A histórica relação espinhosa entre a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o Comitê Olímpico Internacional (COI) é explicitada no artigo As estratégias de João Havelange para enfraquecer o futebol olímpico, do professor do Departamento de Educação Física e Humanidades da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Sérgio Settani Giglio.
Essa relação, como é explicado no artigo, tem atritos desde os primórdios dos jogos olímpicos da era moderna, entre o final do século 19 e início do século 20, quando uma das principais preocupações do COI era definir o conceito de “amadorismo” no esporte, isto é, a prática esportiva motivada somente pelo amor a ela, desprovida das “tentações capitalistas de obter lucro a partir de seu desempenho esportivo”, qualidade considerada um requisito indispensável para os atletas que participassem dos jogos. A partir do momento em que a Fifa passou a divergir do que antes era uma posição comum a ela e ao COI nesse aspecto, começou a se desenhar uma nova questão: qual o lugar do futebol no esporte olímpico?
Para o ex-presidente da Fifa João Havelange, como o professor Giglio demonstra através de trechos de entrevistas e baseado em documentos das duas entidades esportivas envolvidas, a resposta para a pergunta é: fora. Havelange havia sido, de 1956 a 1974, presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), cargo que usou para alavancar sua candidatura à presidência da Fifa, na qual se manteve de 1974 até 1998. Eleito com um projeto de amplas mudanças estruturais, um de seus maiores objetivos era, desde o início, enfraquecer o futebol olímpico para fortalecer o torneio da sua entidade, a Copa do Mundo de Futebol, criada a partir das divergências entre Fifa e COI no final dos anos 1920.
Giglio detalha no artigo as manobras de Havelange ao longo de décadas para alcançar seu objetivo. Embora o futebol se mantenha entre as modalidades disputadas nas Olimpíadas – contrariando o desejo o ex-presidente da Fifa –, por várias vezes o esporte esteve próximo de ser excluído do torneio (chegando a sê-lo, na edição de 1932, em Los Angeles), e a questão sobre seu papel na competição permanece até hoje. O que é claro, nas palavras do professor, é que “a presença do futebol dentro dos jogos olímpicos configurou-se pela disputa de poder entre o COI e a Fifa pelo controle das definições das regras do amadorismo.”
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