“Sem dúvida, Nelson Freire foi um dos maiores pianistas brasileiros de todos os tempos”, afirma Eduardo Monteiro, professor e vice-diretor da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP), que participa do concerto em homenagem a Freire, que morreu há um mês, aos 77 anos. Ao lado de ex-alunos seus, Érika Ribeiro e Lucas Thomazinho, o recital traz três gerações de pianistas que foram influenciados pela obra desse grande mestre. O recital ocorrerá no domingo, dia 5 de dezembro, às 11h30, em área aberta da Fundação Maria Luiza e Oscar Americano. A entrada é gratuita, e pede-se a doação de um brinquedo novo em prol do Natal das crianças do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI), ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Segundo o professor, Nelson Freire tinha um reconhecimento internacional unânime, com uma carreira nas maiores salas e com as maiores orquestras do mundo todo. “Ele tinha um reconhecimento da qualidade e da capacidade artística e técnica, e são poucos os pianistas no mundo que chegam a esse grau de reconhecimento. Realmente fazia parte de uma geração de um dos maiores pianistas da atualidade”, afirma. Além disso, como lembra o professor, Freire foi o único pianista brasileiro a integrar a gravação da Deutsche Grammophon, na histórica coletânea Great Pianists of the 20th Century (Grandes Pianistas do Século 20).
O pianista mineiro Nelson Freire (Boa Esperança, 18 de outubro de 1944 – Rio de Janeiro, 1 de novembro de 2021) começou a tocar piano aos 3 anos de idade, talento que o levou à Europa aos 12 anos para estudar; e aos 15, já dava seus primeiros concertos. Mas, apesar de se apresentar em muitos locais, era avesso a gravações, que só aconteceram no final de sua trajetória. “São muitas as gravações de concertos, e apresentações com ele muito jovem, feitas não oficialmente para selos, e que estão sendo disponibilizadas agora. Mas essa rotina de entrar em estúdio e gravar um CD só aconteceu mais recentemente, refletindo sua personalidade: era muito tímido e reservado, um homem de poucas palavras”, revela Monteiro. A partir de 2001, Freire começou a lançar discos, como o dedicado à obra de Debussy, além de interpretações da obra de Villa-Lobos. Ao completar 75 anos, em 2019, lançou o CD Encores.
“Era também muito generoso com a geração mais jovem, que sempre recebeu em ambientes privados, como a sua casa, dando conselhos e acolhendo. Eu pude testemunhar isso”, relata Monteiro, e acrescenta que o espírito desse concerto é inspirado nessa generosidade. Além disso, o recital reúne três gerações de pianistas, que foram influenciados pela sua obra: o próprio Monteiro, pianista premiado e expoente do cenário pianístico brasileiro; Érika Ribeiro, vencedora de vários prêmios e uma das artistas mais destacadas de sua geração, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio); e Lucas Thomazinho, aluno da USP recém-formado, que tem atuado como solista de várias orquestras e já lançou seu primeiro CD.
Consagrado pela crítica europeia, Freire se tornou grande intérprete de Beethoven e Chopin, compositores que, ao lado de Villa Lobos e outros, marcaram a carreira do pianista, e que estão no repertório do concerto. “As peças foram selecionadas em função do que Nelson tocava e também em sua homenagem”, diz Monteiro, que executa Impressões Seresteiras op. 105 (Heitor Villa-Lobos), 3 Prelúdios e 3 Paulistanas (Claudio Santoro) e homenageia Freire com a peça Morte de Isolda (Richard Wagner/Franz Liszt). Já Érika interpreta Mazurka op. 17 nº 4 e Barcarola op 60, de Chopin, “um dos autores com quem Nelson mais se identificava”, como relata Monteiro; e, por fim, Thomazinho toca outra composição de Villa-Lobos: Rudepoema, “peça que o Nelson gravou ainda jovem”.
O concerto em homenagem a Nelson Freire será realizado no domingo, dia 5 de dezembro, às 11h30, na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano (av. Morumbi, 4.077), que continua respeitando o distanciamento e os protocolos sanitários contra a covid-19. A entrada é franca, mas pede-se a doação de um brinquedo novo em prol do Natal das crianças do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI). Mais informações neste link. |