De aceitável a condenável, doping atravessa a história das olimpíadas

Até os anos 60, prática era considerada uma “inovação tecnológica” que beneficiaria o esporte

 29/07/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 20/06/2018 as 10:50
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Foto: Reprodução / Revista USP n.108
Foto: Reprodução / Revista USP n.108

A prática do doping é tão antiga quanto os próprios esportes. “Sempre que houver uma competição esportiva com regras, haverá gente procurando encontrar uma interpretação das regras que a beneficie ou simplesmente tentando burlá-las.” É o que afirmam os pesquisadores Marco Bettine de Almeida, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Diego Monteiro Gutierrez, mestrando em Mudança Social e Participação Política da EACH, e Gustavo Luis Gutierrez, da Unicamp, autores do artigo O doping e os Jogos Olímpicos: diferentes dimensões do fenômeno.

Eles citam diversos casos que ocorreram ao longo da história das Olimpíadas, desde o primeiro deles, em 1904, em St. Louis, nos Estados Unidos, até os recentes escândalos envolvendo a Federação Russa de Atletismo, que foi banida por tempo indeterminado de todas as competições internacionais em razão de um esquema de doping com seus atletas. O artigo traz um histórico do uso de substâncias dopantes nas Olimpíadas, mostrando como, com o passar do tempo, a visão da sociedade acerca do tema se modificou.

Além de pontuar ocorrências notórias, o artigo conta a reação da sociedade e da comunidade olímpica à época em que ocorreram. Surpreendentemente, até o final dos anos 1960, o doping não era visto com maus olhos nem era motivo para punições ou perda de medalhas pelos atletas. Era visto como uma inovação tecnológica que poderia melhorar o desempenho atlético acima das possibilidades naturais, e não haveria problemas em usufruir disso.

Com a relação íntima e inevitável entre os jogos olímpicos e a política – desde os nazistas usando seus atletas como exemplo da supremacia ariana até as disputas ferrenhas entre o capitalismo dos Estados Unidos e o socialismo da União Soviética para provar qual sistema era superior através do desempenho nos jogos –, o uso do doping tornou-se generalizado.

Isso não passou livre de consequências. Após acidentes e mortes envolvendo atletas dopados e um novo olhar da sociedade e da comunidade olímpica, buscando a ética no esporte, com o tempo os esforços para conter e proibir a prática aumentaram, até que foi criada a Agência Mundial Antidoping, em 1999.

A sensação de que nunca existiu tanto doping é atribuída pelos autores a essa nova política. “As transformações ocorridas no esporte, o foco no fair play e na saúde dos atletas e o destaque dado à relação entre a prática esportiva e a vida saudável vêm contribuindo para que o doping seja cada vez mais perseguido.”

Os autores do artigo indicam, porém, ainda outra preocupação: “a ‘esportivização’ da sociedade, o fato de o atleta estar sendo elevado à posição de exemplo e líder, todas essas questões envolvem também uma valorização da estética do esportista”. Na busca pelo ideal de ter um corpo atlético (que em certos casos só é possível alcançar através do doping), as pessoas podem se sentir impelidas a adotar a prática, contradizendo todo o discurso da vida saudável através do esporte. “Trata-se de uma questão cujas dimensões e características não são bem conhecidas até agora e exigirão um esforço, não só de pesquisa, mas também das autoridades de saúde pública, no sentido de minimizar seus malefícios à população”, concluem.

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