Espaço das Artes exibe trabalhos produzidos por estudantes da USP

Desenvolvidas no primeiro semestre de 2018, obras ficam em exposição até 10 de agosto

 17/07/2018 - Publicado há 6 anos
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A performance Um Canto dos Escravos num Canto Meu, de Aryani Marciano, apresentada na abertura da exposição Laboratório do Semestre – Foto: Mário Ramiro

Até o dia 10 de agosto, o Espaço das Artes (EdA) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP realiza a exposição Laboratório do Semestre, com trabalhos desenvolvidos no primeiro semestre de 2018 pelos estudantes da disciplina de Práticas Performativas do Departamento de Artes Plásticas da ECA, bem como por estudantes de outros departamentos dessa e de outras unidades da USP.

O professor da ECA Mário Ramiro, organizador da exposição, explica que os trabalhos “são desenvolvidos a partir de uma iniciativa do próprio aluno ou a partir de uma proposta do professor”. A ideia é mostrar os resultados das obras “nas mais diversas linguagens: gravura, pintura, multimídia, práticas performativas e escultura”, explica Ramiro, que também faz parte da comissão dos professores que montam as exposições dos formandos do Departamento de Artes Plásticas.

Obras

A exposição teve abertura no dia 4 de julho, ocasião em que os presentes tiveram a oportunidade de acompanhar cinco performances, que abordaram questões como raça, gênero, sexualidade e linguagem.

Instalações Princípio da Generosidade (à esquerda) e Caio Afunda no Chão, Rosto e Mãos para Cima (à direita), de Caio Vinícius Bonifácio – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Uma delas foi a da estudante Aryani Marciano, que realizou a performance Um Canto dos Escravos num Canto Meu. Ela conta que a ideia era estabelecer um diálogo entre a sua produção artística e as produções realizadas pelos negros, tanto no que se refere à arte como no que diz respeito à sua história como mão de obra escrava.

Em Desagravo, de Luiza Beraldo – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Aryani explica que tal conexão se estabeleceu através do Vissungo — um canto originário das regiões quilombolas remanescentes da mineração do século 19, presentes principalmente nas cidades de Diamantina e São João da Chapada, no Estado de Minas Gerais —, bem como através do uso de materiais durante sua performance, como a areia, o açúcar e o café.

Só é Arte se Está à Venda no Mercado, de Marina Avello – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

“A areia representou a questão da diáspora negra, já o café e o açúcar representaram dois grandes ciclos que fizeram o enriquecimento do Brasil e de São Paulo.” Depois disso, ela se utilizou de um tambor para tocar um rap, chamado Quem Ama Ama a Preta, que fala sobre a solidão da mulher negra.

Corpo Azul, Um Percurso, de Pierrot le Fou – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Entre as instalações, destaca-se as do estudante de Artes Plásticas da ECA Caio Vinícius Bonifácio, que produziu dois trabalhos para a mostra. O primeiro deles pode causar, de início, certo estranhamento por parte do visitante: um prato e talheres contendo restos de comida. Trata-se de um trabalho produzido a partir de um almoço que Bonifácio preparou para um trabalhador, por ele desconhecido, no Dia Internacional do Trabalhador (1º de maio).

O Jogo Virou, de Marcos Migash – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O segundo trabalho de Bonifácio é uma instalação que inclui uma porção de terra num recipiente, uma foto do estudante deitado em um ambiente repleto de terra e, ao lado da foto, várias folhas de papel, simulando folhas de árvores. As folhas contêm todas um mesmo texto, em que Bonifácio descreve a “experiência aterrorizante” de estar afundando em um punhado de terra.

Varal, de Nina Lins – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

As duas instalações convergem entre si no que se refere a seus significados e seus processos de produção. Caio Bonifácio explica que os restos de comida e de terra das instalações “podem ser falsificados para criar, fora do espaço expositivo, uma situação falsa, uma ação que produz objetos falsificados”.

Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Idiomáticas Bilíngue, de Marcelo Ricci e Yannick-Viullet – Foto Marcos Santos / USP Imagens

Tal concepção foi inspirada em contos do escritor argentino Jorge Luís Borges, que descrevem “uma civilização perdida através de uma enciclopédia”, que, por sua vez, lembra situações falsas como se fossem realidades, fazendo um paralelo com o almoço preparado para o trabalhador, sem que ele soubesse o propósito da ocasião ou a sensação que o estudante sentiu ao estar afundando em terra. “Achei muito interessante a ideia de como a gente pode criar uma realidade, como a gente falseia uma realidade por documentos que sejam formalmente legítimos, mas que não são legítimos de verdade”, explica.

Duas Noites, de Thaís Jureidini – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Para ele, a experiência de montar uma exposição é “interessante”, porque oferece aos estudantes a oportunidade de ter um público para “ver e opinar” sobre os trabalhos. “Numa exposição, você tem que montar a obra e ela tem de ficar ali, em pé, até a exposição acabar. As pessoas passam, veem as obras e às vezes dão um retorno. A gente tem essa relação de troca com o público”, conta.

Sistemas, de Patrícia Moura Sales – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

A opinião é compartilhada pelo professor Ramiro, que viu a transferência para a ECA da antiga sede do MAC na Cidade Universitária – o atual Espaço da Artes – com “muita alegria”, porque é a possibilidade de, duas vezes ao ano, poder exercitar com os alunos a prática expositiva”. Para ele, “expor um trabalho de arte é tão importante quanto produzir um trabalho de arte”.

12 Anos de Minha Mãe, de Ariédhine Carvalho – Foto Marcos Santos / USP Imagens

“Nossos alunos têm, agora, a grande oportunidade de poder exercitar a prática expositiva em uma das melhores galerias de arte da cidade”, conclui o professor.

A exposição Laboratório do Semestre fica em cartaz até o dia 10 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 9 às 20 horas, no Espaço das Artes (EdA) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Rua da Praça do Relógio, 160, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis.


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