Não houvesse acontecido a pandemia de covid-19, a Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) estaria cumprindo sua intensa programação prevista para 2020, incluindo concertos especiais, atividades didáticas e apresentações inéditas. Com a temporada congelada, ela teve que se adaptar e criar novos projetos, a fim de atender ao seu público – agora em isolamento social – por outros meios.
A realização de lives – uma das formas mais usadas para disponibilizar conteúdo cultural ao público na quarentena – foi uma das primeiras iniciativas Osusp desde o início do isolamento. Com a live Amarildo Nascimento e o Trompete: Sua história, Evolução e Participação nas Orquestras, transmitida no dia 8 passado, a orquestra iniciou o que planeja ser uma série de lives. Essa série, como disse o diretor da Osusp, Fábio Cury, no início da transmissão, “pretende aprofundar as facetas educativas e interativas da orquestra. Não estamos só no âmbito da performance”. Segundo Cury, a orquestra tem uma missão educativa e, mesmo que as atividades não possam parar, “o mais importante é zelar pela saúde da comunidade”. “Vemos essa pandemia como uma oportunidade de a orquestra interagir com nosso público e compartilhar nossas ideias”, disse o diretor.
A produtora da Osusp Patrícia Santana conta que o plano da direção é tornar essas lives uma nova série da orquestra. “Os músicos são convidados a falar sobre os assuntos em que eles se sentem confortáveis e que gostariam de compartilhar.” Ela explica que, da mesma forma que o trompetista Amarildo Nascimento falou sobre a história do seu instrumento, na primeira live, outros músicos também terão esse espaço para falar sobre assuntos caros a eles.
Além das lives, outros formatos estão sendo adotados para não deixar a orquestra parar. A Osusp tem uma nova programação de vídeos preparada, que já está sendo disponibilizada. Está disponível no canal da orquestra no Youtube o vídeo Por Dentro do Dominó Sinfônico – O Concerto Didático da Osusp, que traz o depoimento de diversos atores que participaram dessa apresentação voltada para o público infantil, uma fusão entre concerto e teatro.
Também se deu início a nova série Meu Solo Favorito, na qual músicos da Osusp falam sobre o solo orquestral de que mais gostam, contam sua origem, sua história e o analisam. A série já conta com três vídeos. O primeiro você confere no Facebook, e conta com a performance de “Don Quixote” op. 35, de R. Strauss, pelo violista da Osusp Gabriel Marin. Os outros dois você encontra no canal da orquestra no YouTube, que já conta com O Cisne, movimento mais popular da obra O Carnaval dos Animais (1886),de Camille Saint-Saëns (1835-1921), apresentado pelo violoncelista Júlio Cerezo Ortiz, e com o solo de oboé do poema sinfônico Don Juan, op. 20 (1888), de Richard Strauss (1864-1949), apresentado pela oboísta Gizele Sales.
Outro vídeo produzido pela Osusp na quarentena traz músicos da orquestra, cada um em sua residência, executando a Ária da Suíte Orquestral Número 3 (BWV 1068), do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Outro projeto da Osusp prestes a se concretizar é a divulgação de concertos inéditos em formato digital, que serão disponibilizados sempre no terceiro sábado de cada mês. O primeiro concerto estará na redes sociais da orquestra dia 23 (sábado), e em seguida seguirá a programação definida. Trata-se de uma apresentação da Osusp com o Trio Quintessência, realizada no Sesc Pinheiros, em São Paulo, em abril de 2019. Em junho, será adicionado um complemento a essa série: todo quarto sábado do mês, será lançado um vídeo com um músico da orquestra comentando o concerto divulgado no sábado anterior. (ATUALIZAÇÃO: O concerto será divulgado no sábado seguinte, dia 30, e então seguirá sua programação original em junho.)
Sobre a transição para esse formato digital, Patrícia lembra que houve dificuldades, mas que o conteúdo final está motivando os membros a continuarem trabalhando. “Houve uma pequena resistência na adaptação por parte de alguns músicos, que não sabiam usar os equipamentos digitais ou não entendiam como a música orquestral podia ser feita em casa, com os músicos separados. Mas, depois que viram como pode sair esse material, muitos se sentiram incentivados. Um dos músicos mais antigos até começou a fazer um curso de edição de vídeos, para se integrar melhor aos projetos”, conta. “Nossa filosofia está sendo o conceito de edutainment: não apenas entregar conteúdo para entreter o público, mas também trazer um material que possa educar.”
Patrícia destaca como a pandemia transformou o modo de funcionamento da orquestra, e como essa adaptação para o digital é vista com bons olhos: “Estamos vendo que esse conteúdo de casa é algo que veio para ficar. Mesmo que a pandemia passe em alguns meses e voltemos a fazer nossa programação, esse material ainda é algo que vamos continuar produzindo, porque funciona”.
A equipe da orquestra também adianta mais novidades que vêm por aí. “Estamos fazendo diversas parcerias. Pelo fato de a orquestra estar dentro da USP, fica mais fácil fazermos isso com unidades da própria Universidade.” Uma dessas parcerias é com o Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp). De acordo com a produção, será produzido um vídeo em que uma educadora física do Cepeusp dará aos músicos da orquestra orientações para que eles mantenham a saúde física. “Isso é muito importante porque a atividade física é importante não apenas para a saúde do corpo, mas também para o lado emocional, que é transmitido pela música”, explica Patrícia.
Outra novidade ainda, é a parceria da Osusp com a Associação Paulista dos Amigos da Arte e com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do governo do Estado de São Paulo. Em razão dessa parceria, a secretaria divulga o material da orquestra pelas suas redes, além do site e pelo Instagram do programa Cultura em Casa, que ela mantém.
Vídeos, lives e indicações de leitura da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) estão disponíveis nas páginas da orquestra no Youtube, no Instagram e no Facebook,