Comunicação poética e pictórica no mundo antigo é tema de livro

Lançada pela Editora da USP, obra é resultado da tese de livre-docência do professor da USP Paulo Martins

 08/03/2022 - Publicado há 2 anos
O professor Paulo Martins e seu novo livro – Foto: Cicero Wandemberg/Reprodução

Os vários aspectos ligados à imagem na Antiguidade são abordados no livro A Representação e Seus Limites – Pictura Loquens, Poesis Tacens, do professor Paulo Martins, atual diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Nele, Martins trata não apenas das pinturas expostas em paredes e vasos e das esculturas em pedra e metal que o mundo antigo produziu em abundância, mas também das imagens surgidas de obras literárias clássicas. “Mais do que tratar de um autor ou de uma obra, este livro ocupa-se de um conceito, de uma ideia que perpassa autores, obras, gêneros e artes”, escreve Martins nos Prolegômenos da obra. “Tem por objetivo considerar diacronicamente práticas imagéticas verbais e não verbais, ou seja, representações discursivas e iconográficas, ocorridas na Antiguidade clássica, atestando por conseguinte as possíveis homologias entre estas – quando e se existentes.”

Com 368 páginas e 13 capítulos – além de um Excurso -, o livro foi escrito originalmente como tese de livre-docência de Martins, defendida em 2013 na FFLCH. Mas a origem da obra é muito mais remota, como destaca no prefácio o professor João Angelo de Oliva Neto, da FFLCH, que presidiu a banca examinadora do exame de livre-docência de Martins. “Relato tal como vi e ouvi: eu já era docente e Paulo Martins pós-graduando e, numa tarde depois de uma de suas aulas de pós-graduação, ele chega e diz: ‘Você não acha que Eneias a contemplar a pintura no canto I [da Eneida, de Virgílio] corresponde ao mundo sensível e progressivamente ele mesmo a presenciar depois a máquina do mundo no canto VI corresponde ao mundo inteligível de Platão?'”, lembra Oliva Neto, reproduzindo um fato ocorrido no início dos anos 1990. “Naquele instante eu só queria ter tido aquela ideia. Queria eu ter vislumbrado que Eneias a contemplar as pinturas está para o mundo sensível, assim como penetrar ele o mundo infernal e ver as coisas elas mesmas está para o mundo inteligível de Platão. E hoje orgulha-me ter dito a Paulo exatamente isso, justamente naquela hora, e ter repetido sempre que podia.”

A pintura Banquete, de Euaion, uma das várias obras retratadas em A Representação e Seus Limites – Foto: Reprodução

Aquela ideia foi o ponto inicial do projeto que, progressivamente, se transformou na tese de livre-docência agora transformada em livro. Como Martins explica no final de sua obra: “Este trabalho foi pensado e deve ser lido, antes de tudo, como um percurso acadêmico. Ao menos, foi assim arquitetado. Cada capítulo retrata a maturação de um pensamento construído por dois caminhos distintos e complementares: texto e arte figurativa. Os textos, discursos formulados como poesia ou prosa em toda sorte de gêneros e espécies. As imagines, construídas em meios vários – escultura ou pintura, intaglio ou mosaico, moedas ou monumentos – e dedicadas a finalidades distintas. Ambos, textos e imagines, devem ser observados com os mesmos olhos, a despeito da simultaneidade inerente às imagens e da progressão temporal inerente aos discursos”.

A Representação e Seus Limites – Pictura Loquens, Poesis Tacens, de Paulo Martins, Editora da USP (Edusp), 368 páginas, R$ 90,00.


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