optei por utilizar para a construção dessas obras só materiais do universo escolar, porém invertendo o seu uso previsto”, explica.
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O paulistano Daniel Suarti, por sua vez, faz questão de retratar a influência japonesa em sua arte. “Meu trabalho special zone é uma tentativa de retratar o percurso da viagem que fiz ao Japão em julho deste ano no molde de um videoclipe de música pop, mostrando um pouco da minha experiência e visão sobre uma cultura estrangeira. Busquei estabelecer relações de paralelismo e hyperlink com a sobreposição de filmagens. A trilha do vídeo também foi minha primeira experiência com produção musical.”

Ao som da composição Clair de Lune, de Claude Debussy, Pedro Adário Gonçalves traz um vídeo do ataque às Torres Gêmeas e questiona o visitante. “Você se lembra onde estava quando eles mataram?” Um vídeo com as imagens distorcidas, mas que deixam claro o impacto e a destruição. “O título do trabalho é Império do Mapa. Aqui eu questiono a vida, o governo, o poder.”
O conjunto de trabalhos Notas ao Leitor, de Marina Zilbersztjn, 23 anos, parte de um exercício de edição e investigação de imagens de técnicas gráficas diversas. “A ideia da série é construir arranjos de imagens em que o grafismo presente possa sugerir escalas possíveis de leitura para o trabalho seguinte.”
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